No dia em que publico esta crônica, estão faltando exatamente 27 dias para o Natal, menos de um mês. Da mesma forma, 34 dias para a entrada em 2024. Só de pensar nisso, começo a sentir alguns leves calafrios, que certamente irão aumentando de intensidade ao longo dos próximos dias.
E olhe que eu já me considero praticamente “desintoxicado” da maioria das tradições, hábitos e compromissos ligados às duas datas. Mas até o pouco que sobrou continua me provocando ansiedade e arrepios de frio, mesmo se vier uma nova onda de calor para nos castigar.
Natal e Ano-Novo não são pouca coisa. O pior de tudo são as fantasias e compromissos que se criam para serem cumpridos –e vividos– antes e durante as duas festas. Tudo começa com uma enorme indecisão: O que comprar? Para quem comprar? Onde comprar? Como pagar? Qual o limite de tudo isto?
Depois vêm os tais compromissos. Quantas confraternizações eu vou suportar? Quais desculpas vou dar para as que não quero ir de jeito nenhum? Para quem enviar as tradicionais mensagens de Natal e Ano-Novo? Preciso ir de roupa nova? As “confras” terão as contas divididas direitinho?
Aí chegam as festas propriamente ditas. Quais serão os cardápios? Quais carnes? Quais doces? Vamos beber o quê? Virão vegetarianos? Veganos? Vamos fazer uma lista de supermercado para não comprar demais? O que entra na lista? Quem opina na lista? Quem vai cozinhar?
Finalmente, faltam algumas perguntas que, apesar de serem as mais importantes, acabam quase nunca sendo feitas: O que eu realmente quero fazer nessa época do ano? Quero mesmo participar de confraternizações do trabalho, do grupo da academia, do pessoal da igreja/templo/mesquita/sinagoga? Vou meter o pé na jaca nas ceias de 24 e 31, e depois aparecer nos almoços de 25 e 1º com gosto de corrimão de escada na boca?
Credo… quem não fica sofrendo de ansiedade com tantas decisões a tomar? Com tantas perguntas precisando de respostas? E de alguns anos para cá a ansiedade ganhou um novo motivo: “Será que tudo o que eu comprei pela internet vai chegar a tempo? Aquele monte de produto chinês não vai parar em algum depósito até o mês de fevereiro? Pois é, esta dúvida cruel pode tirar o sono de muita gente.
Eu sei que você vai dizer que eu estou exagerando. Pode ser. Mas que não é fácil conviver com tantas decisões, tanta gente, tantas compras e tanta comida e bebida em pouco mais de 30 dias, não é mesmo.
Isso me lembra que muita gente resolve dividir as coisas em duas partes, normalmente passando o Natal em casa, em família, e viajando para curtir o Ano-Novo na praia, montanha ou coisa parecida. E aí –oh céus, oh vida– surgem outras perguntas: Onde ir? Ir de carro ou de avião? Como vai estar o tempo? Quanto gastar? Como pagar?
Tudo isso me faz lembrar que eu e a minha companheira já fomos muito radicais no Natal e Ano-Novo. Como trabalhávamos juntos e não podíamos tirar férias juntos–, resolvemos desligar a cabeça de todas as perguntas acima e partir para um plano B. Não tínhamos a filha que viria depois, não tínhamos a neta que viria depois. Então, que nos perdoassem os parentes, mas…
Durante alguns anos, saíamos de São José dos Campos por volta do dia 20 e só voltávamos por volta do dia 6 ou 7. Praia? Cidades distantes? Exterior? Nada disso. Um belo hotel e uma cidade tranquila, para comer bem, dormir bem, passear um pouco, nadar, tomar banhos de banheira em águas medicinais, comprar alguns produtos típicos da região e, é claro, namorar um pouco. Onde? Quase sempre o destino eram cidades fora de moda preferidas pelos mais velhos: Caxambu, São Lourenço, Araxá, Cambuquira, todas elas no Circuito das Águas de Minas Gerais.
Depois desses 15 dias, o casal que voltava a São José estava pronto para pisar no acelerador no novo ano. Saúde física, mental e emocional em dia. Além disso, orçamento controlado. Que saudade…
E você, qual é o seu plano? Seja qual for, muita calma nessa hora. E uma sugestão: abandone o perfeccionismo, os grandes projetos, os presentes caríssimos e pense em você, em seus familiares e amigos, e nas duas datas –o Natal, celebrando o homenageado, e o Ano Novo, inaugurando um novo ciclo. Ou seja: simplifique.
Nos próximos 30 e poucos dias você vai estar dentro de um túnel cheio de mistérios. Procure ver uma bela luz no final desse túnel, a luz que vai anunciar 2024.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.