Bruno e o peixinho Dudu: ótima interação. Foto / arquivo da família

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Hoje vamos falar sobre autismo e os bichos de estimação. Num primeiro momento, parece que um assunto nada tem a ver com o outro, mas pesquisas comprovam que crianças e adolescentes autistas, quando crescem ao lado de animais de estimação, tendem a ter um índice de socialização maior porque desenvolvem melhor suas habilidades sociais.

Para quem não conhece, o autismo é um problema psiquiátrico, trata-se de uma série de distúrbios provocados por desordens no desenvolvimento do cérebro antes, durante ou após o nascimento de uma criança, afetando a sua comunicação e capacidade de aprendizado.

Duas universidades –Missouri, nos Estados Unidos e Montreal, no Canadá– concluíram, por meio de pesquisas realizadas junto a crianças e adolescentes autistas, que pacientes que viveram próximos de animais de estimação melhoram muito a parte social, o que é imprescindível quando se deseja que a criança ou o adolescente tenha uma vida normal.

Também detectaram uma diminuição considerável da ansiedade, considerando que essas crianças apresentam um nível alto de cortisol circulante, o hormônio responsável pela ansiedade.

Mas, afinal de contas, de que animal de estimação estamos falando? Cachorro, gato, coelho?

Na verdade, existem algumas raças de cachorro que são ótimas para acompanhar as crianças e adolescentes autistas, como, por exemplo, o Golden Retriever e o Labrador Retriever, por serem cães dóceis, amorosos, adaptáveis, que sabem participar da vida da criança com autismo. Mas quem acaba escolhendo o bicho é a criança.

Bruno Gabriel Cezário tem 10 anos e foi ele quem escolheu seu bicho de estimação: um peixe beta em quem colocou o nome de Dudu. Sua mãe, Regiane Cezário, 32 anos, conta que desde que descobriu que o Bruno tinha autismo –aos 2 anos e meio de idade– resolveu apresentá-lo a vários bichinhos. “Nós já tínhamos um cachorro da raça Basset, mas o Bruno nunca se interessou por ele. Algum tempo depois pegamos um Boxer, mas nada dele se aproximar do cachorro.”

E como Regiane sabia que ter um animalzinho ajudaria no desenvolvimento social de Bruno, pois tinha sido alertada pela terapeuta do filho, ela foi testando. Passaram pela sua casa: periquito, calopsita, hamster, coelho, porquinho da índia e até mesmo uma galinha (essa, na verdade, foi adotada pela filha menor, que até dorme com ela).

Quando Regiane apareceu com um peixe beta, há mais de dois anos, Bruno demonstrou total interesse. “Ele se encantou com o peixe nadando e não só passa um bom tempo olhando o peixinho, como dá comida e ajuda a limpar o aquário”. Ou seja, Bruno não só interage com seu bichinho como adquiriu responsabilidades que não tinha, o que colabora com o seu tratamento.

Regiane diz que Bruno é uma criança muito tranquila e que o peixe acabou mantendo essa sua tranquilidade. Ela acredita que o filho não se interessou pelos outros animais porque às vezes saiam correndo, pulavam ou voavam, muito de repente, assustando e deixando Bruno nervoso.

A mãe do Bruno contou ainda que, recentemente, eles tiveram duas boas surpresas. A primeira delas é que ganharam uma cachorrinha da raça Yorkshire, bem pequeninha, e a segunda é a de que Bruno está encantado por ela e vice-versa.

“Como os autistas são muito sensoriais”, explica Regiane, “o Bruno descobriu que adora o cheiro da cachorrinha depois que ela volta do banho e faz muito carinho nos pelos, que são lisos, o que também é interessante para ele. Ela não sai correndo de repente, pelo contrário, gosta de dormir no colo dele e isso está fazendo ele se interessar cada vez mais por ela, o que para nós está sendo uma grata surpresa”.

Safira, a Yorkshire que está conquistando o amor do menino. Foto / arquivo da família

Só lembrando, que o autismo não tem tratamento específico, mas muitos esforços são empenhados a fim de minimizar os efeitos dos distúrbios para que a criança leve a vida da forma mais normal possível.

Entre essas técnicas estão as terapias de linguagem, a equoterapia (tratamento feito com cavalos, assunto para uma outra coluna), as técnicas motoras e sociais, medicamentos para o controle de sintomas, e algo muito natural: bichinhos de estimação. Experimente sem moderação, mas com muito amor.

 

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.