Você já deve ter lido ou ouvido que o cruzamento entre animais consanguíneos pode trazer uma série de problemas de saúde para os filhotes que nascem desse acasalamento. Mas o que talvez você não saiba é que, há anos, algumas raças de cães vivem toda a sua vida em extremo sofrimento por conta dessa situação e também pela mistura que os criadores fazem entre as raças no intuito de encontrar atrativos que agradem ao gosto do freguês humano.
Pois bem, foi com base nisso que, no mês passado, em meio a muita repercussão, a Noruega tomou uma decisão inédita: proibir a criação do buldogue inglês e do cavalier king, para desespero de alguns criadores e alegria dos militantes da causa animal.
O que levou a Noruega a deliberar de forma mais drástica sobre esse assunto é o sofrimento pelo qual esses animais passam durante toda a sua vida em função das inúmeras doenças hereditárias por conta da consanguinidade. No caso do buldogue inglês, ele acumula dificuldades respiratórias por causa de seu focinho achatado, além de problemas dermatológicos, reprodutivos e ortopédicos.
Além disso, os números apontam que mais da metade dos buldogues ingleses nascidos naquele país nos últimos 10 anos foi por cesárea, já que as fêmeas dessa raça, geneticamente, se tornaram incapazes de parir naturalmente. Aliás, este foi o ponto principal que fez o tribunal de Oslo deliberar pelo fim da criação dessa raça.
Já os cães da raça cavalier king foram proibidos por terem um crânio muito pequeno e sofrerem com fortes dores de cabeça, além de insuficiência cardíaca e problemas oftalmológicos.
E pra você que não entende nada de raças de cachorros, mas gostaria de saber de quais exatamente eu estou falando, vou apelar para os desenhos animados. O cachorro da raça buldogue inglês é aquele que aparece no desenho do Tom e Jerry, o Spike. Tem um porte troncudo, focinho bem achatado, cara de malvado, apesar de ser muito dócil. E o cavalier king é representado pela “Dama” no famoso desenho animado “A Dama e o Vagabundo”.
Tem mais…
E não são só os cães dessas raças que sofrem simplesmente por existir. Outros também passam por essa situação, como pug, buldogue francês, box terrier e boxer, todos braquicefálicos, ou seja, cabeça em formato achatado e focinhos curtinhos. De perfil, alguns sequer possuem focinho, de tão curto.
O que os veterinários explicam é que todas essas raças têm o palato mole alongado, o que significa que, na maioria, isso causa um imenso desconforto para –simplesmente– respirar. Em alguns casos eles podem roncar, ter falta de ar, desmaios e problemas nos olhos.
O pug é um dos que mais sofre com isso. Recentemente, uma radiografia do crânio de um pug viralizou nas redes sociais por mostrar a desarmonia do crânio do animal, olhos, boca e nariz. Na verdade, a radiografia só comprovou o quanto eles sofrem apenas para respirar.
Mas nem sempre –ou nunca– a pessoa pensa nisso ao adquirir um animal de uma dessas raças. O que importa mesmo é que eles sejam fofinhos, engraçadinhos. E às vezes, de tão fofinhos que são, acabam virando moda, como é o caso do buldogue francês, representado aqui no Brasil pela influenciadora digital Kiliquinha, que as crianças amam de paixão e, por isso mesmo, várias e várias pessoas resolveram comprar um cachorrinho dessa raça.
Já o pug é um velho conhecido, principalmente de quem já passou dos 60. Ele é aquele cachorrinho esperto que ajudava a resolver os mistérios no famoso desenho Jota Quest (sim, existiu um desenho com esse nome, muito antes da banda). Os mais novos podem recorrer ao filme “MIB – Homens de Preto” para se lembrarem da carinha do pug. Ele é o Frank, personagem importante nesse filme.
E se você ficou curioso para saber o preço dessas raças, eu passo já: buldog inglês ou francês custa de R$ 3 mil a R$ 8 mil; o pug varia de R$ 2,5 mil a R$ 5 mil; o boxer vai de R$ 2 mil a 6 mil; e o cavalier king, de R$ 1,2 mil a R$ 5 mil. Essa variação tem relação com os ancestrais e heranças genéticas dos animais.
Eu já disse aqui que não sou contra comprar um animal de raça –desde que a pessoa saiba exatamente sua procedência–, mas convenhamos que se ela sabe que o animal passa toda a sua vida em sofrimento, chega a ser desumano adquirir um bichinho de uma dessas raças.
Portanto, fez muito bem a Noruega em proibir a criação de pelo menos duas delas. Apesar da gritaria dos criadores, temos que ter consciência de que não dá mais para criar animais que, por sua própria estrutura física, vivem em sofrimento desde o nascimento. Isso vai totalmente contra as leis de proteção aos animais. Ou não? O que você acha?
Adote
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.