Avenida Dr. Nélson D'Ávila. Foto / Pinterest

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Neste janeiro, andando pelas ruas desertas e sem veículos, parece que todo mundo sumiu –igrejas, restaurantes, shoppings e supermercados vazios–, acabei subindo a Avenida Dr. Nélson D´Ávila, principal de São José dos Campos. Não muito distante do Pontilhão da Dutra –era assim que chamávamos nas décadas de 1950-60– localizei o estabelecimento comercial onde primeiro aportei, de visita a esta boa cidade, vindo da Paulicéia Desvairada.  Desta maneira, conheci a hoje minha São José, pois sou cidadão oficial, com muito orgulho. Isto em julho de 1962.

Era a concessionária DKW (Auto Union-Audi) −os mais velhos lembram-se do tuc-tuc do motor a dois tempos− de que meu pai era diretor. Fabricava a Vemaguete e o Belcar, depois o sedan Fissore e o jipe Candango. Em janeiro de 1964 vim em definitivo, com a família. Logo me apaixonei pela cidade, tinha ainda dezesseis anos de idade.

Naquela primeira visita dormi com meu pai na própria Valmaq, como se chamava a firma, que ficava perto da Veibrás dos Davoli, em frente ao Posto do Michel Neme. A Veibrás era, então, concessionária da Willys Overland do Brasil, que fabricava o Aero Willys e a picape Rural Willys, depois a fábrica foi comprada pela Ford e a Veibrás passou a ser concessionária de outra marca: Chevrolet.

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Tudo me fascinava nesta então terra do Formigão do Vale, posteriormente virou Águia do Vale, o time do futebol. E o Esporte Clube São José se transformou, por mágica brasileira, em São José Esporte Clube, continuando a disputar, na mesma posição, o campeonato paulista, como se fosse a mesma pessoa jurídica. Prefiro não comentar.

Fiquei de cara surpreso, caipira da capital, com o footing da Rua XV de Novembro, onde os homens, muitos em alinhados ternos brancos de linho, as moças com aqueles vestidos rodados, subiam e desciam a rua, alguns rapazes ficavam encostados nas portas fechadas dos estabelecimentos comerciais, correndo solto o flerte. Para a moçada de hoje, explico: era uma olhadinha aqui, uma piscadela ali, começando um namoro tímido, levava tempo para segurar na mão. E tinha aquela figura do “segura vela”, parente que acompanhava os casais para vigiar o namoro.

São José era outra, mas quase igual nas férias atuais. Tudo vazio nas férias de julho e de fim de ano. Todo mundo descia para Caraguatatuba (Caraguá, como universalmente é chamada). Com os anos, outros destinos, como Ubatuba, incrível com suas cento e duas praias!  Campos do Jordão, mesmo no verão, de viagens de um dia, bate-e-volta, no velho fusquinha, pela Rodovia São José-Campos, a SP50, campeã mundial de curvas! Ainda o Distrito de São Francisco Xavier, a São José das Montanhas, na divisa com Minas Gerais, mas nestes dias o joseense sai para o mundo!

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A cidade, ora, ficava e fica vazia, mas tem os seus encantos na sua serenidade.  Antes algo tedioso, atualmente há atrativos modernos. Do lugar bom mesmo de viver fica ótimo, ao gosto dos sossegados. Melhor para circular, melhor para compras, melhor para ser atendido em bares e restaurantes, um lado bom para quem ficou e não saiu de férias, em suposto mico.  Porém, momento talvez adequado para recolocar pensamentos, projetos e cabeça no lugar. E recalcular despesas, em meio a boletos sem fim!

Segundo o saudoso professor, autor de livros de português e latim, mestre aclamado em direito e filosofia na USP, José Cretella Junior –foi professor do Direito daqui− os três encantos da vida são: ler, amar e viajar. Não necessariamente nessa ordem. Mesmo para aqueles que não viajaram, leiam e amem intensamente –a si mesmos, ao próximo e, aos que têm fé, sobretudo a Deus−, pois não se vive mais do que uma vez, segundo o poetinha Vinicius de Moraes!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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