Está todo mundo doido? Será que ainda existe alguma dúvida de que houve, no Brasil, uma tentativa de golpe de Estado? Alguém ainda acha que um grupo não planejou manter no poder um presidente –Jair Bolsonaro– que perdeu a eleição para Lula em 2022?
Antes que alguém pense que este texto é um manifesto de apoio ao PT e às esquerdas no Brasil, adianto que não. Este escriba –como dizia um antigo companheiro de profissão, o jornalista Dailor Varella– não tem lado quando se trata de analisar o quadro político. Minhas convicções pessoais estão muito bem guardadas e, acredite, não interferem nesse comentário.
O que a gente tem visto nos últimos dias é o relato de uma clara e inequívoca participação de um grupo de pessoas, incluindo neste grupo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em um plano para assumir o poder de forma ilegal depois da vitória nas urnas do candidato pelo Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva.
A vitória de Lula foi incontestável, assim como a lisura de todo o processo eleitoral do qual fizeram parte as urnas eletrônicas. Como já ficou claro, o funcionamento dessas urnas não pode ser contestado. Nunca “na história deste país” houve a comprovação de uma única denúncia de fraude eleitoral com o uso delas.
Disto isto, o que a gente conclui? Que os derrotados nas urnas eletrônicas –por muito pouca margem, é verdade–, resolveram contestar a validade de todo o processo eleitoral. Este foi o primeiro argumento furado para tentarem emplacar um golpe de Estado. Depois de tudo o que estamos acompanhando, ninguém mais pode ter dúvidas de que uma tentativa de golpe esteve em andamento depois da vitória de Lula nas urnas.
Aí você, com o sangue fervendo nas veias, vai comentar sobre o autor deste artigo: “Esse fdp é comunista e quer que o Brasil seja dominado pela esquerda mundial”. E eu vou responder a você: “Calma, respira fundo, não é nada disso”. Se quiser saber mais, vou dizer também que, não importa quem fosse o vencedor da eleição presidencial de 2022, este jornalista e cidadão se colocaria do lado da legalidade. Mesmo que a vitória fosse do golpista e autoritário Bolsonaro.
Outro leitor pode ir além ao acusar o presidente Lula de ilegítimo pelo fato de ter sido preso e condenado por crimes ligados a corrupção nos inquéritos da operação Lava Jato. Neste caso, tento ser o mais transparente possível e dizer que, com toda a certeza, houve corrupção nos governos petistas, porém os espertinhos que conduziram a Lava Jato, comandados pelo dublê de juiz e político Sérgio Moro, fizeram a maior m**da da história recente da política brasileira e, com isso, “absolveram” Lula e sua turma.
Outra questão controversa é a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) na condução dos processos envolvendo a política brasileira. É difícil compreender como, dentre onze ministros, tudo caia no colo do “carecão” Alexandre de Moraes. Embora este jornalista não veja uma tramoia flagrante para condenar Bolsonaro e seus asseclas, fica uma certa estranheza pelo fato desses processos não serem distribuídos a outros ministros. Menos ao “engavetador” Gilmar Mendes, pelo amor de Deus. O STF deveria ter mais sensibilidade em uma questão fundamental para os destinos do país.
Quanto aos acusados, incluídos generais do Exército Brasileiro e o próprio Bolsonaro, o ideal é que consigam bons advogados para brigar por eles nos processos a que terão de responder, em vez de ficarem de blablabla na imprensa como se o caso fosse uma bobagem qualquer. A coisa é muito séria.
O SuperBairro, do qual este jornalista é editor, poderia estar fazendo um carnaval diário sobre a tentativa de golpe de Estado –que foi clara e evidente– e todos os demais assuntos relacionados a ela. Mas preferimos adotar uma postura mais serena. Antes de acusar e condenar a quem quer que seja, o SuperBairro adota a opção de respeitar toda a tramitação desse caso e esperar pelo devido julgamento nas esferas legais.
Fica também uma sugestão para a população brasileira que, mais ou menos como uma final de Libertadores entre Botafogo e Atlético Mineiro, fica tomando partido e querendo fazer papel de juiz. Em vez de dar uma de torcedor, o cidadão deve esperar que os acusados se defendam e tenham um julgamento justo. Isso não é show.
Aguardar a decisão da Justiça é melhor que embarcar em bate-boca eterno que não leva a nada, a não ser a uma deterioração ainda maior do clima político brasileiro. Como diz o tal do Pablo Marçal, “relaxa…”.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.