Desde que o mundo é mundo o ser humano gosta de saber as novidades. Para isso foi inventada a imprensa, ainda na Idade Média. Seu nascimento é datado por volta do ano de 1430, quando o alemão Johann Gutenberg criou um sistema de impressão utilizando uma prensa e tipos móveis para compor os textos.
Mas aí estamos falando da imprensa escrita. Se a gente considerar que toda informação repassada com o objetivo de torná-la conhecida por outras pessoas é uma forma de imprensa, pode-se dizer que a imprensa falada começou lá nos primórdios das civilizações humanas.
O progresso foi sofisticando o ato de se comunicar, trazendo novas tecnologias, ferramentas e técnicas para as pessoas ficarem mais bem-informadas, com maior rapidez e precisão. Uma das maiores inovações neste campo surgiu, segundo alguns autores, por volta de 1860 em um jornal da cidade de Nova York (EUA).
A inovação foi a pirâmide invertida, que nada mais é, até hoje, que a publicação da notícia, primeiramente, com o que é mais importante que o leitor/ouvinte/telespectador saiba. Na sequência, vão sendo colocadas respectivamente as informações menos importantes.
Para o uso da técnica da pirâmide invertida, surgiu, ao mesmo tempo, o “lead”, uma série de perguntas que o produtor da notícia deve responder para que o público seja bem-informado. As perguntas básicas são: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê? Ou seja, exatamente o misterioso título desta crônica.
O que eu quero dizer é que não importa se a comunicação evoluiu da forma oral para a prensa de Gutemberg, para os jornais e revistas, o rádio, a televisão e, agora, as mídias digitais: a imprensa continua tendo de responder as seis perguntas que formam o “lead”.
O problema é que, nos dias atuais, não adianta uma notícia conter as respostas para as perguntas do “lead”. Já percebeu que quando a notícia é publicada nos sites dos veículos de comunicação, ou em suas plataformas no Facebook, Instagram, X, WhatsApp etc., boa parte do público parece não se sentir informada o suficiente?
Aí voltamos às perguntas dos internautas no espaço reservado aos comentários. “Onde foi isso?”, Não sabia, como foi?”, “Onde fica isso?” –e por aí vai. O curioso é que, normalmente, todas essas perguntas já estão respondidas no texto.
Então, qual é a conclusão a que chegamos? Elementar, meu caro Watson: muita gente não lê mais os textos e prefere “alugar” os outros com perguntinhas fora de hora e lugar. Isto é muito preocupante. Explico: menos leitura, menor compreensão dos textos, menor acesso ao que está acontecendo… Isso costuma terminar em uma legião cada vez maior de seres humanos ignorantes.
Deixo claro que o termo ignorância não é um xingamento, uma ofensa. O Google ajuda a me fazer entender. Ignorância é: “1 – Qualidade ou condição de quem é ignorante; 2 – Estado daquele a quem falta conhecimento, saber ou instrução; 3 – Ausência de conhecimento em relação a um domínio específico; 4 – Condição de quem é ingênuo ou crédulo; simplicidade, singeleza”.
É mais ou menos o seguinte. O sujeito vê a notícia sobre uma nova vacina, lê o título, vê a foto ou um videozinho e acha que já está tudo bem. E sai por aí “comentando” o título, mas sem saber nada sobre o conteúdo da informação. Resumindo: não leu/assistiu/ouviu a notícia, mas acha que está tudo bem.
O problema já podia ser observado na imprensa tradicional, mas se agravou enormemente com as redes sociais. E a gente que produz informação se depara muito frequentemente com esse comportamento. Por exemplo, outro dia, depois de publicar um texto no site do SuperBairro, na página e grupo do Facebook e no perfil do Instagram, compartilhei o link nos perfis de conhecidos meus no WhatsApp que poderiam ter interesse naquele texto.
– Belo texto, Wagnão! Muito bom, gostei mesmo! – foi mais ou menos o comentário de um colega.
Tudo muito bom se o compartilhamento não tivesse sido publicado, digamos, às 14h, e ele não tivesse feito o elogio às 14h02. O detalhe é que a leitura do texto consumiria uns 8 minutos. Percebeu? O cara não leu.
Há cerca de uma semana, a prática de perguntar o que já está no texto voltou a me chamar a atenção. A reportagem do SuperBairro tinha 1.187 palavras contendo a “história” completa do problema, queixas de moradores, resposta da Prefeitura, enfim, tudo. E aí um seguidor pergunta nos comentários:
– Onde???? Nem vi.
Quer saber onde? Ora, amigo, clique com o dedinho no link do texto e, graças à pirâmide invertida e ao “lead” citados acima, você vai saber rapidamente o que aconteceu.
Será tão difícil isso? Vamos ler, minha gente…
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.
*Texto atualizado às 16h05 do dia 2/8/2024, após revisão ortográfica e de estilo.
**Texto atualizado às 8h59 para correção no título e texto com a inclusão de “Quem?” entre as perguntas que compõem o “lead” jornalístico.