− Não, senhor. “Tô Jon farou pra não cobrá!” E não cobrava mesmo o japonesinho simpático e sorridente. Eu havia acabado de comer um pastel de carne do seu João, o japonês –não chinês– da melhor pastelaria de São José dos Campos, na Rua Quinze de Novembro. Início dos anos 1970. Eu fiscal da Prefeitura, na companhia de um colega e amigo, a quem eu acompanhava para me divertir nas horas vagas.
Era o melhor pastel da cidade, o especial, ótimo, valia a pena. Ao lado a lojinha do Zé, irmão do Nabi, árabe esperto e extremamente simpático, não deixava você sair enquanto não comprava alguma coisa. Ia diminuindo, diminuindo o preço, parcelando, você acabava comprando. No fim era o preço real do produto, só que ele começava lá em cima, esperava você regatear.
Não ia mais à pastelaria justamente porque o bendito não cobrava, me sentia inibido por uma consciência ética. Só que o amigo, pessoa espirituosa e usando engraçado deboche e imitação perfeita, me fazia rir paca, como hoje se diz.
Íamos ao Mercado Municipal, também para tomar um café com bolinho caipira, o amigo gozador falando com os japoneses das bancas de verduras, imitando o falar do japonês no Brasil: — Ômmm, bom memo, non? É vinte dois cruzêro! O brajirero é brincalhon, non? — E o colega ia soltando aquela fala atrapalhada e incompreensível, mas com imensa semelhança de um japonês falando. Os próprios japoneses riam a mais não poder.
Maior respeito na banca da saudosa dona Aurora Kikko, pessoa magnífica, fiquei sabendo depois, senhora de cultura, lia aqueles livros em japonês, certamente sem chance do mesmo nível num país de língua totalmente diferente, hábitos estranhos. Porém todos os filhos se desenvolveram, tornaram-se doutores, pessoas de destaque. Primos também.
Era a mãe do advogado Iwao Kikko, joseense de coração, que galgou altos postos na administração pública municipal, mercê exclusivamente de seus méritos. Além de judoca faixa preta, um dos primeiros campeões revelados na cidade.
Desses sabores modestos, que guardo com carinho no coração porque são a expressão de uma cidade receptiva e calorosa, destaco que ao longo dos anos São José teve muitos bons outros sabores, aqui e ali. Quem não se delicia ainda com o pintado na brasa ou o camarão à grega do Vila Velha?
Comida chinesa, o Chinese House, ali da Avenida São João, frango xadrez, arroz chop suey, carne agridoce e bolinho primavera. De tempos em tempos volto lá para saborear. Dou sempre um pulo no Quiero, bar e restaurante do notório jogador de futebol, o joseense Casemiro. Lá no Urbanova, um belo filé a cavalo com fritas, regado a um chope gelado delicioso. E ainda tem um pequeno museu.
Comida a quilo, o Churrasquilo, imbatível pela qualidade e diversidade de pratos, em ambientes modernos, como o do Jardim Aquarius. Nessa faixa, contudo em nível muito mais chique, o tradicional Charme, há algum tempo na Avenida Paulo Becker, na Vila Adyana.
Muitos restaurantes e bares, para comer bem ou beber com petiscos gostosos, na Vila Ema, no Jardim Maringá, na Avenida Adhemar de Barros. Destaco o Capital do Vale, da Anchieta.
Árabe, o Al Badah, da Avenida Heitor Villa-Lobos, e também o bom Haruf da Avenida São João. E quem não se lembra da lanchonete Byblos, do Chico, na mesma avenida? Massas, a Cantina da Nena; churrasco, o Dom Carne da Avenida Barão do Rio Branco, no Jardim Esplanada. Sem contar o Barbaresco do Center Vale Shopping.
São muitos, o resto é gosto pessoal, há espaço para todos. Cuidado apenas para não engordar.
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.