O tempo voa. É impressionante como certas facilidades da vida moderna parecem recentes. Muitas, porém, já podem ser consideradas até meio ultrapassadas. Você já parou para pensar que o Facebook está entre nós, aqui no Brasil, há 14 anos? Pois é, a principal rede social do mundo foi criada em fevereiro de 2004, mas só chegou ao nosso país em 2008.
O WhatsApp, serviço de mensagens gratuito, está acessível aqui desde 2009, mesmo ano em que foi lançado nos Estados Unidos e virou unanimidade. Hoje, 96% dos brasileiros que possuem um smarthphone usam o WhatsApp.
Quanto ao Instagram, o preferido dos modernos, também não é tão novo assim. Foi criado pelos norte-americanos em outubro de 2010 e, em abril de 2012, estava disponível no Brasil.
Como você está vendo, os três queridinhos do nosso dia a dia estão com a gente há pelo menos 10 anos. Ou seja, já era tempo de a gente aprender a conviver com eles de uma forma mais amigável, não acha? Mas, na verdade, as redes sociais ainda são uma espécie de terra de ninguém, onde muita gente se dá bem, mas muita gente também quebra a cara.
Daí surgiu a ideia deste ligeiro manual contendo 10 regrinhas para você seguir e se dar bem nesses locais que você frequenta dezenas de vezes ao dia, seja para enviar mensagens, pesquisar algum assunto, bater papo ou simplesmente ver se alguém te procurou.
Então, vamos lá.
1 – Seu nome e foto de perfil – O nome é uma coisa básica, mas muita gente ainda erra na hora de criar o perfil ou conta e fica com uns nomes bem estranhos, do tipo “joãosilvasilva”, ou com nome do casal, tipo “valeriaeantoniosantos”, em que você fica sem saber se está falando com o marido, a mulher ou os dois juntos. Quanto à foto, muito cuidado. Menos é mais. Tem homem que achou legal a foto de bermudão e sem camisa que tirou no churrasco, ou a moça que tem um busto avantajado e decide que aquele é o seu melhor ângulo. Não esqueça que o seu perfil é visto pelos seus amigos e parentes, mas também pelo “mundo” inteiro, como seu patrão ou chefe, a professora dos seus filhos etc. Na dúvida, fique com o básico.
2 – Seu vocabulário – Lembre-se, redes sociais não são o melhor lugar para você esbanjar autenticidade. Então, nada de exagerar nas opiniões, na tal linguagem chula, nos palavrões. Hoje em dia, você é o que você posta e o que você escreve. A maioria dos seus “amigos” nas redes só irá te conhecer por elas, nunca pessoalmente. E é pelo modo como se comporta nelas que você será avaliado e julgado. Ah… e por favor, tente escrever corretamente, digite e revise antes de clicar o “enter”.
3 – O perfil é seu, mas é público – Tem gente que publica um absurdo no Face ou no Insta –a gente já os trata com intimidade, no diminutivo–, mas só quer elogios. Quando vem alguma resposta de que não gosta, sai com esta: “O perfil é meu e publico o que quiser, não admito que venham me ofender aqui, vão publicar no perfil de vocês”. Tolinho, não é assim que funciona. São redes sociais, lembra? O que você posta fica sujeito a reações de todo tipo, fique preparado. Ou então envie suas mensagens por e-mail somente para os seus mais chegados.
4 – Luto – Este é um tema delicadíssimo nas redes, mas não dá para deixar de falar nele. Sugestão: faça algumas perguntas a você mesmo antes de postar: a) “Esta pessoa é suficientemente próxima do meu convívio para merecer uma postagem tão ampla?” Ou seja, vale mesmo a pena postar um luto de um primo distante de quem ninguém ouviu falar? Por que não, neste caso, enviar a mensagem somente no WhatsApp? b) É preciso entrar em tantos detalhes sobre a morte do ente querido? Não, não é. Diga apenas quem faleceu, quando, onde foi, e as informações sobre velório e sepultamento. Causa-mortis é para patologistas. c) Você decidiu que deve postar uma mensagem de luto. Então, pelo amor de Deus, diga quem é que morreu e qual a sua ligação com a pessoa, se era parente, amigo etc. Ninguém merece ter que te dar os “meus sentimentos” sem saber qual é o motivo do seu luto. Em tempo: conte quantas mensagens de luto chegam até você por dia. É muito, não é?
5 – Rede social não é jogo de adivinhação – Mais ou menos na mesma linha do tópico anterior, evite ser enigmático, pouco claro ou até cruel. Exemplos: postar algo como “esta vida não vale nada mesmo”; ou “sua inveja não me atinge, vou vencer assim mesmo”; Ah, de novo, pelo amor de Deus: fica terminantemente proibido publicar uma foto sua em uma cama de hospital, ou do seu bracinho recebendo soro e… mais nada. Os “tontos” dos seus amigos vão ter que ficar postando: “e aí, o que aconteceu?”, “onde você está?”, “por Deus, o que houve?”, “fica calmo, tudo vai dar certo!”. Ninguém merece, né?
6 – Discussões – Volta a observação feita acima, rede social não é lugar para você demonstrar o quanto a sua personalidade é forte e o quanto o seu pavio é curto. Aí você avança o sinal, fala m…, ofende, é ofendido, diz que vai querer ter uma conversa pessoal, manda praquele lugar e, no final, mais calmo, sai com esta: “eu sou assim, autêntico, quem quiser gostar de mim…”. É uma pena ter que dizer, mas aí o estrago já foi feito e você já está “famoso” como pessoa barraqueira, mal-educada, descontrolada e especialista em palavrão.
7 – Você debatendo política? Credo… – Chegamos ao ponto alto –ou o mais baixo– deste minimanual: as discussões sobre política. Você não imagina o papel ridículo que faz quando tenta bater de frente com quem pensa diferente de você sobre política. Esta deveria ser considerada uma espécie de área “deep” das redes, um espaço, como o da internet, onde se faz tudo o que é proibido e desaconselhável. Fique sabendo que, sem um mínimo de equilíbrio, respeito e até autoestima, qualquer debate sobre política nas redes tem resultados trágicos para quase todos os participantes. É uma briga que não tem vencedores, todo mundo perde e sai com imagem de encrenqueiro. E fique esperto: neste ano eleitoral, até outubro, o clima vai esquentar muito mais. Pense onde você pretende encontrar a sua imagem e reputação de novembro em diante.
8 – Você não é irresistível – Isto acontece, creio eu, mais com homens do que com mulheres, mas tudo é possível. É o seguinte: você já passou dos 50, talvez dos 60, e recebe um convite para amizade de uma menina linda e charmosa, entre 15 e 19 anos, moradora em Porto Alegre, Canoas e outras cidades do sul do país. Calma, você não ficou lindíssimo da noite para o dia e nem ela acha que grisalhos são mais charmosos. Você está simplesmente caindo em um dos inúmeros golpes das redes sociais. A menina vai fazer contato com você, te conquistar e, quem sabe, conseguir até um “nude” seu. O passo seguinte é a “menininha” dar lugar a um golpista que vai tentar te extorquir.
9 – Cadê a privacidade? – Cuide mais da sua privacidade e a dos seus familiares. Esse exibicionismo tem duas vertentes: uma é mostrar tudo e mais um pouco, o que você come, o que você bebe, o que você compra, onde você vai, com quem você se encontra, o que está sentindo, os seus sonhos, as suas frustrações, enfim… a sua vida escancarada para todos, gente próxima de você e gente muito distante de você. A outra vertente é o lado perigoso disso tudo. Filhos expostos, bens exibidos, hábitos revelados… não preciso dizer mais nada, certo?
10 – Menos é mais – Finalmente, fica a sugestão. Nunca avance tanto nos seus contatos via redes sociais que você não possa recuar; nunca revele tanto que o torne alvo de desmoralização ou crimes; nunca invente um padrão de vida que você não tem; e, principalmente, nunca se esqueça de onde você está, em um “palco” no qual todos os holofotes do mundo podem, a qualquer momento, se voltar para –e contra– você.
Bem, é mais ou menos isto o que eu gostaria de propor como reflexão. É claro que eu procurei expor aqui situações-limite, acho que ninguém comete todos os erros aqui mencionados juntos, mas a minha intenção foi reunir comportamentos que chamam atenção e podem ser prejudiciais.
Rede social é uma conquista maravilhosa para facilitar as nossas vidas. Mas, como tudo o que existe, tem o lado positivo e o negativo. Tente ficar apenas com o primeiro. Eu, que também sou humano e falível, tento fazer o mesmo.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.