São José dos Campos em tempo de desconstrução

Ao mesmo tempo que engatou uma quarta ou quinta marcha para ganhar velocidade de cruzeiro antes de um sprint lá no final, a campanha eleitoral para prefeito em São José dos Campos vive um momento típico em qualquer campanha: a desconstrução da cidade.

Nunca o slogan “bom, bom mesmo é viver em São José” foi tão enxovalhado. Nos últimos dois ou três meses começou o festival de malhação de tudo o que se refere à administração pública do município. Nada funciona, nada presta, nada agrada.

É claro que esse movimento é feito pelos candidatos de oposição ao atual governo, ou seja, Eduardo Cury (PL), Dr. Elton (União), Wagner Balieiro (PT), Toninho Ferreira (PSTU) e Wilson Cabral (PDT). Solitário do outro lado, está o atual prefeito, Anderson Farias (PSD), que busca a reeleição e, por isso, tem a tarefa de defender o seu governo.

Cada opositor tem procurado bater no geral e, ao mesmo tempo, deixar um hematoma específico no lombo do atual governo. Vejamos:

Desconstruindo

– Cury – Quer fazer Anderson sangrar com a pecha de mau gestor na área das finanças. Ele e o ex-prefeito Emanuel Fernandes sustentam que o governo atual está gastando mais do que arrecada. O golpe, aparentemente, ainda não atingiu o eleitor como Cury pretende. Mas se os dois forem para o segundo turno, o tema tem tudo para dominar a campanha. O assunto já rendeu até direito de resposta [veja nota abaixo]. Cury também procura bombardear o transporte coletivo de Anderson/Felicio.

– Dr. Elton – Médico, ele tem batido na saúde, prometendo construir um hospital municipal em formato de edifício vertical. Também bate na história da transferência de dependentes químicos para tratamento em SJC, em um rombo nas contas do Instituto de Previdência do Servidor Municipal e no transporte público.

– Balieiro – Seu alvo principal é justamente o transporte coletivo, uma vez que foi secretário municipal de Transportes no governo petista de Carlinhos Almeida. Além de detonar o atual sistema, Balieiro vai mais fundo: promete tarifa zero na cidade. Se a ideia chegar ao povão, pode valer muitos votos na urna.

– Toninho – O “eterno” candidato não escolheu temas específicos, prefere botar seu bloco na rua cantando as virtudes do sistema socialista. Também encontra tempo para criticar a “saúde terceirizada”, defender mais regularização fundiária com implantação de infraestrutura e, assim como Wagner Balieiro, prometer tarifa zero no transporte.

– Cabral – O pedetista navega para dar o seu recado e chegar a um porto seguro. Quer transformar a educação de Anderson em piada de mau gosto. Também surfa nas águas turbulentas da crise climática, uma vez que é o único dos seis candidatos com perfil técnico na área.

Na defensiva

– Anderson – Como já era esperado, o atual prefeito recebe chumbo de todos os lados e tem que se defender e provar que ainda é “bom, bom mesmo” morar em São José. Tem sido bem-sucedido na segurança, na saúde –apesar do bombardeio pesado–, na mobilidade como um todo, no esporte e na manutenção geral da cidade. Seu barco está querendo fazer água nas finanças, na educação e no transporte coletivo. Procura ganhar fôlego e chegar com poucos arranhões no segundo turno para poder imitar Roberto Carlos e dizer: “daqui pra frente tudo vai ser diferente”.

PALANQUE

Na Justiça

A Justiça Eleitoral determinou a retirada da propaganda de Eduardo Cury de um conteúdo que acusa o prefeito Anderson Farias de não pagar contas da Prefeitura: “São quase 500 milhões de reais em calotes acumulados”, diz a mensagem sob um aviso de “comunicado importante”. Além de determinar a retirada da denúncia do ar, a Justiça deu 1 minuto de resposta para cada 30 segundos veiculados por Cury. Na sentença, a juíza Patricia Helena Feitosa Milani adota argumentação do promotor eleitoral, que diz: “O conteúdo questionado parece fazer proposital confusão entre dívida consolidada e atualizada, porém com pagamentos regulares, e dívida vencida e não paga, vulgarmente conhecida como calote”.

O bombardeio de Cury contra as finanças da atual administração inclui um depoimento do ex-prefeito Emanuel Fernandes –clique [aqui] para ver–, este não derrubado na Justiça, em que ele acusa Anderson de gastar mais do que arrecada.

A defesa de Cury

Em sua defesa, não aceita pela Justiça, a coligação de Cury afirmou que “as alegações de fake news são infundadas, a denúncia reflete dados públicos e reportagens amplamente divulgadas pela mídia local e regional”. E completou: “Inclusive, o termo ‘calote’ é utilizado pela própria imprensa para descrever a inadimplência da gestão do prefeito Anderson Farias”.

Argumentos pesados

Se faltava apenas agressão física no barraco em que se transformou a campanha para prefeito de São Paulo, não falta mais. O ogro José Luiz Datena (PSDB) deu uma cadeirada no cínico Pablo Marçal (PRTB) durante o debate da TV Cultura na noite desse domingo. O agressor foi expulso do debate, e o agredido –que não se cansa de agredir verbalmente os adversários nesta campanha–, correu para um leito de hospital para se comparar ao esfaqueado Bolsonaro e ao baleado Trump. Zorra total!

Criança não…

Já se sabe que em campanha eleitoral vale tudo. Mas fazer promessa para criança é um pouco demais. Foi o que fez o petista Wagner Balieiro, ao que parece durante um intervalo de gravação da sua propaganda eleitoral no Frei Galvão, região leste. No clima do “vou fazer” que toma conta da campanha, Balieiro discursou para o ingênuo público: “Eu vou fazer uma nova escola para o ensino médio, vamos criar um campo de futebol aqui pra turma jogar bola”, além de mais duas ou três promessas. Os garotinhos já devem estar até escolhendo os números das camisetas com que irão jogar no “campinho do tio Balieiro”. Tadinhos…

Clique [aqui] e veja o vídeo do promessômetro de Balieiro, agora no modo criança.

Família completa

Na sua luta quase insana em busca de um lugar no segundo turno, o Dr. Elton (União) faz de tudo, até convocar e exibir a família inteira. Depois de mostrar a mulher, os filhos e sua mãe, o candidato tem divulgado nos últimos dias a imagem de seu pai, que se identifica como piloto de avião. Se não decolar com ele, com quem mais?

TOQUE FINAL

“Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles”.

Ruy Barbosa

Jurista e diplomata brasileiro

*Texto atualizado às 16h15 do dia 16/9/24 após revisão ortográfica e de estilo.