Giovanni Papini
Não nos deve surpreender que,
a maior parte das vezes,
os imbecis triunfem mais no mundo
do que os grandes talentos.
Enquanto estes têm, por vezes,
de lutar contra si próprios e,
como se isso não bastasse,
contra todos os medíocres
que detestam toda e qualquer
forma de superioridade,
o imbecil, onde quer que vá,
encontra-se entre os seus pares,
entre companheiros e irmãos
e é, por espírito de corpo instintivo,
ajudado e protegido.
O estúpido só profere
pensamentos vulgares de forma comum,
pelo que é imediatamente entendido
e aprovado por todos,
ao passo que o gênio tem o vício terrível
de se contrapor às opiniões dominantes
e querer subverter, juntamente com o pensamento,
a vida da maioria dos outros.
Isto explica por que as obras escritas e realizadas
pelos imbecis são tão abundantes
e solicitamente louvadas –
os juízes são, quase na totalidade, do mesmo nível e
dos mesmos gostos,
pelo que aprovam com entusiasmo
as ideias e paixões medíocres,
expressas por alguém um pouco menos medíocre do que eles.
Este favor quase universal
que acolhe os frutos da imbecilidade instruída e temerária
aumenta a sua já copiosa felicidade.
A obra do grande, ao invés,
só pode ser entendida e admirada pelos seus pares,
que são, em todas as gerações,
muito poucos, e apenas com o tempo
esses poucos conseguem impô-la à apreciação
idiota e ovina da maioria.
A maior vitória dos néscios consiste em obrigar,
com certa frequência, os sábios a atuar e falar deles,
quer para levar uma vida mais calma,
quer para a salvar nos dias da epidemia aguda
da loucura universal.
Giovanni Papini foi um escritor italiano. Inicialmente cético, passou a católico fervoroso. Sua obra “O Diabo” foi tema de grandes discussões e controvérsias. A crítica europeia é de opinião que sua melhor obra é “Gog”, uma coletânea de contos filosóficos escritos num estilo satírico. “O Triunfo dos Imbecis” foi extraído do livro “Relatório Sobre os Homens”. Papini nasceu no dia 9 de janeiro de 1881, em Florença (Itália), e morreu em 8 de julho de 1956, na mesma cidade. Fonte: Wikipédia
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.