Semana passada eu terminei a coluna dando três vivas para a Holanda, o primeiro país no mundo a não ter mais cães e gatos abandonados pelas ruas, provando que, quando existe vontade política, tudo é possível. Enquanto isso, no Brasil, país com animais abandonados por todos os cantos, os nossos vivas acabam sendo direcionados para as ONGs, institutos e protetores anônimos voltados para a causa animal, que passam a vida “catando” esses bichinhos descartados na intenção de abrigá-los até que encontrem um lar amoroso, o que nem sempre acontece.
Esses destemidos trabalhadores da causa animal –acredite– se recusam a passar o endereço de seus abrigos ou de suas casas, com medo de que se tornem ponto de desova de filhotes e abandono de animais adultos, amarrados em seus portões. Porque é isso o que acontece quando alguém sabe que o fulano cuida dos animaizinhos ou que tal entidade dá abrigo. Ao invés de ir até lá ajudar, as pessoas colaboram doando mais e mais animais.
Daniana Martins, 42 anos, é uma dessas protetoras que não divulga o endereço do seu Aubrigo da Tia Dani porque cansou de acordar com surpresas na sua porta –leia-se, caixas repletas de filhotes e, algumas vezes, com a mãe amarrada junto. Para impedir essas surpresas desagradáveis, Dani espalhou câmeras e avisos em volta da sua casa, onde também funciona o abrigo.
Hoje, o Aubrigo tem mais de 120 animais, cerca de 20 filhotes e outros 50 por fora, que recebem ajuda com ração. O custo desses animais passa dos R$ 7 mil reais/mês –incluindo ração, vacinas, vermífugos, castrações– e esse valor pode dobrar caso os resgatados necessitem de internação ou exames médicos.
Como a Tia Dani faz para pagar tudo isso? Uma boa pergunta que só quem tem muito amor pelos animais, como a Tia Dani, consegue responder. “A gente faz uma rifa atrás da outra, temos alguns poucos colaboradores fixos, e vamos pagando o que é mais urgente e fazendo parcerias com quem entende a nossa causa.”
Mas pra que fazer isso? Pra que ficar fedendo cachorro o dia inteiro? Deixa pra lá… eles se viram… que bobeira… é só cachorro…
Infelizmente, é isso o que passa na cabeça de muitas pessoas que não conseguem entender tamanha dedicação e carinho, e é nesse ponto que a Dani gostaria que o Poder Público batesse mais forte. Diz ela: “Se houvesse uma campanha maciça de conscientização contra o abandono, uma ampla divulgação sobre a adoção e sobre as responsabilidades em se ter um animal de estimação, com certeza os abrigos não estariam lotados”.
E esse é o mesmo pensamento da protetora Marilu Godoi, de 64 anos, que já passou metade da sua vida trabalhando na causa animal. Para ela, além dessa conscientização “é necessário que se faça uma castração em massa dos animais nas periferias da cidade”.
A sua dedicação à causa é tamanha que ela criou o Instituto Marilu Godoi, e saiba você que não se trata de um abrigo, mas de um grupo de voluntários que cuida dos animais abandonados em suas próprias casas, bancando as despesas do próprio bolso. Eita, que é dedicação demais dessa gente. Chega a emocionar. E além desses anjos voluntários, o Instituto tem parcerias com veterinários e comércios de produtos para pets.
Mas e quando a pessoa é sozinha e cuida de gatos –muitos–, como é que faz? Senta e chora? Nada disso, arregaça as mangas e bota a mão na massa, ou melhor, nos pelos. É o caso da arquiteta Rita de Almeida, de 56 anos, que começou cuidando de dois, três, cinco, dez gatos, e agora tem um gatil com cerca de 90 bichanos resgatados do abandono.
As despesas do lugar giram em torno de R$ 3 mil por mês, e além da sua mãe, que dá uma força, Rita consegue arrecadar uma parte desse valor junto aos amigos e o restante sai do próprio bolso. É ela que também cuida da limpeza, de levar e buscar os animais no veterinário e passar as noites em claro dando remédio para os que ficam doentes. Ou seja, é trabalho pra mais de metro, como diria o mineiro.
Mas Rita garante que não se arrepende em dedicar boa parte do seu tempo para melhorar a vida desses animais, e fecha o assunto com uma frase do famoso médium Chico Xavier: “se você não pode voltar atrás e fazer um novo começo, pode começar agora e fazer um novo fim”. Fica a dica.
É claro que a Rita gostaria que cada um deles tivesse um lar amoroso, e é nisso que ela vem trabalhando atualmente. “Tenho me empenhado muito nisso, mas sou muito criteriosa, na verdade chego a ser chata, porque faço uma entrevista onde pergunto absolutamente tudo sobre a vida da pessoa”.
E por que a Rita faz isso? Porque, infelizmente, houve quem adotasse um gato das suas mãos e ela ficou sabendo depois que ele estava sofrendo maus tratos. Enfim, quem é que aguenta a ignorância desse povo? Tirar o animal do abrigo para maltratar? Pois até com isso os protetores têm que se preocupar.
Não é só doar e ficar tranquilo, respirar aliviado pensando: “Aah, que bom! Agora sim ele vai ser feliz, vai ter amor!”.
Elas fazem a doação mediante entrevista e depois têm que ficar monitorando. Pedem vídeos do animal, acompanham a pessoa nas redes sociais, enfim, é um trabalho que não acaba quando termina, entendeu?
Então, se você está na dúvida se deve ou não ajudar um abrigo ou um instituto que cuida de animais abandonados, ou mesmo um protetor que trabalha nessa causa, saiba que a sua ajuda –seja ela de que forma for– é de extrema importância. É lógico que, se for ajudar com dinheiro, é sempre bom pesquisar um pouco mais sobre o lugar. E se for ajudar com trabalho, lembre-se sempre que você pode ser atacado: por muito amor e lambeijos de agradecimento.
E para encerrar essa coluna vamos dar três vivas para o amor que essas pessoas têm pelos animais, afinal, elas merecem: Viva! Viva! Viva!
Se você quer ajudar, entre em contato pelo Facebook:
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> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.