Uma festa boa pra cachorro. Será? Foto / Pinterest

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Você já ouviu falar em antropomorfismo?

É quando uma pessoa atribui características humanas a um animal. Ou seja, é quando as pessoas começam a tratar seus animais feito gente, humanizando os bichinhos de tal forma que eles correm o risco de perder a identidade.

Usam de tudo no animalzinho: roupas, sapatinhos, óculos, chapéus, correntes, berloques, bolsas, perfumes, enfeites para prender os pelos, e ainda compram camas personalizadas, brinquedos variados e, como se não bastasse tudo isso, comemoram o aniversário com festa e amiguinhos.

E isso está errado?

Em excesso, sinto informar, mas está, sim, pois a pessoa está privando o seu animal de seu instinto natural e em tudo há de se ter equilíbrio.

Usar uma roupinha no frio, desde que o cachorro aceite, tudo bem, mas ter um guarda-roupas só para o pet, faça chuva ou faça sol, e ainda ficar usando vários outros acessórios, é totalmente desnecessário e só faz estressar o animal. Cachorro gosta mesmo é de correr, brincar, se sujar. Tem gente que leva o cachorro para passear no carrinho. Como assim?

Cuidado com os excessos

Mas o ápice dessa humanização são as festas de aniversário feitas para os cachorrinhos (maioria) e também para os gatinhos. Nas fotos e vídeos desses eventos que encontramos pelas redes sociais podemos ver nitidamente que os animais não estão entendendo absolutamente nada do que está acontecendo. E nem poderiam, não é mesmo? Simplesmente porque são animais e, por mais que a gente ame esses bichos com toda a nossa força e os considere parte da família, eles continuam sendo animais.

E animais são animais, para eles tanto faz se você gastou três reais ou três mil reais na festa de aniversário que é para ele, aliás eles nada se importam se você lembra ou não do aniversário deles. Adivinha? Eles mesmos não sabem que estão fazendo aniversário…

Mas tem gente que faz questão de comemorar a data e não há limites para que a coisa aconteça conforme o sonhado (pelo tutor, porque o animal tá lá no mundo dele).

E aí é que entram as pessoas de visão, os empreendedores, gente especializada em buffet pet, que pensa em absolutamente tudo: desde a decoração do ambiente, mesa, comes e bebes apropriados para eles, fotógrafo para registrar os momentos, distribuição de convites para os “amiguinhos” e até lembrancinhas entregues no fim da festa.

Enfim, tudo igualzinho a uma festa de criança, só que é para um animal que continua ignorando tudo isso, apesar de muitos tutores jurarem de pés juntos que eles estão entendendo tudo sim, e adoram uma festa.

Agador, um poodle com perfil no Instagram para mostrar seus vários looks. Foto / Pinterest

Não, definitivamente eles não entendem

A humanização dos animais chegou a um nível que pode ser chamado de esquisito. Quando entramos em pet shop grande ficamos assustados com a quantidade de coisas à venda. Foi-se o tempo em que roupinhas e sapatinhos eram os únicos produtos do tópico humanização.

Atualmente, encontramos desde perfumes até cervejas, vinhos, chocolates, uma infinidade absurda de petiscos e brinquedos de todos os tipos e tamanhos, tudo para os pets.

É legal saber que existem todas essas opções no mercado, mas, por outro lado, veterinários apontam para um crescimento no número de bichos, em especial os cachorros, que apresentam problemas comportamentais devido ao excesso de zelo e cuidado por parte dos seus tutores.

A principal consequência desse excesso é a postura mais humana, o que faz com que os cães não se reconheçam como cães, deixando de lado sua essência. E o que isso significa? Que eles não farejam, não querem se sujar, não saem de casa, não interagem com outros cachorros, alguns sequer querem sair do colo do tutor ou da bolsa onde são carregados.

Outros, desenvolvem problemas psicológicos como ansiedade, hiperatividade e depressão. Alguns não sabem lidar com a ausência do dono e destroem objetos domésticos, latem absurdamente e se lambem a ponto de se machucar.

Às vezes acreditamos que estamos fazendo o melhor para o nosso pet, mas na verdade estamos fazendo eles sofrerem, porque até mesmo o amor, quando em excesso, pode machucar, principalmente quando estamos roubando a sua identidade na tentativa de humanizá-lo.

Uma olhada rápida e podemos confundir com uma criança. Foto / Pinterest

Não existe problema em tratar seu pet por filho ou filha, deixá-lo dormir na sua cama, usar roupas nos dias frios (se ele aceitar), fazer um bolinho de aniversário para você lembrar e comemorar o dia. O grande problema do tutor sem noção são os excessos.

O cachorro tem que ser cachorro. Ele precisa sair de casa para passear, brincar com outros cães, rolar na grama ou na areia, se sujar, fazer atividade física para gastar energia e ter brinquedos interativos que o ajudem a manifestar a sua essência canina.

O melhor que você pode fazer pelo seu pet é vaciná-lo todos os anos, tratar para que ele não tenha pulgas e carrapatos e dar muito carinho. A sua presença, a sua atenção, é o que há de mais importante para ele.

E se você se sentir tentado a dar uma megafesta de aniversário para o seu pet, ou gastar em excesso com brinquedos e roupas, lembre-se dos milhares de cães e gatos que estão nos abrigos necessitando da sua ajuda para, ao menos, comer. Uma infinidade de cachorros e gatos que não tiveram a mesma sorte que o seu (o meu) de estar num lar confortável, quentinho, repleto de amor e carinho. Equilíbrio, essa palavra resume a vida.

 

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.