Estamos vivendo em um mundo muito maluco mesmo. O mundo que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, baseado na reconstrução de tudo –instituições, países, economias, sonhos e realidades das pessoas, mesmo com seus acertos e erros–, acabou. Aquele mundo foi sepultado e, no seu lugar, está surgindo um outro, baseado na destruição e na intolerância. É neste novo mundo que Donald Trump, o 47º presidente dos Estados Unidos, pretende reinar.
Na semana passada, quando publiquei aqui neste SuperBairro o artigo “Trump e o futuro: depois não vá dizer que não sabia”, me baseei em declarações dele durante a longa e cansativa campanha eleitoral norte-americana. Ele falou sobre tudo e mais um pouco para ganhar corações e mentes ianques em seu projeto de voltar à cadeira –ou seria trono?– de presidente da nação mais poderosa do planeta.
Eleito, em eleição livre, democrática e justa, é bom que se diga, o grandalhão cabeludo tomou posse nesta segunda-feira (20). E quando se pensava que a realidade do segundo governo Trump seria mais amena do que suas promessas de campanha, acredite se quiser, o homem pisou ainda mais fundo no acelerador e mostrou, em um dia, que o mundo não será mais o mesmo, pelo menos nos próximos quatro anos.
Não vou repetir aqui todos os absurdos que o Donald –que não é o pato da Disney– cometeu em sua primeira sentada na cadeira presidencial. Vou me limitar a citar a retirada dos EUA da OMS, a Organização Mundial da Saúde. Parece uma sopa de letrinhas, mas o significado da rejeição de um país que sempre se pautou pelo conhecimento científico equivale a tirar o homem moderno de um confortável apartamento e jogá-lo em uma caverna pré-histórica.
No mesmo caminho, a transformação da fronteira com o México em uma zona militarizada, como se os dois países estivessem em guerra, tudo porque os Estados Unidos não conseguem desenvolver uma política mais eficiente para conter os imigrantes que entram pelo país vizinho, equivale a reviver o asqueroso Muro de Berlim, do qual a Humanidade demorou décadas para se livrar.
A lista de insanidades é longa e você, leitor, pode acompanhar tudo pela imprensa, pelo menos pelo que resta de imprensa livre e independente no mundo. Mas tome cuidado, porque se tentar compreender a realidade atual pelas redes sociais, você vai se desinformar. Em uma jogada que nem os mais loucos roteiristas de Hollywood poderiam imaginar, Trump juntou os bilionários que controlam X, Instagram e Facebook para, em nome de uma pretensa “liberdade de expressão”, abrir as portas do hospício para mentiras e ideias extremistas e medievais.
Há esperança? Não muita. Mas há um caminho a ser seguido se a gente se agarrar à máxima de que “para toda ação existe uma reação igual e oposta”, uma aplicação para a política da Terceira Lei de Newton. A reação deve ser rápida e vir do que sobrou do mundo que não é de Trump, ou seja, os países ainda soberanos e capazes de se defender.
A cada ação do maluco Trump deve vir uma reação cirúrgica. Saiu da OMS? Que o restante do mundo fortaleça ainda mais a OMS. Criou um Big Brother com as Big Techs? Que cada país faça a sua regulamentação desse setor e endureça a vida de quem está se colocando a serviço do projeto de poder global de Donald Trump. E por aí vai.
Essa reação mundial, certamente, colocará o planeta sob uma espécie de bomba relógio pronta a explodir. Mas a alternativa de não se fazer nada em nome de uma pretensa paz mundial é ainda pior, porque equivale a entregar a chave do planeta a um desequilibrado.
Quem poderá liderar essa reação ao novo “império do mal” que parece estar surgindo? Ideologias à parte, infelizmente a opção é o mundo livre se aproximar da China, um país que pratica restrições à liberdade no seu espaço interno. Porém, a China tem respeitado as convenções internacionais e, por incrível que pareça, tem se relacionado com o mundo de uma forma colaborativa e correta. Pelo menos até agora.
Outra barreira contra o trumpismo no poder é a Europa se soltar das amarras que a têm mantido presa aos Estados Unidos desde o final da Segunda Guerra e se opor às decisões mais estapafúrdias da “polícia do mundo”, como os EUA se tornaram conhecidos.
É claro que, quando se fala em reação mundial, não se fala em unanimidade. A extrema direita está avançando em muitos países e a tendência é que estes se alinhem automaticamente aos EUA. Fala-se em países em condições políticas e econômicas de exercer sua soberania.
A outra alternativa, caso nenhuma das anteriores dê certo, é contar com a ação do tempo. Isto mesmo, o tempo. Serão quatro anos tensos, mas caso ninguém aperte os botões nucleares que acabem com tudo antes da hora, estes quatro anos vão passar.
Espera-se que, durante esse período de Donald Trump no poder, a sociedade norte-americana vá acordando e percebendo a grande bobagem que fez nas urnas e, lá em 2030, se “God” assim o desejar, corrija a besteira. Enquanto isso, o Trump é de vocês. Quem pariu Trump que o embale…
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.