Foto / Governo de SP/Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A tia Filoca andava agitada por aqueles dias, mas nada falava, contrariando seu costume diuturno de lançar pérolas rabugentas. Até o momento que não aguentou ao ver meus preparativos para subir à montanha.

− Não é que você vai mesmo para Campos do Jordão? Eu é que não vou! É sempre a mesma coisa, ir ao teleférico, Morro do Elefante, ao centrinho do Capivari, ao Palácio de Inverno, Ducha de Prata. Ah, tem a gentarada cafona enchendo as ruas, desfilando na frente do Baden Baden. Prefiro o frio daqui.

Respondi de pronto:

− Não é bem assim, tia. Campos do Jordão é muito mais que isso!

De fato, na verdade a tia nunca gostou de lá, não sei o porquê. É verdade que Campos do Jordão tem um turismo de um dia que lota a cidade de gente simples querendo parecer chique. Cada roupa, cada bota, cada chapéu, enfim, desfile de mau gosto. Mas trazem lucro para os comerciantes, ajudam a cidade a se manter.

É o povo, que merece passear, sentir um pouco do luxo, iludindo-se nesse passeio, esquecendo o dia a dia duro.  Compra um gorro aqui, um cachecol ali, uma miniblusa acolá, luvas simples, já se achando a cara da riqueza. É um tal de chegarem aqueles imensos ônibus de turismo, do Brasil todo, gente agasalhada e de chinelo de dedo ou de bota branca breguinha. Não se acha um lugar para estacionar automóveis e o trânsito fica um inferno.

APOIO / SUPERBAIRRO

Você na realidade não vê nenhum rico lá, nem para remédio. Acreditar que uma pessoa rica vá ficar andando pelo centrinho do Capivari é muita ingenuidade. Os efetivamente ricos ficam longe disso. Se têm casas na montanha, ficam nelas, que servem até de atração nos passeios de trenzinho. Do Maluf, só ficaram os pastéis imensos. Agora o parque do teleférico e dos pedalinhos foi privatizado, reformado, recebeu o nome de João Dória, pai daquele governador. Vejam só.

No entanto, Campos do Jordão tem muitas atrações, não só essas evidentes.

Tem o horto florestal, muito interessante, área preservada com floresta de pinheiros nacionais, valendo o passeio. Tem pesqueiros para as crianças se divertirem, tem recantos agradáveis, como o Amantikir ou a Fazenda Lenz, além de vários hotéis-fazenda. O museu do trem ou o passeio no Maria Fumaça são recomendáveis.

Para quem tem dinheiro, há muitos hotéis e pousadas, bem como restaurantes bons, embora não sejam econômicos. Nem os chocolates, você finge que está comprando coisa melhor que aqueles dos supermercados. E ainda não pode esquecer as encomendas daqueles que não foram.

Caso da tia Filoca, que foi logo cobrando.

− E aí, Zezinho? Cadê os meus chocolates? Ir a Campos do Jordão e não trazer chocolates é fim de carreira! Aposto que passaram o maior frio lá!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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