Foto / Acervo Estadão/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O título desta coluna é uma espécie de plágio, um vergonhoso plágio. Confesso que nunca tinha ouvido a palavra pitaco antes de ler as postagens e artigos do meu confrade e amigo Hélcio Costa.

Confrade é uma palavra muito fora de moda e concordo que seja, é uma palavra no mínimo estranha. Mas o Hélcio é um jornalista digno de todos os elogios e reconhecimentos. Começamos nossas carreiras quase ao mesmo tempo, eu um pouco antes. Mas aí veio o “furacão” pirajuense (de nascimento), taubateano (creio que de coração) e corintiano (de gosto duvidoso, rss.) ocupando espaços, mostrando fôlego, indo fundo no trabalho.

Recentemente, isso por volta de 2014, 2015, esse colega dos velhos tempos me deu a oportunidade de aprender a trabalhar em um jornal moderno, onde ele era o diretor de redação e, mais do que isso, o guru de todos. Fui repórter, quase sessentão, de um jornal O Vale quase setentão se somado ao seu antecessor O ValeParaibano, e pude conviver com ícones da nova escola do O Vale. Não vou citar nomes porque poderia esquecer alguns, sendo que todos foram importantes para mim nesse período.

Obrigado, Hélcio Costa, que adora o termo “pitaco”.

A palavra é usada quando a gente quer opinar, mas não quer se comprometer com a opinião. É uma espécie de palpite. O pitaco não dá aquela convicção de verdade absoluta, mas, partindo de quem tem credibilidade, é coisa para se pensar.

Posso concordar que sou um zero à esquerda na maioria dos assuntos que despertam a curiosidade das pessoas. Mas alguns desses assuntos não me são totalmente desconhecidos nesses 45 anos de carreira de jornalista.

A política é um deles. É um tema que esteve presente no meu dia a dia, primeiro como pré-adolescente, lá nos anos 70, em São Bernardo do Campo, quando pedia dinheiro à minha mãe para comprar três jornais no domingo: O Estado de S. Paulo, a Gazeta Esportiva e o Diário do Grande ABC.

Acredite. Eu tinha, nessa época, entre 12 e 14 anos, mas adorava tudo aquilo. Me levantava cedo no domingo, andava uns 500 metros até a banca de jornais e voltava com a pesada carga de informação. Chegando em casa, ia até um local tranquilo, que normalmente era a garagem, e abria cada jornal, página por página, no chão de cerâmicas quebradas e coloridas, e lia um pouco de tudo.

Meus “heróis” –mentira, nunca tive heróis ou ídolos, só gente que admirava, sem tietagem– eram os jornalistas políticos Carlos Chagas e Villas-Boas Corrêa, no “Estadão”, e o jornalista Solange Bibas, o principal destaque da Gazeta Esportiva, um jornal diário que conseguia preencher suas páginas somente com notícias do esporte brasileiro e mundial.

O tempo passou, hoje as pessoas leem menos, a maioria entende muito menos o que lê, mas são bombardeadas a todo instante com muito conteúdo sobre todos os assuntos que, lá naqueles anos 70, ninguém podia imaginar que iriam existir ou se tornar relevantes.

Lembro que, naquela época, com muito mais analfabetos que hoje, era comum a gente ver pessoas de todos os níveis intelectuais e financeiros levarem um jornal debaixo do braço (homens) ou no carrinho da feira ou na bolsa (mulheres). E todos tinham um certo orgulho disso.

Hoje, as notícias (boas ou ruins, bem-feitas ou malfeitas, sérias ou inventadas), estão tremendamente mais acessíveis. Tudo o que a gente levava dias ou semanas para saber lá em 1970, hoje qualquer “bobinho” poderia saber 50 vezes mais em menos de 30 minutos.

Onde eu quero chegar?

Caramba, a informação é tudo, é nesse ponto que eu quero chegar. Você não precisa “comer nas mãos” de ninguém para se informar. Você só precisa refletir e decidir pelos meios de comunicação nos quais pode acreditar.

Mesmo assim, você não deve acreditar cegamente em nada, nem em ninguém –nem em mim, inclusive. Quando não se convencer sobre alguma informação, busque outras fontes. Como fazer? Vá no Google e digite o assunto que lhe interessa. Em segundos, vão aparecer dezenas de fontes de informação sobre aquele assunto. Vai caber a você avaliar as fontes mais sérias e as menos sérias, ou seja, separar o joio do trigo.

Este assunto tem muito a ver com a política no Brasil de hoje. É fundamental que você se informe da melhor maneira possível sobre o que está acontecendo. Escolha os melhores jornais, sites, rádios, tevês, revistas; depois escolha os jornalistas, radialistas, comentaristas, articulistas que você julgue serem os mais sérios, os que esclarecem melhor as suas dúvidas.

A informação que você recebe vai ajudá-lo a avaliar os defeitos e as qualidades de cada candidato, a importância dos partidos políticos aos quais eles estão ligados e o que eles propõem para o bem da sua cidade, do seu estado, do seu país.

Você, que vive na modernidade, deveria voltar um pouco atrás, nos tempos dos seus pais e dos seus avós, para seguir o exemplo deles. A maioria, antigamente, sabia da importância de escolher um bom candidato para representá-la. Nem sempre acertavam na escolha, mas levavam o processo eleitoral a sério.

A cada dia nos aproximamos da escolha do novo presidente da República, na eleição marcada para 2022. No momento, estão tentando convencer você de que só existem duas opções, a esquerda e a direita. Isso é falso.

No Brasil de hoje, a eleição é realizada em dois turnos. No primeiro turno, todos os que atenderem aos requisitos da lei eleitoral podem se candidatar. Ou seja, você pode votar até no seu vizinho, se ele conseguir ser candidato.

Computados os votos dados em todos os candidatos no primeiro turno, ou um deles consegue ter 50% mais um dos votos válidos e se elege no primeiro turno, ou ficam os dois mais votados para disputar um segundo turno.

O que isso significa? Significa que você deve votar, no primeiro turno, no candidato com o qual mais simpatiza, aquele que você considera o melhor. Mas se ele não ganhar no primeiro turno e nem ficar entre os dois mais votados, aí deve escolher no segundo turno aquele candidato que tenha as ideias mais próximas, ou menos distantes, das suas.

Se nenhum dos dois candidatos do segundo turno lhe agradar, você tem a opção legítima de votar em branco ou anular o seu voto. Esse gesto é importante para mostrar o seu descontentamento.

Não se deixe enganar pelos radicais da política. A disputa não é entre dois extremos –esquerda ou direita–, não tem que ser definida necessariamente no primeiro turno e, além disso, não está decidida antes da eleição. Quem decide a eleição é você, votando no candidato da sua preferência, seja ele o favorito, seja ele o último nas pesquisas. O seu voto é importante sempre.

Em política, é fundamental ler muito, ver muito, pesquisar muito, conversar muito e, no final, escolher quem merece o seu voto.

Ah, e não leve o significado de pitaco e mumunha ao pé da letra. O título foi feito apenas para chamar a sua atenção e tentar trazer você até aqui. Com a melhor das intenções.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

 

*Texto revisado às 13h41 do dia 13/7/21.