Foto / Globo.TV/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Acordei um pouco assustado, já mais de sete e meia da manhã, fiquei cerca de meio minuto pensando qual dia estava. Era segunda-feira! Logo sosseguei, estava aposentado. Abri a janela e este sol entrou, como na música, com um azul que tive de pedir a Deus para ser menor. Dia lindo, mas numa segunda.

Reflita, segunda-feira é o pior dia da semana, principalmente logo cedo, quando tudo volta ao normal, trabalho, escola, tarefas para fazer, contas a pagar, enfim, cai-se na real, não há praia, churrasco, restaurante, almoço em família, futebol, shopping; ao contrário, só obrigação, nenhum direito.

Você reparou que segunda-feira é sempre dia de reunião com a chefia, novos planos da empresa e resolução de problemas do fim de semana? Se você está de mau humor, os outros também; parece que só o chefe está com a corda toda!

Aliás, segunda-feira é um nome que já está errado.  Esta lenga-lenga de dizer que o primeiro dia da semana é domingo não convence a absolutamente ninguém, que me perdoem argumentos históricos e religiosos. Para o mundo inteiro o primeiro dia da semana é a segunda, em que pese o paradoxo.

Na verdade, essa segunda-feira malvada, de resto, é o dia especial em que as pessoas iniciam um regime; deveria ser editada uma lei oficializando a segundona como o Dia do Regime. Na segunda a hora não passa, se arrasta tediosa, você ainda é obrigado a escutar as proezas e estoriazinhas de seus colegas sobre o final de semana.

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Isso me faz lembrar da conversa que tive com tia Filoca, no domingo passado, início da noite, a tevê ligada, volume baixo.  Lá pelas tantas, por falta de assunto perguntei de chofre: — Tia, você vai ainda à missa todos os domingos?

Ao que ela respondeu bem a seu estilo: — Não perco uma, Zezinho.  Ainda creio, mas imagine se eu iria perder de assistir aquelas namoradas do padre, todas sentadinhas nos primeiros bancos.

— Mas, tia, como é o seu domingo depois da missa? A tia continuou no seu modo característico: — Ora, meu filho, é como todo domingo, que nada mais é que uma pré-segunda-feira. De manhã tudo bem, tem missa ou dormir até acordar, como dizem na tevê. O almoço é o ponto alto, mas termina aí. A maioria empanturrada dorme até o fim de tarde. Ou se liga no futebol. Há quem prefira aqueles programas chatíssimos da tarde. É apenas o começo do pesadelo. O fato é que, quando se ouve aquela musiquinha tediosa do Fantástico, você sucumbe, é trágico.

Procurei atenuar: — Ora, tia Filoca, não é tanto assim. Depois que alguém me disse que na segunda-feira, logo de manhã, você deve pensar o seguinte: “estou no momento mais distante da próxima segunda”, passei a sentir certo conforto.

Tia Filoca não perdoou, na linguagem dela:

— Isso é completo desatino, meu querido. É desconhecer o nosso mecanismo de movimento. Trabalhamos em cima de previsão. Você prevê o passo antes dele ser dado, prevê a fala antes de pronunciá-la e assim por diante. E como nós gostamos de uma previsão de coisas boas, como uma praia, uma viagem, uma festa, da mesma maneira o final de semana. É um antegozo. E quando ele começa? Ora, já na sexta-feira sempre começou o meu e acho que de muita gente. No serviço você já pega leve, não é hora de descascar abacaxis. À noite da sexta, o final de semana já está rolando!  É o chopinho com os amigos, a balada, o jantarzinho íntimo, enfim, tudo que os jovens gostam. Então, se a sexta-feira antecipa o final de semana, o domingo por outro lado termina antes de acabar: é a segundona sendo antecipada!

— É, tia —falei já resignado— você tem razão. Mas aumenta aí o volume da tevê, porque eu já estou escutando aquela musiquinha do Fantástico!

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> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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