Igreja Matriz de São José dos Campos. Foto / Claudio Vieira/PMSJC

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Mulher de carça comprida não pode assistir à missa!

Assim verberava, em quase toda missa e enfático, o nosso saudoso padre João, na Igreja da Matriz de São José dos Campos, como um bom sacerdote conservador da época, início dos anos 1960.

O padre João Marcondes Guimarães, posterior cônego, foi personalidade marcante e influente na cidade, por décadas, fez muita benemerência, criou as Casas dos Meninos e das Meninas, para abrigar órfãos. Realizava aquelas quermesses concorridas, primeiramente ao lado da Igreja da Matriz, depois no terreno onde tem as instalações dos Vicentinos, na Rua Sebastião Hummel. Finalmente no asilo Santo Antônio, na Rua Coronel Monteiro, ao lado do cemitério central, de deliciosos bolinhos caipiras e outros quitutes, quermesse por ocasião das festas juninas.

Nos dias de feriado religioso existiam outras festas e também procissões, como a de Corpus Christi, na Matriz, descendo pela Rua Quinze de Novembro aquele lindo tapete todo enfeitado pelos fiéis. Improvisavam com serragem, casca de ovos, flores, borra de café e outros materiais caseiros. E toca seguir a procissão, com andores e imagens imponentes, o padre à frente, seguido das irmandades, todos devidamente paramentados. O povo caminhava atrás, cantando e com velas acesas. As mulheres com véus, se não o padre esbravejava.

O ponto alto, nos domingos –como em outras igrejas–, era a missa das dez na Igreja da Matriz. Rezavam missas em outros horários, mas esta era especial, como sempre homens à esquerda, mulheres à direita, estas com véus, sem mangas cavadas. E ai das incautas que fossem de calça comprida.

Não que uns jovens não se distraíssem de sua fé e não iniciassem um flerte, de longe. Acredito que isto não acontecia, pelo menos não muito. Melhor que o fizessem no footing do sábado à noite, fechadas as ruas do Centro, ou nas não litúrgicas brincadeiras dançantes no salão da Associação Esportiva São José, ao lado da própria igreja.

APOIO / SUPERBAIRRO

Havia outras festas religiosas em outras paróquias e igrejas isoladas. A paróquia mais antiga e importante era a do bairro de Santana, aliás, o primeiro de São José, à beira do histórico Rio Paraíba do Sul. Em Santana, quem apascentava o rebanho católico com grande energia era o dinâmico padre Luiz Gonzaga Cavalheiro, que igualmente foi muito influente na região.

Já existia a paróquia de São Judas no Jardim Paulista, bem como a capela, agora o relicário e túmulo do quase santo padre Rodolfo Komórek, no Oratório Salesiano da Vila Ema. Hoje a Paróquia da Sagrada Família, com igreja espaçosa construída posteriormente e que conta com fiéis de toda a região.

Também a Igreja de São Dimas, capela ainda existente no local, no bairro do mesmo nome, fundada pelo padre Ascânio Brandão. Depois teve à frente por décadas o simpático padre Ernesto Cunha, falecido recentemente com mais de cem anos. Este padre foi quem construiu a Catedral Metropolitana, belo templo, que assim se tornou após a elevação de São José dos Campos a sede de bispado. Sempre teve quermesses concorridas, fazendo também o mesmo tradicional bolinho caipira.

No Sanatório Maria Imaculada, das irmãs dirigidas pela igualmente admirada madre Tereza de Jesus Eucarístico, havia capela e missas frequentadas pelo povo das imediações, na Rua Major Antônio Domingues. No CTA (atual DCTA), a capela militar era comandada pelo padre José Maria, capitão-capelão. Não havia mais igrejas, praticamente, além daquelas dos distritos de São Francisco Xavier e Eugênio de Melo, não se podendo falar ainda nas dos inúmeros bairros que surgiram a partir daquele momento.

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Nesse panorama religioso, não se pode esquecer as igrejas evangélicas, existentes desde muitos anos, como a Igreja Cristã Evangélica do Jardim da Preguiça (Praça Cônego Lima, com Coronel Monteiro).

Merece lembrança ainda o padre França, em cuja residência na Avenida João Guilhermino havia morado o nosso santo, ou quase isso, o venerável Padre Rodolfo Komórek, antes de se internar no então Sanatório Vicentina Aranha, onde faleceu em 1949.

Por derradeiro, o padre Cirilo Paes, muito simpático e popular, com militância política, tornando-se vereador e protagonizando curiosa disputa por assumir a cadeira de prefeito, naquele momento vaga. Em controvérsia institucional, sentia-se com direito a assumir a Prefeitura, comportando-se já como se fosse prefeito. Até ser afastado por intervenção judicial. Foi quando São José teve dois prefeitos, um deles padre!

 

José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

 

*Republicação. Crônica publicada originalmente no SuperBairro no dia 20 de julho de 2022.