Almoçando num restaurante a quilo ouço uma jovem conversando pelo celular. Não foi indiscrição, já que a moça falava alto e todos ao redor ouviam. “Mãe, estou bem, não é nada. Só uma coriza”, argumentava. A conversa seguiu e ela começou a alterar o tom de voz. “Eu já falei que não vou.”
Quem estava nas mesas próximas –mas nem tanto por causa do limite imposto pelo protocolo– não deixava de olhar para as reações da moça. Até então, parecia ser uma leve discussão sobre algum tema ameno, algum contratempo corriqueiro. Mas aí veio a frase que fez todos olharem pra figura. “Mãe, eu já falei: não vou tomar essa vacina. Tem gente morrendo. Não sou louca de me arriscar.”
A mãe deve ter argumentado que a vacina é segura e que a possibilidade de ter alguma reação grave é muito remota. Não adiantou. “E se for eu a escolhida? Não vou, não adianta falar”, encerrou a conversa, taxativa. Fiquei imaginando a cara da coitada da mãe tentando argumentar com a filha, sem sucesso.
A corrente negacionista agora chegou à campanha de vacinação contra a covid-19, apesar dos números comprovarem a eficácia da imunização em massa. As internações em UTIs têm caído dia a dia, assim como o número de mortes entre idosos, apesar dos índices ainda estarem altos. Isso tudo comprova que temos que manter os protocolos –usar máscara, higienizar as mãos, manter distanciamento, etc. E vacinar.
Na França, a reação ao anúncio do governo de que será exigido um passe sanitário para frequentar bares e restaurantes foi imediata. Quase dois milhões de pessoas correram para agendar a vacina. Talvez esse tipo de “incentivo” possa ser uma boa solução para atrair os incrédulos.
> Henrique Macedo é jornalista (MTb nº 29.028) e músico. Mora há 40 anos na Vila Ema.