Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Quando tocou a campainha lá em casa, tia Filoca foi atender, depois de espionar pela janela o visitante de papai.

− Já vai! Aposto que é um daqueles gringos de fala enrolada, não sei como o Rebello aguenta essa gente!

A par da xenofobia de tia Filoca, rabugenta por natureza, o fato é que nós brasileiros babamos mesmo por um estrangeiro. Isto revela nossa boa índole, mas acaba sendo cruel quando o brasuca vai ao exterior. Ninguém baba por nós.

Em Portugal, décadas atrás −antes de esse país entrar na União Europeia− nós éramos tratados a pão de ló, excelência para cá, excelência para lá, mesuras formais bem a gosto dos lusitanos. Esqueça. Depois da invasão de brasileiros, de origem simples, buscando situação melhor de trabalho, mesmo de dentistas numa guerra particular para ser reconhecidos, a situação se inverteu. Eles nos veem com desconfiança, alguns com ódio.

O quadro ficou muito claro com os últimos noticiários pela TV, quando uma portuguesa furiosa mandou uma brasileira voltar para sua terra, dizendo-se portuguesa de raça, arrematando por chamar todos os brasileiros de filhos daquela boa senhora.

Certo é que não representa a maioria, porém o fato é que de um modo geral elas não têm mais simpatia por brasileiros, se é que têm por alguém. Esquecendo-se também do quanto os acolhemos aqui no Brasil, há séculos, com boa vontade, mesmo a ver rapar as nossas riquezas.

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Em outros países a situação não é melhor. Nos EUA, quando você entra numa loja, a vendedora percebe a nossa brasilidade logo e corre, não para lhe atender, mas para vigiar para ver se você não rouba nada.  Não mexe nada aí, viu?

Certa feita quase fui agredido por um desvairado taxista em Nova Iorque porque não percebi logo que tinha de pagar a exorbitante gorjeta de 15%. Não vi simpatia na maioria dos lugares, embora estivesse gastando lá meu dinheiro, às vezes notei desprezo.

Mas apesar disso, gosto dos estrangeiros, −inclusive os portugueses− e nisso puxei meu saudoso pai. Ele tinha amigos de várias nacionalidades, que tinham uma fascinação por ele. Pudera, era tolerante e um excelente papo, muito cativante. Era um tal de russos, italianos, uruguaios, portugueses (achavam que papai era patrício), um entra e sai que irritava tia Filoca:

− Ô Rebello, melhor você abrir um escritório da ONU aqui em casa. Não aguento mais esses sotaques horrorosos, qualquer dia sento uma vassourada na cabeça desses gringos!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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