Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Eu suava às bicas. De paletó e gravata, presidia como juiz de direito as audiências em Votuporanga naquele janeiro de 1984. Havia deixado a família em Caraguatatuba e enfrentado o novo trabalho, sofrendo o calor dos iniciantes. Não há experiência a adquirir para ser juiz, somente exercendo. E comecei naquela canícula, durantes as férias forenses, ficando sozinho na circunscrição. Tudo comigo.

Estava de fritar ovos na calçada, um verão superquente. Para se ter uma medida do calor, acabei manchando quase todas as minhas gravatas, devido ao nível da temperatura e também a minha interna, de neófito. Não podia tirar o paletó, o Tribunal ficava de olho. Hoje vejo pela TV, consternado, um juiz de camisa polo vermelha presidindo audiência e gritando com a promotora e com a testemunha, num calor destemperado.

Aquela ocasião foi bem encalorada, mas fichinha perto de agora, de calor sufocante para um uma primavera de novembro. Imagine quando chegar o verão? A atual onda de calor está insuportável. Vi na TV que o Brasil, de uma onda de calor por ano, passou agora para sete. Assim nem o Capeta aguenta!

Vamos à praia para refrescar? Engano, meu amigo, não sei se você reparou, mas ir ao litoral é gostar de sentir calor. Só há refresco dentro d´água. O sol pela a sua pele, a areia não ajuda e o pior: a cerveja é sempre quente.

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O problema é que sentimos também calor quando olhamos a conta de energia, exorbitante de tanto ar-condicionado e ventilador ligados. O pobre nem pede uma sua quentinha, como medo do calor. Até assistir a jogos da seleção de futebol masculina dá tanto calor que desisti.

Bem refletindo, já passei muito calor na vida, bem piores que esse. Quantas provas fizeram a temperatura subir? Quantas ocorrências de trânsito, em face de barbeiros e domingueiros, deixaram tudo acalorado?  Quanta desonestidade e incompetência de políticos que fazem nossas orelhas avermelhar? E assim vai, ficamos quentes toda hora.

Vendo o assunto com melhores olhos, esse calor é também uma boa desculpa para o reconforto de uma bebida gelada, um chopinho estupidamente gelado. Aposto que os donos de bar não estão reclamando de nada.

Melhor foi tia Filoca, no seu estilo:

– Tomara que esse calor todo frite a cuca dos políticos safados e queime seus neurônios canalhas. Que fiquem apenas os bons: o Tico e Teco!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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