Foto / Fernando Moura/Arquivo Municipal de SJC

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Zezinho, você não escreve sobre políticos em São José dos Campos? Você é um alienado, como se dizia antigamente?

− Não, respondi à vigilante tia Filoca. Eu não gosto de comentar política, porque é um terreno perigoso. Você acaba se metendo temerariamente entre paixões cegas, como agora, com essa detestável polarização: esquerda e direita. Como não me enquadro nem numa, nem noutra, vou seguindo nas crônicas sem política.

Lembrei à tia que foi justamente desse tipo de polarização que o povo se moveu para regimes odiosos, como o nazista.

No entanto, não nego que conheci muitos políticos ao longo da vida, uns razoáveis, outros detestáveis, outros até mesmo cômicos. Prefiro o lado histriônico, sem me imiscuir entre cores partidárias.

O assunto me faz lembrar de um político joseense, já falecido, que da Câmara Municipal acabou assumindo a Prefeitura, na saída do prefeito de então, final dos anos 1960. Aconteceu logo no início dos governos militares, no momento de maior terror, real ou imaginário.

A sede da Prefeitura, na época, era aquele prédio vetusto na esquina da Rua Sebastião Hummel com Quinze de Novembro, onde agora está a Biblioteca Pública Cassiano Ricardo. Certo dia, esse ocasional prefeito recebeu a visita de um coronel –na oportunidade autoridade de altíssima importância na hierarquia dita revolucionária– que viera conferir como estava a Prefeitura em novas mãos.

Estas mãos eram de um algo modesto advogado, sem grandes pretensões, um tanto bonachão, que ficou todo cheio de mesuras e obséquios com a patente, preocupadíssimo a respeito de eventual mau julgamento do milico.

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Preciso esclarecer que a parte de serviços pesados e de obras da municipalidade se concentrava, como ainda ocorre, no amplo terreno que ia da Rua Machado Sidney até a Avenida Nelson D´Ávila, onde antigamente funcionava o Pavilhão de Higiene. Neste eram feitas as desinfecções da rouparia dos muitos sanatórios e pensões que abrigavam tuberculosos. Lembrando que São José foi durante muitos anos uma estância sanitária. O nome pavilhão, mesmo depois de cair em desuso, continuou a denominar o local, cheio de caminhões, tratores, máquinas, materiais e funcionários braçais.

Pois bem, voltando à reunião do coronel com o prefeito, o militar a certa altura indagou ao aflito alcaide:

− Até aqui, senhor Prefeito, tudo bem com a Prefeitura.  Mas não vi aqui o pavilhão!

O atônito prefeito levou um susto e nada entendeu. Não respondeu, procurando desconversar, dizendo que iria regularizar brevemente. Morria de medo que acontecesse de novo: o ônibus do CTA parar na Rua Sebastião Hummel −onde também funcionava a Câmara Municipal− e levar um monte de gente, de vereadores a altos funcionários, para Cumbica, onde seriam interrogados por corrupção.

Após a saída do coronel, o prefeito chama esbaforido o seu chefe de gabinete e pergunta aflitíssimo:

− Fulano, como é que vamos trazer para cá todo o Pavilhão? Não cabe, pelo amor de Deus! E agora?

O funcionário, que de bobo nada tinha, acalmou o alcaide:

− Calma, prefeito. Ele não quis se referir ao Pavilhão lá da Machado Sidney, mas simplesmente à bandeira nacional, que não via hasteada como de rigor. Pavilhão é a bandeira!

Não é piada não, gente.

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.