− Zezinho, você já foi a uma festa junina aí em São José dos Campos? Eu vou chegar na próxima semana e quero comer aquele fantástico bolinho caipira!
Respondi à atenta e exigente tia Filoca dizendo ter ido sim, à festa junina na Paróquia da Sagrada Família, da Vila Ema, comido um monte de bolinho e tomado quentão, logo no primeiro dia.
Tinha estado na festa dos Vicentinos, pretendendo visitar a quermesse da igreja Nossa Senhora de Fátima e a catedral de São Dimas. Primeiramente até a mais tradicional, a do saudoso padre João, o Asilo Santo Antônio. Ali, na capela, fazer a trezena e −ninguém é de ferro− saborear aqueles bolinhos, cuscuzes, quentões, vinhos quentes, espetinhos, doces, quitutes deliciosos e típicos. Atrativos não só de São José, mas de todas as cidades do Vale do Paraíba.
No Brasil, o Nordeste pontua com festas estrondosas e riquíssimas, sendo atração turística. Aqui no Estado de São Paulo, a exemplo de outros estados, como a vizinha Minas Gerais, observa-se a tradição, não com tal grandiosidade, mas mantendo a autenticidade, quase como veio de Portugal. Este Vale tem muita tradição, basta ver que cada cidade disputa virtualmente a taça de confeccionar o melhor bolinho caipira.
O leitor há de convir −pergunte aos mais crescidinhos− que as festas juninas, Santo Antônio, São João e São Pedro, eram muito diferentes em décadas atrás, notadamente antes dos anos 1960. Não é que as festas de hoje não sejam boas, mas tais datas –mesmo durante este mês− eram celebradas em cada rua, em cada bairro, em cada vizinhança, até mesmo em cada família.
Explico. Era tudo mais difuso. Saía-se de casa e fazia uma fogueira na rua, ou no quintal, ou num dos inúmeros terrenos baldios e, pronto: cenário armado. Com a fogueira? Sim, a atrativa fogueira, descoberta pelo Homem em data perdida nos tempos, por um daqueles homo habilis, possíveis ancestrais. Bendita fogueira que espantou ursos, iluminou cavernas, aqueceu os brutos e serviu inicialmente para cozinhar as carnes duras, jogando o homo sapiens para esse futuro brilhante.
Brilhante? Não tanto, né?
Mas voltando à prosaica fogueira de São João, cada um fazia sua festa, sem prejuízo daquelas das igrejas. Montava a fogueirona, a garotada rodeava, assando a sua batata doce numa brasinha puxada. Cada um tinha a sua.
Havia acidentes? Sim.
Além da fogueira, todos usavam fogos de artifício, a começar pelas bombinhas que explodiam aqui e ali, até cabeças de nego que faziam um barulhão. Os meninos adoravam colocar debaixo de latas para vê-las subir aos céus, explodindo de alegria.
Busca-pés que corriam logo pelo chão, procurando uma perna incauta, chuveirinhos graciosos e coloridos. Vulcões, traques inofensivos, varinhas com chuvas de estrelinhas. Hoje a maioria é proibida e de fato implica em riscos.
A verdade é que as festas juninas eram generalizadas e muito mais divertidas. Cada qual fazia o seu próprio arraiá, com quitutes, doces, paçocas e pipocas, inclusive mesmo pau de sebo e mastro com bandeira da figura do São João menino, de cabelinhos encaracolados.
Voltei do meu devaneio pelo palpite inopinado da tia Filoca, de memória fenomenal para coisas tristes:
− Você fica aí lembrando coisas do passado, mas se esquece das tragédias. Lembra-se do fulano, coitado, que foi soltar um rojão de vara, daqueles grandões e barulhentos? O bendito colocou a vara em posição invertida. Em vez de subir, desceu. Estourou tudo nele, sofreu queimadura, queimou quem estava perto. Um horror, além do mico, como vocês dizem.
É, tia, mas que dá saudade do resto, dá…
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.