Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

António Victor Ramos Rosa

 

Um ponto – talvez um centro

em permanência de tranquilidade

para a noite inteira. Um ponto

extremo, interno. Um pequeníssimo ponto

invulnerável

de estabilidade total

– nascido como? – fruto do espaço limpo,

 

de aberta aderência nua ao ar,

de constância livre, desocupada,

do descanso de ser até ao fundo simples,

de completa entrega?

 

Um ponto nu inabitado branco

de intocável serenidade,

fixo como um nervo e imponderável,

de fim inicial,

ponto de respiração,

clareira de estar,

 

abertura central viva

praia de ser e nada

– mas apenas um ponto, um puro ponto

contra a noite inteira,

contra o frio,

contra a destruição.

 

Ponto de união

de paz coextensa à noite,

opaco e diáfono nó

do desenlace perfeito.

 

Nó de água

da água mais nua.

Ninho interno do espaço.

Pequena lua essencial

num horizonte de segura paz.

 

Ponto, em ti descanso,

certeza do mundo e de mim

em ti, dentro da noite,

atinjo o equilíbrio atual e puro.

 

Ponto, antes do início,

de ti a ti, em mim,

pulsação lisa e leve,

suave motor da terra,

a pacífica respiração do oásis.

 

Ponto

de universo fixado

onde atingi a consistência dócil

de permanecer entregue,

plenitude abrigada

na navegação noturna.

 

Um ponto vazio,

plenamente vazio.

 

António Vítor Ramos Rosa foi poeta, tradutor e desenhista português. Nasceu em 17 de outubro de 1924, em Faro (Portugal) e morreu em 23 de setembro de 2013, em Lisboa (Portugal).

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 > Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.

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