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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Vamos descer para Ubatuba? Perguntou a mulher.

Não sei, a resposta, vinte anos atrás, seria entusiasmada: − Claro, “simbora”. Hoje vou, mas perdi o mesmo ânimo e isto tem a ver não só com a realidade do Brasil de agora, como pela consequência do comportamento dos notáveis políticos da cidade do litoral.

Ubatuba, no litoral norte do Estado de São Paulo, é um verdadeiro paraíso. A natureza exuberante e intocada da Mata Atlântica debruçando por um litoral caprichosamente recortado, de muitas praias desertas. Bom acesso a muitas delas pela rodovia BR-101, outras só pelo mar, águas limpas, proximidade com os grandes e ricos centros do Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Há cerca de quatro anos, quando visitava o semelhante litoral de Santa Catarina, precisamente a praia da Ponta do Papagaio, no município de Palhoça, Grande Florianópolis, uma simpática anfitriã, durante uma conversa, revelou seu desconhecimento do litoral paulista. Imaginava que era curto –na verdade é mais extenso que o de Santa Catarina. E ficou boquiaberta com as cento e duas praias, mais vinte ilhas, só de Ubatuba. Que diria do restante do litoral, de Caraguatatuba, passando por Santos e Guarujá, a Cananéia e Ilha Comprida, sem falar na reserva de quinhentos anos de natureza intacta, a Juréia?

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Praticamente todas as praias eram desertas em Ubatuba, quando a conheci em 1963, à exceção de Iperoig, onde Anchieta escreveu na areia seu poema à Virgem, além de Itaguá e Perequê-Açu. As demais eram quase tão virgens, o acesso à belíssima –hoje saturada– praia do Tenório se fazia atravessando uma mata, como ocorre atualmente na bonita praia do Félix. Itamambuca, que deu o epíteto de Capital Mundial do Surfe a Ubatuba, nem se falava nela, pois não havia nem estrada.

Certo é que, com a BR-101, existem vários acessos a praias; muitas, porém, continuam isoladas por terra. Há loteamentos em várias delas, a ocupação aumentou muito, como é natural. Mas Ubatuba ao menos se preservou da fúria construtiva e antiecológica dos arranha-céus, criando há muitos anos um gabarito de altura máxima de quatro andares nos imóveis de frente para a praia.  Evitou a absurda situação de Camboriú, com torres imensas, chegando a fazer sombra na areia.

No entanto, como proprietário em Ubatuba há décadas, frequentador assíduo desse paraíso a perigo, pude observar consternado que um dos inimigos do município está em muitos dos seus próprios representantes políticos. De fato, observei desde muitos anos atrás, desde pelo menos a década de 1970, uma sucessão de maus prefeitos, talvez com exceções. O povo pode dizer muito melhor as figuras infelizes que pontificaram na Prefeitura e na Câmara.

Um deles, além de mau administrador, como de regra, deixou de atender, certa feita, o Antônio Ermírio de Moraes, do poderoso Grupo Votorantim, que iria fazer um grande empreendimento no Mangue Seco. Não foi nem recebido. Na atualidade, dizem que é a prefeita que não é encontrada na cidade.

O populismo parece ter feito escola e as obras e projetos são muitas vezes demagógicos, objetivando puramente as eleições. Promete-se obras para o povo, mas não se investe em infraestrutura. Ainda que o município não conte com o apoio maior dos governos estadual e federal, a verdade é que prefeitos e vereadores não conseguem enxergar a vocação turística da cidade. No mínimo, não agem como se soubessem.

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Se o quisessem, deveriam investir na formação de mão de obra do próprio local com vista à indústria do turismo −que inexiste−, atrair investidores com incentivos atraentes, buscar meios no Estado e na União, inclusive atrás da criação de legislação favorável, gastando em infraestrutura, sobretudo sanitária, contudo voltada para o turismo, que representaria um retorno para o povo carente de empregos.

Falo de Ubatuba como joseense, até porque esse Litoral Norte faz parte da vida dos moradores do Vale do Paraíba, é o que temos de praias, como Caraguá, São Sebastião, Ilhabela e, pode-se acrescentar, a Riviera de São Lourenço. É uma preocupação de todos da região.

Ubatuba, que era o local mais prestigiado do Litoral Norte paulista, mercê de sua beleza e grande extensão, hoje deixou as vizinhas Caraguá e São Sebastião tomarem a frente. Talvez seja a pior cidade entre elas, quando poderia ser até a melhor.

Acorda, Ubatuba!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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