Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O momento não era bom, é óbvio. Estava indo para a sala de operações, numa maca empurrada por enfermeira soturna: nenhum sorriso. Convenhamos que ser operado não é exatamente um divertimento, seja qual for a cirurgia. Mais risco, menos risco, mas no momento em que você é preparado, com aquele avental ridículo aberto atrás, logo retirado, em meio a médicos e enfermeiras, é o mico geral.  Cutucam você à vontade, ligam aparelhos no seu braço e no rosto, recebe anestesia, apaga: você está à mercê dos outros. Pode ser que nem volte.

E o trajeto é sinistro, momento de medo, nada engraçado. Mesmo assim achei de contar anedota para a enfermeira melhorar seu humor. Narrei a jornada aflitiva dos pacientes nessa situação, até porque já a havia experimentado noutras vezes: viagem pelo hospital olhando teto. Virtual tour de teto.

Assim é que, com alguma pitada de humor, nós podemos atenuar as durezas que vamos vivenciando ao longo desta jornada dolorosa. É o que chamo de perfil histriônico, que atenua traços de personalidade. Afasta o medo, suaviza as aflições, traz alguma felicidade. Sim, pequenos momentos felizes que entremeamos, nesta vida, com o sofrimento.

Quando falo em pitada de humor, não confunda com pessoas que vivem o tempo todo tentando fazer graça. Tinha um conhecido que ficava sempre tentando fazer os outros rir. Conseguia em alguns casos, noutros cansava, sobretudo a pessoas sem nenhum senso de humor. De fato, fazia a menos nobre espécie de comicidade: o deboche.

Há ainda os que na verdade não fazem nem humor, servem-se dele apenas para espezinhar ou maltratar as pessoas. Recomendo: não passe recibo.  Outros vivem por aí sem achar graça em nada, detestam programas humorísticos. Dão sorrisinhos amarelos quando ouvem alguma piada.

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Por outro lado, dar pitada de humor em tudo parece ser uma atual e discutível mania em nosso país, emulando nossos irmãos norte-americanos nos programas de televisão. Não há nenhuma novela sem núcleo histriônico. O mesmo foi adotado pelas chamadas mesas-redondas de futebol, com desagradável exagero.

Isso não impede que se coloque um pouco de alegria em nossa jornada terrestre e não vou nem invocar o humor na literatura, pródiga de exemplos notáveis, destacando-se entre nós o nosso literato maior, Machado de Assis, que, embora pessimista, não esquecia o humor –com sutileza e ironia.

Ah, não mais espere encontrar humor na política como antes. Tragicômica fonte de muita paródia e riso, hoje apenas um campo minado de ódio e grosseria. Daí só dor e indignação, perigosos fortificantes para a curta corrida para o além.

Mas não desamine. Uma postura serena e alegre, mesmo diante da dor, colocando aqui e ali uma pitada de humor, sempre é uma melhor maneira de se conduzir.  Sem querer ser dogmático, mas já sendo, ouso parafrasear o poetinha Vinicius de Moraes: põe um pouco de humor na sua vida assim como no seu samba!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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