Antonio Cicero
Largar o cobertor, a cama, o
medo, o terço, o quarto,
largar toda simbologia e religião;
largar o espírito, largar a alma,
abrir a porta principal e sair.
Esta é a única vida e contém inimaginável
beleza e dor.
Já o sol, as cores da terra e o
ar azul — o céu do dia —
mergulharam até a próxima aurora;
a noite está radiante
E Deus não existe nem faz falta.
Tudo é gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas,
o eterno silêncio dos espaços infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e
nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.
Antonio Cicero Correia Lima é compositor, poeta, crítico literário, filósofo e escritor. Nasceu no dia 6 de outubro de 1945, no Rio de Janeiro. Em 2017, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Escreve poesia desde jovem, mas seus poemas só apareceram para o grande público quando sua irmã, a cantora e compositora Marina Lima, passou a musicá-los. São suas canções como “Fullgás”, “Para Começar” e “À Francesa”, as duas primeiras em parceria com a irmã, e a última com Cláudio Zoli.
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.