Engana-se quem pensa que só os cachorrinhos e gatinhos fofinhos fazem sucesso como animais de estimação. Sinceramente, eu que faço parte de vários grupos e sigo outros tantos nas redes sociais, fico impressionada com a capacidade que as pessoas têm de amar e se dedicar ao seu bicho de estimação mesmo ele sendo –digamos– fora dos padrões, como cabritos, bodes, araras, sapos e até mesmo cobras.
Em um dos grupos que sigo, Bruna Magalhães faz sucesso postando fotos do seu querido Sylasssss (com “s” sibilante), uma jiboia Arco-íris da Caatinga, com mais de metro e meio, que duas semanas atrás deu um baita susto não só em sua tutora, mas em todos os moradores do prédio onde mora, no bairro de Perdizes, em São Paulo.
Acontece que Sylas desapareceu. Não estava em seu terrário ou em qualquer parte do apartamento, que foi vasculhado por Bruna dezenas de vezes. Com medo de acontecer algo, Bruna resolveu postar no grupo de moradores que o seu bichinho de estimação havia sumido.
A reação, claro, não foi das melhores. Algumas pessoas que conheciam o Sylas estavam torcendo para que tudo terminasse bem, mas a maioria caiu matando em cima da Bruna, falando de sua irresponsabilidade em criar um bicho como aquele num apartamento e ainda por cima deixá-lo escapar. Foram seis dias procurando o Sylas por tudo quando era canto. Até recompensa a Bruna ofereceu e pediu encarecidamente para que não matassem a cobra caso a encontrassem.
Sylas, na verdade, sequer tinha saído do apartamento. Foi encontrado todo enrolado dentro do forno do fogão pela própria Bruna, para sua alegria e alívio dos moradores do prédio.
O desaparecimento de Sylas foi notícia em tudo quanto é mídia e Bruna passou todo o tempo dando explicações e apostando que nada de pior aconteceria, pois Sylas tem mais dois irmãos, o pitbull Froid e o gato preto Yank, e ela jura que nunca aconteceu nada entre eles.
Em sua página no Facebook, Bruna diz que a sua missão na Terra é “melhorar as desinformações” sobre alguns animais e afirma que o preconceito é algo que seus três bichos de estimação têm em comum, já que as pessoas dizem que a cobra é traiçoeira e poderá, um dia, engolir a dona; que o gato preto dá azar e que o pitbull é a raça mais agressiva que existe.
Meia-noite
Pois é, além do ser humano ser um poço de preconceito, também é rápido no julgamento. Na verdade, o único sentimento que existe entre esses seres é o amor, que o diga o bode Meia-noite e Silvana Cordeiro, moradora da cidade de Caraguatatuba.
Muitos devem se lembrar dessa história. O bode fugiu do abate e foi parar no banheiro da casa de Silvana. No dia seguinte, ela saiu à procura do dono do bode e ficou sabendo que o bichinho seria sacrificado. Morrendo de dó, acabou negociando com o homem e entregando todas as economias que estava juntando para comprar uma peruca, já que estava fazendo um tratamento contra o câncer.
Isso aconteceu em 2019, quando Silvana estava do lado de fora de sua casa esperando o filho voltar da faculdade. O bode, então com sete meses, aproveitou o portão aberto e entrou sorrateiramente. Foi batizado de Meia-noite por conta do horário em que foi encontrado no banheiro.
Meia-noite cresceu, ficou lindo e atualmente leva uma vida de rei. Tem páginas no Facebook e no Instagram e é um grude com Silvana, sua salvadora.
Quem é capaz de explicar esses amores? Quem determinou que somente os animais fofinhos deveriam ser criados como sendo de estimação? Até onde eu sei, isso não está escrito em lugar nenhum, portanto amar, como eu disse uma vez, é verbo transitivo direto, ele precisa de algo, alguém ou um bicho para existir. Portanto, ame mais e se preocupe menos com a vida dos outros.
Adote
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.