Mario Benedetti
e se no crepúsculo
o sol era memória
já não me lembro
as religiões
não salvam / são apenas
um contratempo
o pior do eco
é quando diz as mesmas
barbaridades
tem poucas coisas
tão ensurdecedoras
como o silêncio
durante o sono
os amantes são fiéis
como animais
passam as nuvens
e o céu fica limpo
de toda culpa
as plantas ouvem
se a gente elogia
se tingem de verde
em todo idílio
uma boca é beijada
a outra beija
Mario Benedetti nasceu em Paso de los Toros (Uruguai) em1920 e faleceu em Montevidéu em 2009. Considerado o maior poeta uruguaio e um dos mais influentes da língua hispânica, foi poeta, escritor e ensaísta. Escreveu mais de 80 livros em sua trajetória. Foi jornalista por um longo período em sua vida.
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.