“Eu fui às touradas em Madrid
Parratibum bum-bum, parratibum bum-bum
E quase não volto mais aqui pra ver Peri beijar Ceci
Parratibum bum-bum, parratibum bum-bum”
Touradas em Madrid – De João de Barro (Braguinha) e Alberto Ribeiro, interpretada por Almirante (Carnaval de 1938)
Quem, em sã consciência, iria imaginar uma arena de touros montada em plena praça Afonso Pena, centro de São José dos Campos?
Foi o que constatei no delicioso livro “Nossa Cidade de São José dos Campos”, do saudoso professor Jairo César de Siqueira. O escritor resgata a memória da cidade onde viveu entre 1917 e 1930. Entre “causos” curiosos e uma descrição minuciosa dos costumes da nossa então acanhada São José, Jairo detalha ainda o “quem era quem” entre as famílias da época.
Num desses episódios, Jairo conta que, de tempos em tempos, chegava à cidade um Circo de Touros, que era armado na atual praça Afonso Pena. O povo comparecia bem cedo para ocupar os melhores lugares na nossa “Plaza de Toros”, dando ares madrilenhos à nossa cidade.
“Primeiro adentravam ao picadeiro três toureiros em trajes próprios, com capas de seda brilhante, cobrindo coletes e calções de veludo, enfeitados com alamares, dragonas e tufos dourados…”, e segue a descrição nos mínimos detalhes. Imagine uma tourada no centro da cidade!
A tauromaquia, definida pelo dicionário da Real Academia Espanhola como a “arte de lidar com touros”, tem origem controversa. Já foi considerada uma arte trazida pelos muçulmanos no século VIII, mas estudos atuais sugerem que a tourada espanhola é mais antiga, resultado de diferentes tradições. Foram encontrados, por exemplo, registros de lutas com touros na época do Império Romano, por volta do século III a.C.
Hoje a tourada é alvo de críticas pela Europa, dentro da própria Espanha e em Portugal, onde o toureiro enfrenta o touro montado a cavalo. Entidades de proteção aos animais combatem fortemente esse tipo de espetáculo.
Por aqui, naqueles idos de 1920, o escritor explica como ocorriam as touradas. “Nunca mataram um touro em nossa cidade. Era proibido e era costume. A malvadez estava na enfiada de banderilhas pontudas no cachaço do touro e aquilo provocava na assistência um intenso desejo e grande esperança de ver, um dia, o touro acertar um dos banderilheiros, quadrilheiros ou toureiros.”
Diversão garantida para os moradores da cidade, que aguardavam ansiosos as touradas e os circos que rodavam o interior.
> Henrique Macedo é jornalista (MTb nº 29.028) e músico. Mora há 40 anos na Vila Ema.