O refresco do joseense −de resto, do paulista em geral, como ironizam os cariocas− é passear nos shopping centers. Aceitamos sem medo. Em São José dos Campos é a melhor opção de lazer, pela população em geral e muito pelos LGBTQIAPN+, a salvo de agressões dos preconceituosos.
Não condeno, costumo acompanhar minha mulher e netos, gastando aqui e ali e comendo aqueles sanduíches de isopor, sem chiar. Encontro um banco ou poltrona e fico xeretando no celular. Isso quando não vou às livrarias procurar algo para ler, em meio a Harry Potters, autoajuda, biografias da Rita Lee e outras subliteraturas em vigor. O curioso é que os livros bons existem, mas eu já os tenho na maioria. Faço releituras.
Observei que os shoppings vivem cheios. Nas lojas, perguntará o leitor? Não. Elas geralmente estão vazias, sim nos corredores, que viraram uma reedição do footing, porém muito mais agradável, com um salvador ar condicionado. Com este supercalor, nada como entrar num shopping. Eu acho ótimo, não compro nada, mas me refresco, no sentido literal.
E os shoppings estão bonitos, todos eles, como o Center Vale, o Colinas, o Vale Sul, o Paraíso e mesmo os do Centro. São enfeites, árvores, Papai Noel beijando crianças que morrem de medo, luzinhas, toda a parafernália que compõe essa importada fantasia do Natal, admito certo encanto.
Décadas atrás, São José praticamente não tinha opção de comércio, você tinha de ir a São Paulo, pegar os ônibus do Pássaro Marrom −hoje de cor vermelha− ou gastar gasosa para comprar na Rua 25 de Março, o portal do inferno para os maridos.
Mais antigamente eram os armazéns, as vendinhas, encostava-se ao balcão seboso e pedia-se para o seu Zé, que recebia no dinheiro ou anotava na caderneta para pagamento no fim do mês.
Quando eu morava em São Paulo, anos 1950, ia diariamente à mercearia comprar pão e leite. Levava um galãozinho onde cabiam dois litros. Aproveitava para pegar um chiclete ou paçoquinha para mim e o merceeiro anotava. De vez em quando dizia:
− Ó menino, diz a tua mãe para vir aqui acertar comigo a caderneta!
Cara chato o portuga. Você não mexia em nenhum produto, era o atendente quem pegava na prateleira e lhe entregava. Só o armarinho dos doces era acessível.
Eu tinha um amiguinho que era malandro, surrupiava uns chicletes num zás-trás, na maior cara de pau! Hoje não tem nem jeito, existem câmeras de vigilância para todos os lados e apito na saída. Mesmo assim os ladrõezinhos são surpreendidos por seguranças brutos, que os levam para um quartinho e arrancam confissões. Ou ficam só na surra, principalmente nos menores. Só falta cortar as mãos.
Foi isso, aliás, que sugeriu a raivosa tia Filoca:
− Atenção, Zezinho. Não vá pegar o que não é seu como essa gentalha que mora aí em frente. Qualquer dia vão começar a decepar as mãos dos ladrões, no estilo muçulmano! Aí quero ver, bem feito!
Fiquei morrendo de medo, pelo amiguinho…
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.