Foto / Peter Wenzel/Pikist

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O empoderamento da mulher, muito valorizado hoje em dia, no rastro do necessário e furioso movimento feminista, nunca me preocupou. Ao contrário, tenho cá minha visão do assunto e sou solidário com essa luta, embora a encarando algumas vezes de forma não convencional.

Assim é que –caros amigos– não vejo a mulher como sexo frágil, se é que alguém ainda a vê. Se tanto, fragilizada pelo domínio e brutalidade. A mulher, ao reverso, sempre me pareceu forte –senão na frente do homem– e vou provar.

Valendo-me das evidências, aqui e ali −e procurando traçar um perfil científico, bem no molde das séries de TV− observo que, já no Jardim do Éden, a mulher era empoderada. Primeiro, não nasceu do barro, como Adão, mas de uma coisa mais evoluída, da costela do parceiro, ou seja, de um mamífero dito superior.

Segundo, adivinhe quem foi o primeiro humano a falar? A resposta é essa mulher valorosa, a nossa Eva, mãe da humanidade. Está na Bíblia, embora tenha sido um mero papo com uma serpente.

Terceiro, foi a primeira a comer da fruta da Árvore da Vida, que dava acesso ao conhecimento do bem e do mal, portanto tornou-se o primeiro humano inteligente, o que não é pouco. Já o tonto do Adão –depois os homens ficaram mais espertos, é óbvio– comeu dessa fruta proibida sem nenhum questionamento.

Eva −aliás, a primeira esposa e mãe− foi leal ao dar a fruta ao marido, não tendo o egoísmo de ficar inteligente sozinha, sem medo dos castigos posteriores. Pergunta que não quer calar: qual foi a primeira influenciadora (não digital)? A mulher, pois possuía esse poder de influência, tendo sido a primeira pessoa a ter o benefício dessa sabedoria. Tanto que não precisou muito para convencer o marido a comer da maçã proibida.

No caminho oposto de Eva, Adão não foi tão leal assim, nem corajoso o suficiente. Quando o Senhor apertou para saber quem tinha comido a maçã dada pela cobra, o homem mais que depressa entregou a mulher: –– Eu comi, mas foi a Eva quem me deu.

A Eva, mais sábia, jogou a culpa na serpente, alguém fora da família. Como ficou um tanto empolgada, sofreu o castigo maior, além das dores do parto, a criação dos filhos com o suor do rosto; pior: passou para o domínio do homem.

Neste passo é preciso salientar, para os mais sensíveis, que sou cristão e católico, sendo de ver que esses perfis não tangenciam nem a irreverência, muito menos a falta de respeito. Para mim, é sempre Deus acima de tudo; e de todos, é evidente.

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Feita a ressalva, posso concluir que a mulher continuou poderosa, embora submetida ao homem, bastando ver as figuras bíblicas e históricas posteriores. Na Bíblia, dentre outras: Raquel, Débora, Rute e Ester, sem contar com Maria, Nossa Senhora, mãe do Senhor, além de Maria Madalena, a primeira a ver e falar com Jesus ressuscitado.  Na história: Cleópatra, Joana D´Arc, Anita Garibaldi, Maria Quitéria aqui no Brasil, Frida Kahlo, Simone de Beauvoir, Marie Curie, Indira Gandhi, Angela Merkel, entre muitas outras, milhões de mulheres, cientistas, intelectuais, artistas ou literatas, nada perdendo para os homens.

Eu não apenas reconheço essa força da mulher, bem assim o seu valor e equiparação ao homem, como tive ultimamente de sentir na pele o que foi o sofrimento dela sob o jugo de homens, nem sempre dignos disso. Num prosaico trabalho doméstico, de um aposentado ajudando a mulher no lar, experimentei na prática o quanto as mulheres gemeram ao longo dos anos, a executar repetitiva rotina em casa: cozinha, limpeza, filhos e marido. Quando não tiveram −como atualmente− de ir à luta fora de casa para ajudar no orçamento, porém em funções e com salários menores. No final do dia, sempre a voltar e cumprir jornada dupla de trabalho.

Neste momento de minha vida me encontro cercado de mulheres empoderadas, a esposa e a prole feminina, ativas numa doce vingança pelos anos de dominação. Não estou mandando nada!

Desculpe-me interromper aqui: minha mulher está me chamando…

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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