Padre João, na missa, apresentando Bianca para adoção. Foto / Netflix/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Tem uma charada antiga –e bobinha– que pergunta assim: sabe por que o cachorro entra na igreja? Resposta: porque a porta está aberta.

E agora eu vou complementar essa charada com uma outra. Sabe como o cachorro sai da igreja? Sim, também pela porta, mas adotado, com uma família, um lar e muito amor e carinho.

Pelo menos é isso o que acontece na Paróquia de Santana, na cidade de Gravatá, Agreste de Pernambuco.

Isso porque o padre João Paulo Araújo Gomes, de 51 anos, simplesmente usa o altar da igreja para, ao final de cada missa, apresentar à comunidade os cachorros resgatados da rua ou que sofreram maus tratos e que estão à procura de um lar.

A história do padre João Paulo é tão bonita e comovente que foi parar sabe onde? Na Netflix. Isso mesmo, na maior plataforma de streaming do mundo.

A série “Apenas Cães”, que está na segunda temporada e relata histórias emocionantes sobre a ligação entre os cães e seus donos, escolheu –entre tantas e tantas histórias do mundo todo– a do padre João Paulo.

O episódio, que fala sobre o incrível trabalho do padre desde que ele botou os pés em Gravatá, leva o título de “Protetores”, é o último episódio da segunda temporada da série e já está disponível na plataforma.

Você quer saber se eu assisti? Sim, assisti. E confesso que me emocionei com o imenso amor desse padre com os animais de rua.

Em alguns momentos chorei, porque não é sempre que a gente vê um padre beijando a pata de um cachorro para acalmá-lo na hora de ser medicado, ou deitando-se ao lado de uma cachorrinha paralítica, ou chorando compulsivamente enquanto conta a triste história de um de seus adotados.

E vou parar por aqui, para não dar spoiler. O que posso garantir é que vale muito a pena assistir.

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Do altar para um lar

Padre João Paulo diz que não foi ele quem escolheu esse trabalho, mas foram os animais que o escolheram. Isso porque, assim que chegou em Gravatá, em 2013, para assumir a paróquia, percebeu que havia muitos animais na rua e –como em todo o país– nenhuma política pública para combater o problema.

Aos poucos foi se envolvendo na causa animal e quando percebeu já estava de corpo e alma ajudando os bichinhos, contando com a parceria do veterinário Lucas Silveira e daquela que se tornou seu “braço direito”, a professora Maria Lindomar Barbosa.

Como todo bom protetor, padre João Paulo tem cinco cachorros adotados que vivem com ele na casa paroquial: Mel, Galego, Esmeralda, Cecília (que tem as patas traseiras paralisadas) e Bianca (uma idosinha surda). Prepare o lencinho para ouvir o padre contando as histórias de Cecília e Bianca.

Adotados, Galego e Esmeralda vivem com o padre e mais três irmãos peludos. Foto / Padre João Paulo/Facebook

Claro que esse trabalho do padre não agrada a todos, o que não é novidade. Muitos acham que ele deveria cuidar das pessoas e nem tanto dos animais.

Mas tem uma fala do padre no início do episódio que diz muito sobre isso: “Tudo está interligado. Eles são um pedaço da gente”. E um pouco mais pra frente ele diz o seguinte: “Nós temos que ter a capacidade de sentir e provar a nossa compaixão”.

E só pra constar, o padre não cuida só dos animais, ele é engajado em mais 18 obras assistenciais na cidade de Gravatá.

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Altares de amor

Realmente, é impossível que um ser humano não sinta compaixão por um animal que está em sofrimento. Ele pode não gostar de ter um animal em casa, até aí tudo bem. Mas não se compadecer pelos animaizinhos que sofrem, é sinal de que há algo de muito errado com a sua alma.

E um padre, na maioria das vezes, tem uma alma que é capaz de amar muito. É por isso que as redes sociais estão cheias de vídeos e fotos de cachorros brincando com as batinas dos padres, outros sendo abençoados (porque chegaram na hora exata da benção) e outros participando ativamente da missa.

Na cidade de Angra dos Reis, por exemplo, no Rio de Janeiro, quem acompanha as missas do frei Petrônio de Miranda já se acostumou a ver Zeus, um vira-lata atentado, brincando com a sua batina durante toda a missa, ou simplesmente dormindo ao seu lado. E Zeus é conhecido na comunidade como “o cachorro do padre”.

Frei Petrônio e o “atentado” Zeus durante uma missa. Foto / Frei Petrônio de Miranda/Facebook

Já na cidade de Torreón Coahuila, no México, o sacerdote Gerardo Garcia, iniciou a celebração de uma missa pedindo desculpas aos presentes por estar com o seu cachorro no colo e explicou: “O meu cachorrinho está muito doente e por isso não pude deixá-lo sozinho, me desculpem”.

O sacerdote Gerardo Garcia com seu cãozinho doente no colo. Foto / @tupelirosafav/Twitter

É isso aí, que cada vez mais padres e pastores –e quem mais chegar– se interessem e se dediquem à causa animal. Porque nós sabemos que, no fundo, no fundo, o trabalho vai muito além de dar um lar a um cãozinho de rua.

Essa atitude pode despertar um amor que até então estava represado, ou fazer com que a pessoa se livre de um sentimento de sofrimento, ou fazer com que alguém volte a ter prazer em viver.

Pode acreditar, um animal de estimação é capaz de operar verdadeiros milagres nas pessoas. Os padres que o digam!

 

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.