Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Tem gente que acha que tudo o que passa de dois dias vira pão amanhecido. Fica velho. Mas quando se trata de ideias, de conceitos, esse pensamento não vale. A gente precisa pensar no passado para não repetir os erros no presente e ainda levar tudo em conta para planejar o futuro.

Lá atrás, tipo em 1976, um senador que era presidente da Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido que participava do jogo do “bem contra o mal” na política brasileira da época, consagrou em um discurso meio besta uma frase que ficou famosa: “Que país é este?”,  bradava, na sua intenção enviezada de defender o regime militar daqueles tempos.

A pergunta do então senador Francelino Pereira não obteve resposta. Muitos anos depois, uns meninos de Brasília, armados em torno do grupo Legião Urbana, usaram o mesmo título em uma canção que conseguiu abrir o tema para muito mais gente. Mas também não se chegou a nenhuma conclusão muito importante.

Talvez o que tenha faltado dizer é que um país é a soma de um território e de um povo. Território, sabemos que são 8 milhões, 515 mil, 767, 049 quilômetros quadrados. E povo, segundo estimativa do IBGE de 2019, são 211 milhões de brasileiros.

Território se calcula com uma simples operação aritmética, em que entram grandezas de comprimento, largura etc. etc., até chegar nos 8,515 milhões de quilômetros quadrados, o quinto maior país do mundo em área.

Beleza. Então vamos ao povo. Quem são esses 211 milhões de brasileiros, hoje quase 212? O que eles pensam? Como eles agem? Só faltou o “como se reproduzem?” para parecer um Globo Repórter.

Pois é, amigos. A verdade é que este povo está a cada dia menos previsível, menos unido, menos empenhado em pensar no futuro. Somos hoje, infelizmente, uma sombra muito pálida dos nossos antepassados, nossos bisavós, avós e pais que nos entregaram essa “muvuca” toda.

Recebemos a muvuca. E qual deveria ser o nosso papel? Como no futebol, tirar a bola da defesa, pensar o jogo no meio de campo e preparar a jogada para o ataque fulminante em direção ao futuro. Estamos fazendo isto? Você acha, sinceramente, que estamos fazendo isto?

É evidente que não. Onde está a nossa (povo) capacidade de compreender os nossos problemas? Onde está a nossa vontade de vencer os desafios? Onde está a nossa “raça” para cobrar os nossos direitos? Onde está a nossa visão de futuro do país para nós, nossos filhos, netos, bisnetos etc.?

Pense bem. Em algum lugar do passado (nome de filme), nós deixamos de pensar em uma rua, um bairro, uma cidade, um país, o mundo em que vivemos. Preferimos assistir a algum BBB e deixar para aqueles competidores as nossas rotinas, sonhos, frustrações, taras, projetos, enfim, a nossa própria vida.

É claro que aqui, BBB deve soar como uma metáfora, uma maneira de retratar a tremenda fuga da realidade que atormenta a sociedade atual. Aprendemos a acumular investimentos e bens, assim como dívidas e ansiedades. Esquecemos de pensar no país que queremos ter e nos valores da sociedade que queremos entregar às próximas gerações.

Que tal começarmos pela base, pelo primeiro núcleo da nossa realidade, o nosso bairro? O que você tem feito por ele? Cuida dele? Exige que os órgãos públicos cuidem? Toma providências contra quem não cuida? Este é o princípio de tudo. Se você não consegue sentir-se bem ao sair na calçada da sua casa ou prédio de apartamentos, aí a coisa vai mal.

De que entidades você participa? Uma sociedade de amigos do bairro? A sua paróquia, o seu templo, o seu centro espírita, a sua tenda de umbanda? Uma entidade beneficente? Um grupo que presta serviços voluntários? A associação de pais da escola dos seus filhos? O Lions, o Rotary? Nada disso? Aí a coisa vai muito, mas muito mal.

Infelizmente, a sociedade tecnológica em que estão nos inserindo cada vez mais, se assemelha a um processo de regressão a uma espécie de útero, mas não o ventre quentinho da mamãe que nos deu o primeiro e o mais acolhedor lar de nossa vida.

A regressão tecnológica nos faz abandonar os contatos pessoais, os passeios e experiências ao ar livre, tudo trocado pelo toque dos dedos no celular. Nos faz deixar de interagir com as pessoas na pizzaria, no restaurante do domingo, no boteco da sexta-feira, para recorrer ao prático delivery. E agora nos faz deixar de encarar o trabalho com todas as suas tensões, emoções e recompensas, para nos trancar no “moderno” home office.

É isto o que estão fazendo com a sua vida. Já imaginou o que farão com a vida dos seus filhos e netos? Percebe? Não vê que está mais do que na hora de você remar contra a corrente em direção ao domínio da sua vida, voltar ao contato com as pessoas, com a natureza, com os lugares dos quais você gosta? E, voltando ao ponto de partida, ao seu bairro, à sua rua, à sua calçada, aos seus vizinhos?

Não importa se você vive em São José dos Campos, Caçapava, Jambeiro, Rio de Janeiro, Brasília ou Quixeramobim. Você precisa pensar no seu país, na sua cidade, no seu bairro, na sua vida.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.