Vista do Jardim Maringá a partir da Vila Guaianazes: o verde competindo com o concreto. Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Ao mesmo tempo que reclamam de invasão de galhos e raízes sobre suas casas, sujeira no quintal e calçada e danos à rede elétrica, as pessoas se orgulham de suas árvores e defendem o replantio das que são suprimidas

 

DA REDAÇÃO

De um lado, as árvores proporcionam sombra, temperaturas amenas, contato com a natureza, flores perfumadas, frutos saborosos. De outro, podem sofrer quedas durante chuvas fortes, apodrecem com o tempo, invadem terrenos e construções com suas raízes e galhos, entopem calhas e sujam quintais e calçadas com suas folhas.

É com essas duas realidades que a população das cidades convive. De um lado, ama tudo de bom que as árvores podem lhe proporcionar, mas de outro convive com alguns aborrecimentos que gostaria de evitar. Como em tudo na vida, a virtude está no meio, no equilíbrio.

Na Vila Ema e Jardim Maringá, os moradores –especialmente os mais antigos– aprenderam a conviver com árvores de todos os portes, das mais variadas espécies, plantadas nos quintais de suas casas e em suas calçadas. Algumas dessas propriedades ainda lembram cidadezinhas do interior.

Porém, o progresso chegou e, com ele, o acúmulo de fiação elétrica, o aumento de construções modernas que impermeabilizam o solo com seus pisos cimentados e até mesmo a falta de tempo para o morador cuidar ele mesmo das suas árvores, como se fazia antigamente.

Hoje, a população desses bairros vive uma relação de “amor e ódio” com as árvores de suas ruas e de seus próprios quintais. Nesta segunda reportagem da série “Salve o Verde”, o SuperBairro falou com moradores da Vila Ema e Jardim Maringá sobre a convivência com as árvores, principalmente as que existem –ou já existiram– em suas calçadas.

PUBLICIDADE

Prós e contras

Moradora há mais de 40 anos no Jardim Maringá, em vários endereços, hoje Ana de Lurdes Fernandes, de 78 anos, reside na casa de número 239 da rua Euclides da Cunha, uma das que mais perderam cobertura vegetal nas calçadas ultimamente. Ela é um bom exemplo dos prós e contras na relação com as árvores. Em sua calçada, ergue-se um majestoso ipê cor-de-rosa que lhe dá orgulho:

– Fui eu que pedi para a Prefeitura plantar, foi ainda na época do Roberto Barbosa [radialista e vereador já falecido], pedi e plantaram no mesmo lugar da árvore antiga, que apodreceu –conta dona Ana.

Porém, o mesmo ipê florido deste início de primavera, também provoca dor de cabeça na moradora. Ela alega que galhos da árvore avançam sobre a sua casa, sujando e criando riscos no período das chuvas. “Falei com o moço que veio fazer a poda e ele disse que poda não adianta, tem que pedir rebaixamento na Prefeitura”, explica, sem saber muito bem o que seria esse serviço.

Ana: ipê enfeita, mas também incomoda. Foto / SuperBairro

É preciso replantar

Quase vizinho de dona Ana, Jair Bossolane, de 79 anos, precisa sair de casa apressado para buscar a esposa no supermercado, mas mesmo assim conversa com o SuperBairro sobre o assunto. Morador há mais de 50 anos no local, ele defende o replantio das árvores perdidas com as chuvas e doenças.

– Tem que replantar, mas não as que estão plantando por aí, precisam escolher melhor as mudas, o ideal são as árvores de jardim –sugere, mostrando uma árvore do outro lado da rua, que ele não considera adequada para a arborização urbana.

Jair: é preciso replantar com espécies de jardim. Foto / SuperBairro

A nova geração

Na rua Justino Cobra, esquina com Remo Cesaroni, o estudante Victor Gabriel de Toledo, de 17 anos, aproveita a manhã de sábado em um curso de artesanato oferecido numa loja tradicional da Vila Ema. Morador no Jardim Maringá –“desde que nasci”–, Victor mostra que a nova geração tem boa compreensão do assunto.

– Antes havia muitas árvores aqui, mas elas foram crescendo bastante e às vezes é preciso fazer a retirada. O certo é retirar, arrumar a parte elétrica quando é danificada e plantar mais árvores. Mas nunca vi a Prefeitura plantar –observa o estudante, que pretende cursar faculdade de engenharia.

Victor se mostra um defensor das árvores:

– É preciso considerar o que faz bem para o nosso ecossistema e a qualidade de vida. As árvores são benéficas, melhoram a qualidade do ar e a sensação térmica –ressalta.

Victor: árvores melhoram qualidade do ar e sensação térmica. Foto / SuperBairro

‘Destocam e cimentam’

Também falando da arborização na região, o engenheiro Messias Heitor Ferreira de Oliveira, de 63 anos, morando há 22 em um apartamento da avenida Heitor Villa-Lobos, na Vila Guaianazes, não compreende por que o replantio das árvores suprimidas não é automático:

– Às vezes a retirada de árvores é necessária, mas acabam fazendo a destoca e cimentando o piso onde estava a árvore. Não vejo por que não colocar novas mudas no lugar –estranha Messias. – É preciso tomar cuidado para a cidade não perder o lugar de destaque entre as mais arborizadas do Brasil.

Messias: retirada pode ser necessária, mas destocam e cimentam no lugar. Foto / SuperBairro

A Prefeitura e o replantio

Na primeira reportagem da série “Salve o Verde”, publicada pelo SuperBairro na segunda-feira (26) –veja [aqui]– foi tratada a questão das árvores perdidas e a necessidade de replantio nos mesmos locais. Questionada sobre a falta de reposição por uma nova muda, a Prefeitura de São José dos Campos respondeu, em setembro do ano passado, que o replantio não pode ser feito no mesmo local.

Segundo a Secretaria de Manutenção da Cidade (SMC), que executa esse tipo de serviço, as destocas são feitas logo em seguida à supressão das árvores e a própria Prefeitura refaz a calçada. Quanto ao replantio, “é realizado sempre, todas as vezes que uma árvore é suprimida, porém não no mesmo lugar, mas em lugares próximos” – respondeu.

A explicação da Prefeitura para esse procedimento é atribuída a questões técnicas. “Não é feito no mesmo lugar porque é preciso abrir uma cova de 60 centímetros e, às vezes, a cova esbarra em outras raízes”. Porém, não é possível ver novas mudas nas ruas da Vila Ema e Jardim Maringá. Perguntada sobre os locais exatos de reposição de árvores nesses bairros, a SMC não respondeu.

PUBLICIDADE

A assessoria da secretaria disse que existe previsão no Plano Municipal de Arborização de realizar, até o ano de 2029, o plantio de “aproximadamente 623 árvores, de um total previsto para a cidade de 56 mil árvores, sendo que nos últimos anos já foram plantadas 28 árvores nesses dois bairros”.

É bom lembrar que São José dos Campos recebeu no ano passado o título “Cidades-Árvores do Mundo”, entregue pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). É uma das três cidades brasileiras a figurar na lista, ao lado de São Carlos (SP) e Campo Grande (MS). Porém, é inegável que alguns bairros não têm recebido a reposição imediata das árvores que perdem, entre eles a Vila Ema e o Jardim Maringá.

 

NO PRÓXIMO CAPÍTULO, SEXTA-FEIRA (30):

A arborização urbana atual e a meta de plantio nos próximos anos na região do SuperBairro e em toda a cidade, de acordo com o Plano Municipal de Arborização.

Não perca!

PUBLICIDADE