Foto / Arquivo pessoal

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Chegou o frio sem pedir licença, de chofre. Um dia aquele outono com carantonha de verão, de repente, inverno. Um frio chato, insidioso, penetrante. Quando chove tudo piora, uma umidade que entra pelos ossos.

Ruim? Não para todos, há os que festejam o friozinho e odeiam o calor pegajoso, o suor, as noites mal dormidas. Adoram se vestir para um frio que acham o máximo.

Não me filio a essas correntes radicais, como a tia Filoca:

− Eta frio do diabo! Do inferno não, porque lá é muito quente. Deve haver um capeta do frio, esfregando gelo na coluna da gente, jogando água gelada no nosso cangote, congelando nossos narizes, orelhas e pés!

Ah, neste ponto a tia tem razão: pés gelados ninguém merece, é tudo de ruim. Pior é quando a pessoa que compartilha com você o mesmo leito acha que você tem vocação de aquecedor: vai longo querendo se esquentar com aqueles pés de gelo.

O frio bateu à porta? É hora de tirar aquela roupa pesada do armário. É um tal de casacão com cheiro de mofo! Você já teve o desprazer de sentir o cheiro de mofo misturado com perfume enjoativo daquelas velhas senhoras, tudo a recender naftalina? Acho que isso nem existe mais, nem o cheiro, nem a naftalina, nem as velhas senhoras.

APOIO / SUPERBAIRRO

E vamos combinar, roupa de frio é bem mais cara que a de verão, quando todo mundo coloca bermuda, chinelos de dedo, camiseta e sai saracoteando o dia inteiro, feliz da vida. No inverno, ao contrário, é um tal de se vestir em camadas, para poder se desvestir aos poucos, camisetas por baixo, camisas, malhas, jaquetas, meias compridas. Sem falar de cachecóis, boinas e luvas, além das provectas ceroulas.

Isso para quem vai para as montanhas, no exterior ou aqui no Brasil, como a serra gaúcha e a catarinense. Nós de São José dos Campos temos o extremo conforto de sermos vizinhos de Campos do Jordão, notável pelas belezas, fondues e frio.

Aliás, minha mulher planeja uns dias nessa montanha, dita aprazível. Não gostei inicialmente da ideia.

− Campos do Jordão? Aqui já não está frio o suficiente?

Na verdade, pela minha cabeça passaram todos os incômodos, como estrada cheia, compras, narizes escorrendo, gargantas doídas, gentarada para todo o lado, enfim, todas as mazelas desse programa.

− Não é tanto assim, bem.  Você reclama muito e se esquece daquelas noites bem dormidas, debaixo de cobertores quentinhos, em ambientes aquecidos. Aqueles fondues, de queijo e de carne. É um friozinho gostoso numa cidade encantadora. Você bem que gosta! Não é você quem papagueia que frequenta Campos desde 1948?

Resmunguei e saí vencido, com os decisivos votos dos meus netos. Quanto a 1948, de fato passei meu primeiro ano de vida em Campos do Jordão, com minha família. Tenho até foto em frente à igreja do Capivari para comprovar, com chupeta e tudo.

De tanto a família falar, acabei me esquecendo dos contratempos que vêm com o frio, deixei de pensar no chopinho gelado em Ubatuba, onde, de resto, está um gelo e a maré alta.

O que se há de fazer, é o Senhor Inverno no comando!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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