− Ei, Zé, eu já comprei os convites para o Baile do Aviador, no sábado. Vai ser com o Biriba Boys!
Corria o ano de 1967, eu com vinte anos, ia a esse baile, avisado por um amigo. Na verdade, havia combinado também com aquela colega de Clássico do Instituto de Educação João Cursino, que iria ser a minha mulher. O namoro nasceu naquela noite agradável desse baile, em outubro daquele ano. Dura cinquenta e quatros anos!
Naqueles anos 1960, em São José dos Campos, o clima era, desde alguns anos atrás, de boa musicalidade. O conjunto musical Biriba Boys, de Sérgio Weiss, reinava absoluto, cuja fama transcendeu a região do Vale do Paraíba, projetando-se em todo o estado e sul de Minas Gerais, senão no Brasil inteiro. Gravou oito álbuns de 1960 a 1969, foi à TV, realizou junto com o sucessor Brasília Modern Six mais de quatro mil bailes.
Seus integrantes, além do brilhante e criativo maestro Sérgio Weiss, dos teclados e da marimba, merecem lembrança, entre outros, Cid Cesar, Clemente, Jorginho Cursino, Ivan Mimessi, Celso, Wilson, Guilherme de Almeida, Otacílio, Jota Moraes e Palito. Além do excepcional cantor Luiz Antônio. Todos talentosos e que compunham uma banda inovadora, pelos trajes, informalidade e alegria, além de boa música. Um sucesso.
Isso já era fruto da fase iniciada pelas grandes bandas americanas, como a primordial orquestra de Glenn Miller, aquele do “Moonlight Serenade”, coincidindo com a grande ascensão do rádio, notadamente no período de guerra e pós Segunda Guerra Mundial.
No Brasil, multiplicaram-se as bandas e orquestras de música dançante. Daí os bailes românticos, fossem de formatura, fossem comemorativos, em São José dos Campos, o baile do Aviador –aquele citado inicialmente– bailes do Bicho, do Suéter, da Primavera e assim por diante. Eram importantes na época, todos os jovens de smoking ou roupa de baile. Lotavam o salão do H-13, no CTA (hoje DCTA), o ginásio da Associação (AESJC), o salão antigo do Tênis Clube, na Rua Euclides Miragaia, depois o novo, na Avenida Nove de Julho.
Além do Biriba, vinham à cidade as orquestras de São Paulo, como a do Simonetti ou do Sylvio Mazzuca. Também a Orquestra Tabajara e do Severino Araújo. Do próprio Biriba nasceu o Caçula, depois o Biribalanço e o bom Brasília Modern Six, já em substituição ao Biriba Boys.
Outro conjunto importante era o do Cid Cesar, concorrendo com o Biriba. Em Jacareí havia o Cry Babies, em Santa Branca o The Jets, tendo Taubaté lá sua banda, a OK.
Resultado dessa musicalidade, no influxo do bolero e, principalmente, da Bossa Nova e do seu entorno, foi o Primeiro Festival Sabiá de Ouro, de 1969, promovido pelo Conselho Municipal de Cultura (CMC), sob a batuta do professor Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro. Foi um sucesso, veio o apresentador Fausto Canova, participaram Roberto Wagner e Jota Moraes, Tião Silva, Luiz Paulo Costa, Vani Almeida, Fortunato Júnior, Edson e José Ernesto Mello, entre outros bons músicos, tendo um segundo festival em 1970.
No Tênis Clube, seguia animando o Conjunto Papai, de Edson Mello, tocando todos os domingos. Lá aconteceu em 1964 um interessante, embora improvisado, show de Bossa Nova, ao que se lembra, com a participação do Luiz Paulo Costa, Vani Almeida, Quatá, Edson Mello, Luiz Antônio, Lirinha, Eriberto Costa (pai do ator Eriberto Leão) e o Dico (Alfredo Pereira Neto).
Por fim, naquele final dos anos 1950 e sobretudo na década de 1960, encantavam as serenatas, hoje em desuso em face da criminalidade, entre outros motivos. Como era romântico chegar de madrugada, com violão e outro instrumento ocasional, e aquele cantar espalhar encanto a todos, com belas músicas. Duas apenas dão conta disso: “Duas Contas”, de Garoto, e “Eu sei que vou te amar”, de Tom e Vinicius de Moraes. Naquela São José ainda bucólica destacavam-se nesse mister os violonistas Quatá e Chuchu (José Roberto Pereira Rodrigues), Luiz Paulo Costa, Vitório Faria, Renatão (Renato Goffi) e o Dico, o bom professor Alfredo. A bela Lirinha, filha do também seresteiro Nelson Praça, da Vila Ema, além de musa, encantava a todos com sua voz maravilhosa.
As músicas da época ainda soam nos ouvidos de muita gente. Ao menos não no de Tia Filoca, que sempre pontificava nas sextas à noite:
− Já vai sair, Zezinho, de viola em punho, para atazanar o ouvido de gente dormindo? Já vai começar a zabumba!
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.
*Republicação. Crônica publicada originalmente no SuperBairro no dia 27 de julho de 2022.