Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Wisława Szymborska

 

Ficaram tão sozinhos,

tão sem nenhuma palavra

e em tal desamor, que um milagre terão merecido —

um raio das altas nuvens, uma petrificação.

Dois milhões de cópias de mitos gregos antigos,

mas para ele e para ela não há salvação.

 

Se alguém ao menos parasse na porta

se algo, ainda que por instantes, surgisse, sumisse,

divertido, triste, de algum lugar, de lugar algum,

despertando o riso ou o medo, não importa.

 

Mas nada vai acontecer. Nenhuma inesperada

inverossimilhança. Como num drama burguês a ação

vai seguir até o fim o roteiro da separação,

e no céu nenhuma fenda será avistada.

 

Com a parede imóvel atrás,

um do outro compadecido,

detêm-se diante do espelho que traz

somente os reflexos conhecidos.

 

O reflexo de duas pessoas, nada mais.

A matéria está alerta.

Em seus tamanhos variados

na terra e no céu e pelos lados

vigia os destinos naturais

— como se de uma corça repentina neste quarto

devesse ruir o Universo.

 

Maria Wisława Anna Szymborska foi uma escritora polonesa premiada com o Nobel de literatura. Poetisa, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia, onde se formou em filologia polonesa e sociologia pela Universidade Jaguellonica. Nasceu em 2 de julho de 1923, em Kórnik, e morreu em 1º de fevereiro de 2012, em Cracóvia. Fonte: Wikipédia

PUBLICIDADE

> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.

 

PUBLICIDADE

 

PUBLICIDADE