Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Oi bem, o Natal já está aí: nesta semana começa dezembro.

Minha mulher não só me avisou, mas já decorou a casa ainda em novembro, colocando seus belos enfeites natalinos, com direito a uma suntuosa árvore, Papai Noel pendurado na corda, luzinhas mil, entre outros efeitos que nos remetem ao bom velhinho do refrigerante. A moda, dos EUA, se espalhou para o mundo, inclusive para estes trópicos superquentes! Mas, enfim, já é da nossa tradição, confesso que gosto.

O importante é vender os enfeites, largamente importados, antes dos americanos, agora da China. Nada a estranhar, quando Dom João VI abriu os portos às nações amigas –leia-se Inglaterra–, passamos a receber uma série de produtos que aqui não chegavam antes. Inclusive patins e luvas de frio, isto no início do século 19. Os cariocas não sabiam bem o que fazer com eles.

Quando ouvi minha mulher, que evidentemente estava pensando nas festas de fim de ano e nas férias, meu pensamento vagou pesaroso por outros caminhos. A gastança começou, meu orçamento vai estourar. É um tal de comprar presentes –o meu, já avisei: quero só um par de meias. Além dos mimos tem a matrícula de escolas e os gastos extorsivos de janeiro, como IPTU, IPVA etc.

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O mesmo senti, outro ano, quando havia deixado a barba branca crescer e ouvi de um conhecido na rua:

− Ei, Zé. Vai sair de Papai Noel este ano? Cadê meu presente?

Escutei o sujeito gozador e dei um sorrisinho amarelo. Quase respondi para o estafermo bem ao estilo de tia Filoca:

− Pra você vou trazer um saco de carvão, bem úmido, retardado!

Contudo, minha educação não me permitiu ser malcriado. Mas isso é que dá substituir o verdadeiro sentido do Natal, que significa a renovação em nós dos princípios cristãos, por um sistema puramente materialista e enganoso, senão cruel.

Sim, o mito do Papai Noel, que seria São Nicolau −nada a ver com o velhinho de barbas brancas da Coca-Cola− chega a ser impiedoso, sobretudo num país de tanta pobreza, no qual a maciça maioria das crianças não recebe presente nenhum.

Outro dia, fiquei consternado ao ver um vídeo no Youtube, de um rapaz de aparência humilde, confrontando o bom velhinho, certamente depois de viver anos de carência. Seria cômico –não fosse trágico− o moço cara a cara com o boneco do Papai Noel, desses grandes que ficam na frente das lojas e fazem pequenos movimentos, reclamando revoltado:

− Você nunca me deu nada, você nunca me deu porra nenhuma, onde você existe?  Você fica enganando todos aí! – E terminou dando uma cabeçada no boneco impassível. Mais um menino desapontado.

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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