Foto / Claudio Vieira/PMSJC

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O ano de 2021, para mim, foi um daqueles que eu achei que não terminaria, que eu é que terminaria antes dele. Muitos desafios. Tive que conviver com uma “não renda” desde o primeiro dia do ano; contraí covid-19 em março; vinha da recuperação e acompanhamento de uma cirurgia importante que sofri em 2020, o tempo todo preocupado com a covid por causa da minha mãe e minha sogra, as duas acima dos 80 anos. Que ano…

Mas também, ao mesmo tempo e por incrível que pareça, não pude reclamar de 2021. Tive a solidariedade da minha família e uma mesada vinda da pensão da minha heroica velhinha; consegui a proeza de lançar o SuperBairro, em 23 de março, com um formato que agradou em cheio a quem o tem conhecido a partir de então; consegui me manter saudável emocionalmente; e, terminado o ano, minha família não teve vítimas fatais da pandemia.

Como se costuma dizer, “vão-se os anéis, mas ficam os dedos”. Mesmo com todas as dificuldades, estou me mantendo. Mas como também se diz por aí, “não existe almoço grátis”. Tenho tido que pagar um preço por esses imprevistos de 2021. Um deles é a perda do plano de saúde, o meu e o da minha mulher, mantendo-o para o restante da família.

Desde que me entendo por adulto, nunca deixei de ter plano de saúde. Cheguei a ter, nos bons tempos, o tal “Sul América múltipla escolha com reembolso”. Se eu não queria um médico conveniado, podia me consultar com o médico particular da minha preferência, pagar a consulta e, dias depois, receber um cheque da Sul América me reembolsando pela consulta.

À medida que os planos foram ficando mais caros, também fiquei mais modesto nos meus planos, mas nunca nenhum me deixou na mão. E agora, o que fazer? SUS? Sim, o velho Sistema Único de Saúde, o SUS.

Refiz a minha carteirinha, que usava para vacinas e estava vencida, e marquei uma consulta. Foi marcada para o dia 28 de dezembro último. Tudo bem, pobre não viaja mesmo… E fui, entre curioso e temeroso, enfrentar a “fera” da saúde pública.

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Que surpresa boa!

Para não tomar demais o seu tempo, vou relatar aqui, rapidamente, como foi o meu primeiro dia de consulta no SUS, ali na Unidade Básica de Saúde (UBS) Centro II, no Jardim Nova América.

– Consulta marcada para as 13h30. Salão praticamente vazio, chamadas por um monitor na parede. Sou chamado às 14h05. Subo até o primeiro andar, entro na sala, me sento e já tento começar a falar rapidamente o que eu queria, sabendo que, no SUS, o tempo é curto.

– Que nada. O médico, muito calmo, me pergunta: “O que trouxe o senhor aqui?” Fui falando pausadamente, ele ouvindo, perguntando mais, explicando, orientando. Acredite: a consulta só terminou quase 20 minutos depois. Foi uma das consultas mais detalhadas da minha vida.

– O médico orientou e receitou medicamentos para a garganta inflamadíssima que eu levei até ele; receitou os meus medicamentos de uso contínuo; requisitou cerca de 10 exames laboratoriais que compõem uma espécie de check-up, perguntando se eu preferia fazer os exames o mais rapidamente possível ou não; fez o meu encaminhamento para um programa que tem a ver com a cirurgia a que eu fui submetido em 2020; me orientou para procurar a enfermeira responsável no térreo e também me disse para passar na farmácia, que fica nos fundos da UBS, porque ela deveria ter alguns medicamentos da minha receita. E ainda concluiu assim: “Mais alguma coisa em que eu posso ajudar?” Saí de lá imaginando: “Só pode ser pegadinha do Malandro…”

– Fui muito bem atendido pela enfermeira e, na sequência, já na farmácia, eu parecia um milionário com uma quantidade farta de sete dos nove medicamentos que estavam na minha receita.

Quer mais? Eu tenho mais. Na saída, como o médico me disse que não havia impedimento pelo fato de eu estar com a garganta inflamada, ainda perguntei sobre a vacina da covid-19. O funcionário pediu um minuto, foi lá dentro consultar alguém e disse que havia uma última dose no frasco e que eu poderia ser vacinado. Saí de lá com a terceira dose. Ou seja, fizeram “barba, cabelo e bigode”.

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Sorte de principiante?

Não sei. Só sei que foi muito bom. Só sei que me senti feliz e satisfeito ao encontrar a saúde preventiva em São José dos Campos tão bem organizada. Feliz porque acho que todo cidadão merece uma saúde de qualidade.

Nesta quarta-feira, dia 5 de janeiro, estive de volta na UBS pela manhã para coletar material para os exames. O mesmo salão, já mais ocupado, porém não lotado; o mesmo bom atendimento desde a recepção. Só um imprevisto: meu sangue “secou” no meio da coleta… rsss. Vou ter que voltar outro dia para tirar mais um pouco.

E juro, neste momento em que digito este parágrafo, recebi um telefonema da Prefeitura me informando da marcação para sexta-feira, dia 7, de avaliação com o médico especialista para o qual fui encaminhado no dia 29 de dezembro.

Minha conclusão: não é pegadinha.

Piada pronta

Jornalista fica um pouco sem graça quando só elogia. Até porque, na prática do trabalho da imprensa, considera-se “notícia” aquilo que contraria a normalidade. É a velha explicação de que, se um cachorro morde a moça, não é notícia; mas se uma moça morde o cachorro, é uma bela notícia.

Então, para esta coluna ficar um pouco mais equilibrada, segue uma anedota bem conhecida que tem a ver com o tema. Retirei da Internet. Mas se você já estiver cansado de ler, pode pular a piada e ir direto ao encerramento, não muda nada.

O político no céu

Logo que morre, um famoso político chega ao paraíso e é recepcionado por São Pedro, que estranha o fato e lhe diz:

— Bem, como raramente vemos parlamentares por aqui, não sabemos bem o que fazer com você.

— Não vejo problema, é só me deixar entrar —diz o antigo senador.

— Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores para não permitir isso. Vamos fazer o seguinte: você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode escolher onde quer passar a eternidade.

Assim, São Pedro o acompanha até o elevador, que desce, desce, desce até o Inferno. A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe, onde seus amigos e outros políticos, todos muito felizes e em traje social, o cumprimentam calorosamente. Eles jogam uma partida descontraída e depois comem lagosta e caviar, falando sobre os bons tempos em que ficaram ricos à custa do povo.

Quem também está presente é o diabo, um cara muito amigável que passa o tempo todo dançando e contando piadas. No final do dia, nosso nobre parlamentar sobe para conhecer o Paraíso. Depois de passar 24 horas junto a um grupo de almas contentes que andam de nuvem em nuvem, tocando harpas e cantando, São Pedro retorna a ele e pergunta:

— E então, qual lugar você escolheu para sua morada eterna? —Depois de pensar por alguns segundos, o político responde, decidido:

— Olha, o Paraíso é muito bom, mas eu acho que vou ficar melhor no Inferno.

São Pedro então o leva de volta ao elevador, que desce, desce, desce até o Inferno. A porta se abre e ele se vê em um cenário horrível, no meio de um enorme terreno baldio cheio de lixo. Ele vê todos os amigos com as roupas rasgadas e sujas, pegando o entulho e colocando em sacos pretos. O diabo vai ao seu encontro e passa o braço pelo ombro do senador.

— Não estou entendendo… —gagueja o senador— Ontem mesmo eu estive aqui e havia um campo de golfe, lagosta, caviar, e nós dançamos e nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo cheio de lixo e meus amigos arrasados! O diabo olha pra ele, sorri ironicamente e diz:

— Ontem nós estávamos em campanha. Agora já conseguimos o seu voto…

É isso. Que me desculpem os bons políticos –existem muitos e é por isso que não devemos desistir da política–, mas confesso que senti uma certa desconfiança. Será que fui até a UBS em dia de campanha eleitoral? Não acredito…

Penso que não só os jornalistas, mas todos os cidadãos devem procurar ter a honestidade intelectual de elogiar as coisas boas. Até para ter o direito de criticar o que não estiver funcionando. É o que eu procurei fazer aqui. Prometo continuar contando a vocês o que eu estiver vendo –com os próprios olhos– no SUS de São José.

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Ao mesmo tempo…

Quero encerrar esta longa coluna –credo, mais uma coluna longa– dando uma pincelada na questão da lotação das unidades de pronto atendimento com casos de síndrome gripal e suspeita de covid nesses últimos dias.

É evidente que é péssimo ter que esperar por mais de cinco horas, recepções cheias, médicos apressados, clima tenso. Mas é preciso lembrar que o aumento da procura tem sido assustador. E também que a superlotação vem atingindo não só o setor público, mas também os prontos-socorros dos hospitais privados. Vamos esperar que esse desconforto seja breve e, rapidamente, o serviço volte ao normal.

Enquanto isso, vou me surpreendendo com o belo atendimento que tenho recebido na UBS Centro II. Se continuar assim, não sei se volto a ter plano de saúde…

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.