A quarta-feira (21) parece ter sido uma espécie de largada oficial da corrida à Prefeitura de São José dos Campos. Os dois eventos que justificam essa percepção ocorreram quase ao mesmo tempo: o debate entre os candidatos –menos dois– pela TV Band Vale e a divulgação da pesquisa encomendada pelo jornal O Vale. Como diria Jack, o Estripador, vamos por partes:
Mudança no topo
A pesquisa divulgada pelo O Vale, realizada pelo instituto Ágili, de São Paulo, surpreendeu ao colocar, pela primeira vez desde a pré-campanha, os candidatos Eduardo Cury (PL) e Anderson Farias (PSD) em empate técnico, o primeiro com 30,30% e o segundo com 27,30% na consulta estimulada. Como a margem de erro é de 4%, fica registrado o empate técnico.
No segundo bloco, o levantamento apontou um segundo empate, com Dr. Elton (União) atingindo 11,30% das intenções e Wagner Balieiro (PT) chegando a 8%. Isto mostra que, neste momento, a “briga” pela terceira posição é acirrada.
Finalmente, o terceiro bloco reúne Toninho Ferreira (PSTU) com 1,7%, e Wilson Cabral (PDT) com 0,8%. Como Toninho é veterano nas disputas pela Prefeitura e Cabral é calouro, tudo indica que o segundo tem mais espaço para crescer nas intenções de voto.
Como se sabe, pesquisa eleitoral é uma fotografia do momento, mas aponta tendências importantes para a sequência da campanha. É o que os candidatos e seus marqueteiros devem estar analisando neste momento.
Debate bem-comportado
Parecia que o debate, marcado para a quase “madrugada” de 22h30 e terminando à 0h20 de quinta-feira, seria uma espécie de duelo entre os candidatos Anderson Farias (PSD) e Eduardo Cury (PL), com os demais candidatos em volta torcendo por um, por outro ou por nenhum deles.
No entanto, a nota enviada pela campanha de Cury à Band, por volta das 20h, misturou água no chope do evento. O candidato simplesmente desistiu do debate, alegando um blablabla qualquer. Ou seja, usou de uma estratégia, o que é compreensível. A questão é saber se a decisão foi acertada ou não.
No estúdio da TV, quatro candidatos –Anderson, Dr. Elton (União), Wagner Balieiro (PT) e Wilson Cabral (PDT)– fizeram um debate morno, porém ético e bem-comportado, o que já é uma boa notícia. O sexto candidato, Toninho Ferreira (PSOL), ficou de fora porque seu partido não tem a representação necessária no Congresso, segundo as regras do debate.
Com Eduardo Cury preferindo adiar o confronto com Anderson para mais à frente, o que se viu foi Anderson ser transformado em um alvo natural de todos os demais candidatos. E como as perguntas de candidato para candidato não podiam repetir os alvos, o primeiro a perguntar a Anderson eliminava a intenção dos demais.
Conclusões:
Anderson Farias
Quem apostou no nervosismo ou despreparo de Anderson –foi o primeiro debate da sua carreira política–, perdeu. O prefeito demonstrou estar bem ensaiado, com muitos números na cabeça e boas realizações para mostrar. Nem os pontos fracos do governo foram suficientes para colocar o prefeito em xeque. Como alvo do debate e na ausência de Cury, foi quem mais apareceu.
Dr. Elton
Quem apostou em um Dr. Elton com a mesma performance das redes sociais, onde é craque, viu um candidato um pouco inseguro e com dificuldade para transformar perguntas em ataques eficientes. Mesmo assim, demonstrou seriedade e elegância. Mas, se pretendia pressionar Anderson, o fato é que não olhou no retrovisor e acabou pressionado pelo petista Wagner Balieiro.
Wagner Balieiro
Teve um desempenho interessante como opositor a Anderson e Dr. Elton, com perguntas bem formuladas, embora tenha mostrado que a sua munição contra o governo atual não é lá essas coisas. Também fez questão de acentuar a possibilidade de uma parceria com o governo federal, caso seja eleito. “Sou o candidato do presidente Lula”, garantiu. No mais, foi poupado de defender o PT dos seus pontos fracos. Por enquanto.
Wilson Cabral
O professor do ITA foi a boa novidade do debate. Primeiro, porque acabou sendo a primeira opção para os demais candidatos dirigirem suas perguntas quando não queriam dar palco para adversários diretos. Cabral aproveitou e se saiu bem. Além disso, não poupou nenhum dos adversários, mostrando que não será “café com leite” na campanha.
RADAR
– Deus, sim – O único candidato a mencionar Deus no debate foi o Dr. Elton, como um aceno ao seu eleitor evangélico.
– Cury, não – Quanto ao ausente Eduardo Cury, foi esquecido durante todo o tempo, com duas exceções, com Wilson Cabral criticando a sua atitude e Wagner Balieiro revivendo a história do teatro invertido, ocorrida em um de seus governos.
– Momento Datena – No momento mais “pegado” do debate, Dr. Elton ficou próximo de um nocaute técnico aplicado por Balieiro quando o petista perguntou por que o atual deputado, quando vereador, votou a favor do desconto de 14% na aposentadoria dos servidores municipais para o instituto de previdência. E mais: por que Elton votou a favor do aumento do IPTU? O candidato do União murchou e protagonizou um “momento Datena” com uma súbita guagueira seguida de uma resposta evasiva.
– Zero? – Como ex-secretário de Transportes no governo petista de Carlinhos Almeida, Balieiro investiu no tema. Disse que os R$ 3 bilhões previstos pela Prefeitura para o novo sistema de transporte coletivo terão outro destino caso seja eleito: remodelação da frota e tarifa zero.
– Bolas difíceis – Se Anderson fosse um goleiro, teria que tentar espalmar para escanteio alguns ataques perigosos dos adversários. As principais críticas foram à ineficiência da ponte estaiada e da Linha Verde, educação com resultados modestos no Ideb, falta de transparência do governo, privatização do Parque da Cidade e deficiências do transporte coletivo.
– Exibindo os números – O candidato Dr. Elton foi o único que destacou as reuniões com a população para formular seu programa de governo. Disse que fez mais de 130 reuniões, onde ouviu cerca de 5.400 pessoas. As reuniões geraram uma publicação impressa com as propostas de Elton.
– Quantidade x qualidade – Wilson Cabral conseguiu transformar a educação em um dos temas mais presentes no debate. Ao criticar as notas dos estudantes joseenses no Ideb, disse que a educação em São José não pode ser tratada como uma questão quantitativa, precisa de resultados qualitativos.
– Nas redes – A impressão final do debate é que tudo não passou, para os candidatos, de uma oportunidade de gerar imagens e áudios interessantes que serão usados nas redes sociais, onde as campanhas devem estar apostando alto. Foi o que aconteceu. Horas depois do final do evento, imagens já ocupavam lugar de destaque no Instagram e Facebook dos concorrentes à Prefeitura. Ou seja, cada candidato produziu a sua própria versão dos melhores momentos.