−− Fulano, se você quiser material elétrico encontra tudo lá na rua do Tarzan. Se não tiver o que precisa, você pode encontrar na Estrada Velha, ali na Vila Ema.
Para quem não está bem familiarizado com os costumes de São José dos Campos, vai estranhar um diálogo desses.
−− Tarzan? Não sabia que o homem-macaco tinha uma rua com o seu nome na cidade.
Não tem, é a rua Rubião Júnior, onde há um conhecido estabelecimento do conhecido Tarzan. Estrada Velha, por outro lado, era a antiga rodovia Rio–São Paulo, de 1928, superada em 1951 com a inauguração da rodovia Presidente Dutra e que nos trechos urbanos recebeu diversas denominações. Assim é que, entre outros segmentos, temos a avenida Heitor Villa-Lobos, na Vila Ema.
Curioso −mas divertido− como os joseenses, a exemplo do que ocorria nos primórdios da própria cidade e de resto nas demais cidades brasileiras, costumam falar das ruas e logradouros usando referências ou de um comércio notório ou de colégios conhecidos, de igrejas, instituições e pessoas, ao invés de se utilizar dos seus nomes oficiais.
Nesse passo, vemos as pessoas, principalmente as mais velhas, falando de rua do Paratodos (Coronel Monteiro), rua do Olavo Bilac (Francisco Paes), rua do Tarzan (Rubião Junior), Praça da Matriz (Praça Cônego João Guimarães).
Ou o tal Jardim do Gregório, jardineiro que transformou o grande descampado −o centenário Largo da Cadeia e Câmara− num jardim bonito, já na época Praça Afonso Pena, hoje frequentado à noite por mulheres de vida difícil.
Ou mesmo o Jardim da Preguiça (antigo Largo do Rosário), que no momento não tem jardim nem preguiça, a não ser daqueles que se sentam em seus bancos. Ah, o chamado agora de Praça do Sapo, na verdade foi sempre Jardim do Sapo, antigo Largo de Veridiana, com esse nome em virtude dos sapos do chafariz (Praça João Mendes). Nos últimos anos, temos o movimentado Calçadão, nada mais que a rua Sete de Setembro, antiga rua do Fogo.
Não adianta nem perguntar aos joseenses qual o preciso nome da via, pois no mais das vezes eles não sabem ou não se interessam em guardar de memória seus nomes oficiais.
Desta maneira, temos na chamada zona central da cidade, especificamente na região da antiga zona de tratamento de tuberculose, a rua do Vicentina Aranha (Engº Prudente Meirelles de Moraes), a rua do Tênis Clube (do antigo salão, rua Euclides Miragaia), a avenida do Parque Santos Dumont (Dr. Adhemar de Barros), a rua do Fórum antigo (Paulo Setúbal) e por aí vai.
Aliás, referindo-se a antigas denominações, normalmente populares, vemos que isso aconteceu no passado, de séculos, como a rua de Trás (avenida São José, antes, do Comércio). Alguns a chamam hoje de rua do Banhado, mais romântico, o principal cartão postal da cidade, ainda não bem resolvido o seu destino. Também a sempre lembrada rua dos Bambus, antes de se tornar a importante avenida Dr. Nélson D’Ávila, excepcional médico e homem público. A rua Direita, depois rua Quinze de Novembro, provavelmente a primeira rua da cidade. No mesmo passo, a rua do Matadouro, depois do Mercado e finalmente rua Siqueira Campos.
Já na antiga zona sanatorial, hoje bairros nobres, abrangidos pela zona central da cidade, o antigo Caminho do Serimbura virou a avenida Nove de Julho, desembocando justamente na rua do Serimbura, em demanda do córrego e bairro desse nome. A avenida Francisco José Longo originou-se do loteamento de terras da família Neme ou primos. O arruamento da avenida Dr. Adhemar de Barros se deu em virtude de parcelamento feito pela família de Vicente D´Olne de Barros. A Vila Jaci tinha o saudoso Costa Nunes como responsável. O Jardim Nova América, por Henrique da Cunha Pontes, sem esquecer-se do loteamento do coronel José Domingues de Vasconcelos.
Não sei mais qual o antigo nome da avenida São João, ou rua São João, em priscas eras. Parece ter sido o primeiro acesso a São José dos Campos por quem vinha da Capital, antes da rodovia Rio–São Paulo, de 1928. Era a muito velha Estrada Imperial. Iniciava-se logo atrás da linha da Estrada de Ferro Central do Brasil, que subia à cidade pela atual rua Brás Cubas. A Estrada Imperial ia em direção a São Paulo, seguindo pelas atuais avenidas São João e Cassiano Ricardo, atravessava a Dutra na altura do Jardim das Indústrias e arremetia em direção a Jacareí.
Para encerrar, lanço uma sugestão –certamente romântica e ingênua, além de impraticável–: por que não mudar os nomes das ruas e praças com as denominações escolhidas pelo povo, ainda que seja para homenagear alguém local? Não exatamente políticos, contudo eliminando pessoas que nada tiveram a ver com São José dos Campos, nem com o resto do país!
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.