Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Penso que o Facebook –caminho por onde passo de vez em quando–, virou zoeira, casa da mãe Joana.

Não faço ideia de como seja a casa da distinta senhora. Porém, toda vez que vou à rede de Mark Zuckerberg e encontro lá um saco de gatos, fico com a impressão de que dona Joana não me é estranha.

Nem de longe me ocorre comparar tal casa com a outra, malfalada, sempre alvo de preconceito (apesar do elo histórico). Colocar num mesmo balaio a zona do Facebook e o cabaré, onde as mulheres da vida ganham a vida desde que o mundo é mundo, não seria justo, nem honesto com as meretrizes.

Talvez o Facebook se pareça com outra zona. A do agrião! Jargão futebolístico criado pelo saudoso João Saldanha, trata-se do lugar no campo onde a grama é rala ou nem chega a nascer. Culpa de um pisoteio birrento de montoeira de jogadores na maior parte do jogo, uns querendo fazer o gol, outros tentando evitá-lo. Cismo que seja na pequena área, onde o perigo é constante para o goleiro e o menor vacilo pode ser fatal.

Ou, quem sabe, o Face guarde alguma semelhança com a divertida comédia dirigida por Hugo Carvana, de igual nome. O filme mostra a performance de três amigos bon-vivants, que, para não perderem o apartamento em que moram num bairro de classe média, estão decididos a voltar a trabalhar quando têm a ideia de dar um tombo na praça. É riso garantido!

Entre outras, a expressão popular casa da mãe Joana quer dizer lugar desorganizado, anárquico, em que predomina a confusão, o vale-tudo, onde manda quem grita mais alto. Agora, sim! Dá para fazer alguma analogia com a zona do Face.

A duras penas aprendi que nas ditas redes sociais não devo entrar em bola dividida. Não por falta de motivos, porque é só rolar a telinha para as lombrigas se assanharem. Jogo onde já fui xingado, tomei canelada, cusparada. Então, estou escolado.

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A barafunda que faz da mais popular rede social a casa da mãe Joana fica por conta da inflamável política. Triscou, buum?! Como o jogo é bruto e incivilizado, quem nele entra, sempre perde. São fotos, imagens, textos, meias verdades, falsas notícias, contrainformações, tudo produzido por profissionais bem pagos, muitas vezes, com dinheiro público. Lixo passado adiante por inocentes úteis; armadilhas. Quem não as ignora, cai.

Veja este exemplo que encontrei. Se você não viu, tente imaginar. Uma fila de burros (ou asnos, jumentos, jericos) diante de uma casa onde se lê na fachada “diretório do…”; e, completando a frase, a sigla do partido cujos simpatizantes o autor do post intencionava cutucar. Todos orelhudos, claro!

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A política é um terreno pantanoso e a seara aqui não é minha. Estou de enxerido. Portanto, para não arrumar enguiço com o meu colega Wagner Matheus, jornalista que no SB trata do tema com mais classe e sutileza, encerro reproduzindo trecho de um artigo publicado por Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo, há 23 anos.

“Um amigo próximo de um governador de São Paulo (biônico) lhe perguntou, certa vez, por que gostava tanto de ser governador. Resposta, de absoluta franqueza: ‘Você sabe lá o que é passar quatro anos sem precisar nem sequer pôr a mão na maçaneta da porta?’ (Porque sempre há um aspone incumbido de abrir e fechar portas para os governantes).”

No momento em que você lê este texto, um inimaginável número de gratuitos aduladores do que há de pior na política brasileira se engalfinha na casa da mãe Joana. São aspones invisíveis, abridores de porta. Sofrem da síndrome da maçaneta.

 

(Não deixe de ler na próxima semana A Santa do Pilão, último capítulo do conto que publico neste espaço.)

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.