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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O feriadão prolongado de Corpus Christi começa na quinta-feira (8) e vai até domingo (11). Para milhões de brasileiros, isto significa uma coisa: é hora de sair de casa e viajar. Para perto ou longe, não importa, mas tem gente que não consegue resistir à tentação de pegar a estrada ou subir em um avião.

Estava pensando no feriado e veio à minha memória a grande quantidade de amigos e conhecidos que neste momento estão fora da cidade, seja por alguns dias, seja por mais de um mês, o que já extrapola qualquer ideia de feriado. Como a maioria dos meus amigos está próximo ou acima da faixa dos 60 anos, tempo é uma coisa que não falta.

Outro dia, eu estava “dando um rolê” no Facebook e vi a foto de uma amiga da família desembarcado em São Paulo, vinda de Goiânia, onde mora atualmente. Comentei com minha mulher: “A Fulana deve estar vindo para São José”. A resposta foi: “Não sei de nada, ela não avisou”.

Dois dias depois, em outro passeio pelo Facebook, vejo nossa amiga uniformizada, com uma espécie de cajado nas mãos, iniciando o percurso do Caminho de Santiago, na Espanha, que iria levá-la até a cidade de Compostela. Pensei: “Que danada, sai de Goiânia e de repente está lá na Espanha…”

Por coincidência, também via redes sociais, encontrei um antigo conhecido, hoje morando em São Paulo, fazendo o mesmo caminho junto com a mulher. Então percebi que, hoje em dia, viajar é a coisa mais natural do mundo. Bem diferente de quando eu era mais novo, quando uma aventura dessas consumia muitas economias, exigia um longo planejamento e mexia com os nervos de qualquer um.

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Neste momento, tenho dois casais de amigos que, junto com outro amigo solo, estão descobrindo –ou redescobrindo– a Europa. Eles saem de um país e entram em outro com a naturalidade de quem sai da paulista Queluz para entrar na fluminense Resende. Aterrissaram em Portugal e dois ou três dias depois já estavam na espanhola Toledo, uma joia do patrimônio histórico e arquitetônico da Idade Média.

Só Deus sabe por quantos países o grupo de brazucas vai passar, mas tempo eles terão quase de sobra. Enquanto um primeiro casal viajou antes e vai completar cerca de dois meses no velho continente, os outros três integrantes viajaram depois, mas terão um mês fora do Brasil. Dá quase para esquecer como se fala português…

Tudo bem, eu sei que uma viagem ao exterior, embora seja muito mais econômica atualmente do que já foi no passado, mesmo assim exige uma certa folga nas contas. Mas aí entra também um outro sinal da modernidade. Hoje, se você tiver um bom planejamento, vai conseguir voos a preços muito abaixo da tabela, não vai gastar uma fortuna em hotéis porque os airbnbs da vida estão espalhados pelo mundo inteiro e, inclusive, vai poder cozinhar sua própria comida comprando os ingredientes em supermercados.

Além disso, viajante moderno que se preza não volta para casa cheio das bugigangas dos turistas de antigamente. Compram pouco porque o verdadeiro prazer é a própria viagem, conhecer novos lugares, rever lugares por onde já passaram. Comprar é coisa de consumista.

Mas voltemos ao feriadão. Os quatro dias, ou um pouco mais se o turista puder “enforcar” mais um ou dois dias, são ideais para uma viagem para algum destino no próprio Brasil. É o que fez um casal de vizinhos meus, que zarpou para um resort na Bahia. Na segunda ou terça-feira, estarão de volta um pouco mais leves, mais felizes e, com certeza, planejando a próxima escapada.

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E eu? Para onde vou? Pobre de mim, acho que não consegui pegar o espírito da coisa e não evoluí para o jeito moderno de viajar. Fiquei na velha acomodação de adiar eternamente as viagens dos sonhos. Pior é que a tentação de usar piadinhas de tiozão nessas horas é quase irresistível: “Desta vez vou pra Paris… Parisbuna!” –e outras bobagens do gênero.

Mas nessa vida existe jeito para tudo, “menos para a morte” –mais uma tirada de tiozão. Até para um sedentário do turismo como eu, é possível conhecer lugares, pessoas, comidas, histórias e costumes. E não existe nada mais moderno que a solução encontrada por mim.

Explico: de uns tempos para cá, passei a acompanhar no YouTube as fascinantes aventuras de uma galera a cada dia mais numerosa: os viajantes que resolveram vender tudo para investir em uma van, um ônibus, uma kombi ou até em uma moto para satisfazer o desejo de conhecer novos lugares.

Já estou praticamente íntimo de casais que têm canais com nomes do tipo “Viajo Porque Preciso”, Vibe de Dois”, “Henriqueta Vai”, “Sobre Rotas”, ou solitários como “Crônicas de Viageiro” e “Diário de Motochileiro”. Confesso que são as minhas “novelas”, que acompanho todas as noites pelo celular antes de dormir.

Junto com essa turma, conheci boa parte da Argentina, cheguei a Ushuaia, a cidade mais ao sul do continente, subi pela Cordilheira dos Andes passando por Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia etc., em um roteiro cujo objetivo é, depois de cruzar México, Estados Unidos e Canadá, fincar mais uma bandeirinha brasileira lá no Alasca.

Outros dois casais, que podem ser seguidos nos canais “Vou Sem Volta” e “Mundo Sem Fim”, perambulam pelo mundo inteiro como se saíssem de Eugênio de Melo e entrassem em Caçapava. Nos últimos dois ou três meses, o casal do “Vou Sem Volta” desvendou mistérios da Índia, Paquistão, Egito, Líbano, Iraque, Irã, entre outros lugares quase desconhecidos de nós brasileiros.

Se a grana está curta, se o tempo é escasso, faça viagens curtas ou conheça lugares interessantes até na sua cidade. Mas, se quiser alçar voos maiores e não der para fazer isso de modo presencial –que é o ideal, concordo–, não seja tímido: siga os aventureiros e faça turismo virtual.

E deixa o povo falar…

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

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