Dia atrás vi um vídeo na internet no qual um cachorrinho brincava com uma borboleta. Deitado no capacho, ele se retorcia dando tapinhas no ar e, às vezes, umas bocadinhas para pegar a borboleta.
Curiosamente ela pousava nas patinhas e na cabeça dele. Até se deixava pegar nas mordidinhas e ele a soltava rapidamente. Um colóquio evidente de pequenas concessões e prazeres mútuos.
Tão improvável quanto maravilhoso foi ver aqueles dois pequenos seres entretidos no exercício de aproveitar a vida, sem razão, sem porquê. O vídeo está aqui, mas termina o texto primeiro, ok? 🙂
Fiquei pensando (tenho mania disso) por que não pode ser assim com a gente também? Encontrar ou criar momentos de entrega total, em meio à rotina acachapante da vida moderna e exigente, pode ser o respiro necessário para nos acrescentar qualidade à existência.
Não estou falando dos hobbies produtivos e criativos como cozinhar, desenhar, escrever ou fazer crochê. Muito menos pintar mandalas em um livro comprado pra isso.
Estou falando de fazer bolinhas de sabão com seu filho, sobrinho ou enteado. E se não os têm, com seu marido, namorada, sozinho. Observá-las flutuando, tentar agarrá-las e não resistir ao sorriso quando elas se desfizerem na palma da sua mão ou ao tocar seu joelho.
Falo de tirar da gaveta o quebra-cabeças esquecido e montar de novo, naquele canto da sala, em silêncio, ao lado da orquídea sem flor.
Vai juntando um pedacinho por dia. Deixa acumular um tantinho de poeira enquanto não termina; tem problema não. É até terapêutico. Quando ficar pronto, tira uma foto e posta em uma rede social, se quiser compartilhar o resultado da obra.
Você também pode apenas colocar sua música preferida para tocar (certeza que você tem uma música preferida e há um bom tempo não pensa nela). Então, como diz a música da Simone, ‘põe pra tocar na vitrola aquele som’ sente-se no chão e fique observando a jiboia que você comprou ano passado na floricultura e agora escorrega silenciosa pela lateral da estante, sonhando em escapar do pequeno vaso que a contém.
Escape você também das amarras dos formatos impostos e viva um ou outro momento sem compromisso, com o mesmo prazer do pequeno cãozinho e a borboleta.
Sem inteligência racional requintada eles têm inteligência emocional aguçada para o que é importante viver. Encontre tempo para isso e conta pra gente como foi. Ou não.
> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.