Foto / Luís Figueiredo/CBF

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Já relatei aqui neste espaço algumas experiências vividas por mim como torcedor de futebol. A maioria delas foram bem amargas: desclassificação do Brasil na Copa de 1982; título roubado do Santos em 1995 contra o Botafogo por causa de um árbitro mineiro; decepção na final da Copa de 1998 com o problema de saúde do Ronaldo Fenômeno; e por aí vai…

Infelizmente, desde o final de 2023 até os dias de hoje, só tenho tido ainda mais motivos para me decepcionar com o nosso futebol. Primeiro, sendo torcedor do Santos Futebol Clube, pela queda inédita do meu time para a série B. Mas quero dizer que esse é um falso problema, afinal o Santos já vinha caindo pelas tabelas nos últimos sete ou oito anos.

Amigos próximos sabem muito bem o que eu pensava disso tudo. Dizia que o presidente de um clube bicampeão mundial, tricampeão da Libertadores etc. etc., nunca poderia ser dirigido por um sujeito que pensava no futebol como uma espécie de comércio de seres humanos.

Sim, o careca Rueda me assustava quando comemorava a venda de jogadores para o Exterior, como se isso fosse algo a ser comemorado. Um dirigente decente saberia que vender os direitos federativos de um jogador deveria ser encarado como uma necessidade absoluta. Um verdadeiro santista deveria comemorar quando contrata um bom reforço e lamentar quando precisa vender uma das tais “joias” da base santista.

Minha opinião nas “resenhas” de torcedores era que o Santos iria ter muita dificuldade de se manter na série A, mas ficaria nela. De outro lado, sempre defendi que a grande virada para o Peixe se recuperar seria no final do ano passado, enviando o careca Rueda para o ostracismo e elegendo um novo presidente que respeitasse a grandeza do time do Pelé. No final, o careca caiu e hoje está praticamente foragido, mas o time também caiu. Que suba neste ano e volte à elite em 2025.

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Porém, infelizmente, o Santos está longe de ser o grande problema do futebol brasileiro nos dias atuais. A verdade é que está tudo cem por cento errado –e isto não é de hoje, está acontecendo há mais de 20 anos. Mas agora chegamos praticamente ao fundo do poço.

Segue uma breve relação dos males que nos afligem:

– Apesar de o futebol brasileiro concentrar suas forças nas regiões sudeste e sul do país, o todo-poderoso presidente da CBF, sigla da Confederação Brasileira de Futebol, é um gordinho obscuro vindo da Bahia, chamado Ednaldo Rodrigues. Nada contra ele ser baiano e meio “outsider”, até porque os caciques anteriores, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, fizeram na CBF aquilo que a minha cachorra Julieta faz algumas vezes por dia na sacada do meu apartamento. O problema é que, o que deveria melhorar, piorou.

– O futebol brasileiro se transformou nos últimos anos em uma espécie de commodity, uma imensa fazenda de criação de jogadores para venda ao Exterior. É mais ou menos o mesmo que o nosso agronegócio, vendendo carne para o mundo inteiro. Agora vendemos carne de jogador de futebol. Qualquer torcedor mais ou menos informado sabe que nós estamos sendo enganados nas competições locais com jogadores do tipo série C, enquanto os de série A e B estão fora do país.

– Como se não bastasse termos jogadores de nível inferior atuando no país, temos também bandidos vestindo as camisas dos clubes. É gente que se vende para fabricar resultados que irão beneficiar uma máfia de apostadores que corrompem o futebol para enriquecer. Uma coisa vergonhosa.

– E o torcedor? A grande massa que enchia os estádios para cumprir a única missão de apoiar seus times, juntando trocados para pagar os ingressos, hoje é ignorada porque os estádios –ou arenas, como é moderno dizer–, se transformaram em uma espécie de palco para espetáculos caríssimos e a cada dia mais exclusivos de uma elite. Jogador de futebol já está parecendo pop star.

– E a Seleção Brasileira? Ora, o baiano gordinho foi feito de moleque pelo elegante Ancelotti, que deu um baile de quase um ano no país pentacampeão do mundo para, sem mais nem menos, renovar contrato com o seu clube, o Real Madrid. Errado o Ancelotti? Não. Errado o gordinho que tomou um baile e foi feito de bobo.

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– Os vexames da Seleção Brasileira terminam por aí? Não. Vamos falar da performance mais recente do “escrete canarinho”: seis jogos, com duas vitórias, um empate e três derrotas, tendo o novato Fernando Diniz à frente. Não bastasse isso, o gordinho coloca ponto final no “dinizismo” e faz coisa muito pior, chama, do nada, o treinador do São Paulo Futebol Clube, Dorival Júnior, para ser a bola da vez. E o bobão aceita. O pior é que o tricolor paulista, que está fazendo tudo certo há algum tempo para voltar a disputar títulos, ficou sem treinador da noite para o dia. E nem pode reclamar do gordinho porque “ordens são ordens”.

– Ao mesmo tempo que todo esse vexame acontece, o que seria nosso principal craque na Seleção Brasileira, é um exemplo de molecagem. Neymar e seu pai fazem o que querem, um manquitolando em um cruzeiro turístico desprezível, e o outro, como se soube nos últimos dias, sendo mais desprezível ainda ao pagar advogado e destinar cerca de R$ 800 mil para a defesa do jogador brasileiro Daniel Alves, que será julgado em breve por estupro cometido na Espanha. Formação de quadrilha?

O que mais falta para a total, completa e definitiva desmoralização do futebol brasileiro? Talvez falte uma canetada final da Fifa punindo a CBF pelos escândalos que tem protagonizado. Um escândalo tão grande que precisou do notório ministro do STF, Gilmar Mendes, meter o seu bedelho para reconduzir o baiano ao seu cargo. O que sempre foi decidido no campo, hoje se misturou à imundície que toma conta de alguns setores da vida brasileira.

A decadência é tão grande que até o velório do grande Zagallo, nesta semana, foi usado pelos coveiros que ocupam a CBF como uma oportunidade de desviar a atenção da crise que atinge o país do futebol.

Nesse ritmo, o Brasil não vai ganhar mais nada no futebol nos próximos anos. E, pior, em vez de merecer as editorias de esporte da imprensa, vai ocupar a cada dia mais o noticiário policial.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

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