Foto / Instagram/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Não se iluda, Zezinho. Daqui a uns anos ninguém vai saber quem é essa cantora badalada, de lábios inflados, harmonização fácil e tsunami de marketing pela mídia. Essa tal de Anitta. Famosa agora, esquecida amanhã. É a vida!

Tive de concordar com a sempre atenta tia Filoca. O que tem de celebridades, sobretudo na televisão, não é brincadeira. Mulheres que tornam a profissão de médico cirurgião plástico altamente rendosa pululam. E a fama vem por qualquer circunstância, às vezes prosaica: uma música medíocre que bombou, uma ponta na novela, a vitória num desses abomináveis reality shows, até a prática de crime.

Elas –e eles também– acham que a notoriedade dura, para sempre. Que nada, ledo engano. Alguns ficam famosos nem por um ano. Outros ainda têm a fama prolongada, mas o tempo é implacável, sobretudo para os medíocres. Mas não só para eles.

Não é assim? Pergunto aos de mais de mais de sessenta ou setenta anos se alguém se lembra de uma boa cantora da década de 1950 chamada Elza Laranjeira? Ou de um cantor popular na mesma época, o Almir Ribeiro? Ou o excelente Carlos José? Quem se recorda mesmo do talentoso Orlandivo dos anos 1960? Acredito que ninguém ou muito pouca gente.

Anittas, Jojôs, Mc Mixurucas, Whindersons, Tatás, Maísas, Marissas, Camilas ou Babis, ainda que talentosos possam ser, não resistirão à passagem do tempo. Além de cantores, tem os tais de influencers, que não descobri ainda exatamente para o que servem. Certamente não merecerão nem um rodapé.

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No esporte, principalmente no futebol, centenas de jogadores que ganharam fama em décadas passadas hoje não são lembrados, a não ser por alguns renitentes torcedores. Aos amantes do chamado esporte bretão: quem se lembra de um campeão do mundo chamado Moacir?

Pensando bem, ser uma celebridade não pode ser mesmo o objetivo de ninguém de boa formação. Ela quanto muito é mera consequência do desempenho meritório da pessoa. Não nos esqueçamos de que a péssima conduta, por outro lado, como uma vida criminosa, também torna a pessoa amplamente conhecida, mas aí não há valor algum. A notoriedade em si não tem nenhum significado.

Não há quem nunca pensou em algum momento em ser um dia famoso, reconhecido nas ruas, festejado por todos. Talvez faça parte daquele instinto primordial de poder, de sobrevivência.  Não é por isso que tornar-se famoso seja essencial, como a maioria percebe. Não é mesmo.

A tia Filoca, incansável fiscal dos ambiciosos, policia a sua vizinhança e espeta:

− Aquela espevitada filha do dono do açougue acredita que já é famosa, pois ganhou um prêmio desses de televisão e sua figura apareceu por um tempo. Depois disso incrementou seu guarda-roupa e já pensa em ser atriz de novela. Coitada, não vão dar pra ela nem uma vassoura…

É, tia, mas o sonho de ser famoso esconde no mais das vezes um desejo de deixar a pobreza. Mera ilusão, o duro é quando o sonhador cai na real.

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.