Tristeza em saber que foi abandonado. Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Eu sempre leio posts no Face e no Instagram de pessoas que mudaram de casa e abandonaram seus pets. Caramba, gente, que falta de amor é essa? Que ser sem coração é esse que consegue sair de uma casa e largar o bichinho sozinho, entregue à própria sorte?

Há muitos anos, aqui na minha rua, na Vila Ema, sempre via um cachorro parado em frente ao portão de uma casa vazia. Pouco tempo depois essa casa foi demolida, outra começou a ser construída, mas ainda assim o cachorrinho estava sempre por lá.

Ele tinha cara de cachorro bem tratado, tinha coleira, mas um olhar triste que não dava para ignorar. Um dia resolvi perguntar para uma vizinha o porquê daquele cachorro ficar sempre ali em frente à casa, se ela o conhecia. Ela me contou que a mulher que morava ali se mudou com os outros dois cachorros e largou ele para trás.

Nossa, nesse momento meu coração chegou a doer de dó daquele cachorrinho. A vizinha continuou contando que ele acabou sendo adotado por uma moça de uma rua próxima, mas toda vez que ele conseguia fugir, era para lá que ele ia.

Coincidência, naquele momento a moça que o adotou estava vindo na nossa direção e gritando o nome do cachorro (que eu não me lembro de jeito nenhum…), mas ele continuava impávido colosso na frente da construção, sem ao menos virar a cabeça na direção dela.

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Curiosa que sou, fui conversar com a moça e ela me disse que desde que adotou o cãozinho não conseguiu tirar dele o sentimento de tristeza. Contou que ele não brincava, não interagia com os outros cachorros que ela tinha, e que, muitas vezes, precisava insistir para que ele comesse. Enfim, pensa num cachorro que era pura tristeza…

Perguntei se sabiam para onde a antiga dona da casa e tutora do cachorro tinha se mudado e disseram que ela tinha saído de madrugada, pois estava devendo alguns aluguéis e parece que esse cachorro estava dando umas voltas no momento da mudança e, quando retornou, não encontrou mais ninguém.

Fiquei imaginando o que esse cachorro deve ter sentido quando voltou do passeio e encontrou a casa vazia. Disseram que ele ficou dias e dias chorando na porta da casa, até que essa moça se compadeceu dele e o resgatou.

Herói

Mas saiba que esse cachorro acabou fazendo história na minha rua.  Certo dia, no começo da noite, saí para passear com o meu cachorro e vi um burburinho numa casa próxima do meu prédio, onde morava o Nick, um poodle branco.

Fui até lá e fiquei sabendo que alguém da casa havia deixado o portão aberto e o danado do Nick tinha fugido. A dona dele chorava muito e os vizinhos resolveram se unir para procurar o cãozinho, inclusive eu. Alguns de carro, outros a pé, cada um para um lado; e lá fomos nós atrás do Nick. Horas depois as pessoas foram retornando e nada do Nick.  Lembro de ter voltado para a casa chateada por não termos achado o cachorrinho.

No outro dia, de manhãzinha, saí com o meu cachorro e já passei na casa do Nick para saber notícias dele e, advinha? Dei de cara com ele todo feliz, abanando o rabo para o meu cachorro, como fazia todos os dias, como se nada tivesse acontecido.

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Fiquei superfeliz e queria detalhes de como ele havia voltado para a casa, quem, afinal, tinha encontrado ele. A dona do cachorro veio me contar que, de madrugada, sem conseguir dormir, ouviu o choro de um cachorro que parecia vir do portão. Pensou que estava delirando, mas ainda assim foi até lá e quase não acreditou no que viu: parado, ao lado do seu poodle estava o cachorro de olhar triste só esperando alguém abrir o portão para que o Nick pudesse entrar.

Ninguém nunca soube exatamente o que aconteceu, mas os vizinhos acreditam que talvez o cachorro triste –que vivia vagando por aí– tenha encontrado o seu amigo poodle perdido e o escoltou de volta até a sua casa.

A última notícia que eu tive do cachorro triste foi de que ele havia sumido. A vizinhança acredita que ele nunca parou de procurar por sua antiga dona e sabe-se lá o que aconteceu em uma dessas suas jornadas.

Dezembro verde

Dói saber que ainda existem pessoas com o coração pequeno, desumanas, que não fazem ideia da dor que causam ao animal que é deixado para trás numa mudança ou levado para ser abandonado em algum lugar.

Aqui em São José dos Campos, por exemplo, existem locais próprios para abandonar cachorros e gatos, por serem quase na zona rural. Protetores são sempre chamados para irem nesses locais socorrer os animaizinhos. O pior é chegar lá e se deparar com filhotes mortos, que não tiveram a sorte de ser encontrados antes da fome.

Só mesmo uma pessoa covarde para abandonar um bichinho indefeso. Foto / Pixabay

O Poder Público poderia fazer alguma coisa em relação a isso? Poderia. Talvez encher de câmeras esses locais –para pegar os assassinos– e fazer também uma campanha imensa, gigante, incentivando a castração dos pets. Mas vamos combinar que as pessoas também poderiam ser mais cristãs e jamais causar dor e sofrimento aos animais, abandonando-os.

Se não quer carregar na mudança, encontre alguém que queira ficar com o animalzinho. Se não quer mais o bichinho, alguém pode querer, não o leve para morrer num lugar distante. Essa é a atitude de um covarde, de alguém que ficou preso lá na época das cavernas, que não tem qualquer sentimento e um pingo de vergonha na cara.

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E agora, chegando as festas de final de ano, quando muitas pessoas vão para a casa de parentes ou viajar para um lugar mais longe, é quando mais se ouve histórias de animais abandonados, largados na rua ou, pior ainda, dentro de suas casas, mas sem comida suficiente.

Por conta dessa triste realidade, que ainda reina em nosso país, é que foi criado o Dezembro Verde, uma forma de conscientizar as pessoas sobre o abandono de animais.

Então, por favor, não seja essa pessoa horrível que abandona. E se souber de alguém que está pensando em fazer isso, não seja a pessoa que só vai apontar o dedo e não fazer nada. Faça, ajude esse ser indefeso que só tem amor para dar e não merece ficar triste pelo resto de sua vida. Papai do céu vai te abençoar, acredite!

Adote

 

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.

 

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