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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

– Zé, vamos logo para a serenata, já são dez horas e temos de esquentar primeiro.

O amigo apareceu todo animado, de violão em punho, convidando para uma serenata naquela madrugada. Esquentar significava ensaiar alguma música e principalmente tomar umas e outras.

Isto se dava no ano de 1965, e a pacata São José dos Campos não vivia só de trabalho na indústria, no comércio e nas escolas. Ninguém é de ferro, precisava de música para aquele romantismo, tão em voga naqueles tempos, encanto algo perdido nos dias que se seguem.

Romantismo que se respirava, então, nos bailinhos, nos carnavais e até no footing da Rua Quinze de Novembro, aos sábados, lugar de flertes e passeios de mãos dadas. Esses bailes, no Tênis Clube, Clube de Campo Santa Rita, Associação ou no CTA, eram mágicos, pelo clima romântico e animado, com o Biriba Boys, Cid Cesar, Simonetti ou Sylvio Mazzuca. Quando não a Orquestra Tabajara ou a do Severino Araújo.

Quantos namoros e futuros casamentos não surgiram depois de um baile, depois de um show do Dick Farney e orquestra, de uma apresentação de Tito Madi?

Naquele salão rústico e acanhado do Tênis Clube aconteceu, por volta de 1964, um pequeno show de bossa nova, de jovens, com o já excelente cantor Luiz Antônio; Vani Almeida, Vicentinho Almeida, Quatá e Chuchu, no violão; Luiz Paulo Costa, o Alfredo “Dico”, Lirinha, Eriberto (pai do ator Eriberto Leão) e Vitório Faria, cantando; Edson Mello, Guilherme Almeida e Élbio Puccini (piano); José Ernesto Melo (guitarra), Otacílio e Ivan Simão (percussão) e outros. Foi um início para a modernidade,

Contudo, as serenatas eram o ponto alto da música romântica, tanto para quem delas participava, como para os que as ouviam. A vida seria muito pior se não tivéssemos momentos como esses em que a arte nos encanta e suaviza sofrimentos.

APOIO / SUPERBAIRRO

Merecem suave lembrança serenatas feitas à bela Lirinha, filha do também seresteiro Nelson Praça, da Vila Ema, ela mesma, além de musa, excelente cantora. Ou aquelas que se faziam para as irmãs Froes, na Francisco Paes, ou para as irmãs Lemos, na Rua Paraibuna. Ou ainda a alguma bonita moça do Jardim Esplanada. Os seresteiros eram a maioria daqueles do show citado no Tênis Clube.

Certo é que algumas vezes tinha um pai, um irmão ou marido zangado, digamos com pouca sensibilidade musical. A saída era debandar, rápido. Porém nunca incomodados pela polícia, nem muito menos por criminosos. Bons tempos.

O repertório, em parte da época anterior, dos anos 1930 aos 1950 do século 20. Canções românticas cantadas por Chico Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas. De outra parte, formado por cantores como Tito Madi, Dick Farney, Lúcio Alves, Sílvio Cesar e as modernas e suaves canções da época da bossa nova e entorno.

Você que nunca ouviu, de repente, às duas horas da madrugada, um bom violão romper o silêncio, mas com suavidade, às vezes uma flauta, uma clarineta e um cantor de bela voz executar “Duas Contas”, do Garoto, ou “Eu sei que vou te amar”, do Tom e Vinicius, certamente perdeu momentos mágicos, de intenso romantismo!

Nunca é tarde para voltarmos a nos encantar. No entanto, pergunto: será que poderemos reviver tais serenatas numa época de tanto radicalismo e intolerância, senão criminalidade?

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

 

*Republicação. Crônica publicada originalmente no SuperBairro no dia 26 de janeiro de 2022.

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