A primeira vez que pisei em um jornal foi em maio de 1974. Estufei o peito e disse comigo mesmo: “este cargo tem que ser meu”. E foi. Tornei-me, daquele dia em diante, um orgulhoso office-boy da Gazeta de São Bernardo, no ABC paulista.
O tempo passou muito rapidamente. Meses depois, já era um contato de publicidade e, pasmem, um dos dois revisores do jornal. Todas as quintas-feiras, com meros 16 anos de idade, passava a noite em uma velha e enorme gráfica de jornais na rua dos Italianos, no bairro do Bom Retiro, na Capital.
O “plano de carreira” no ABC foi bruscamente interrompido pela mudança para Caçapava, acompanhando minha família. Meu pai vinha ocupar um bom cargo –bom, não ótimo– na Volkswagen de Taubaté. E o destino me pegou novamente. Em outubro de 1975, liderado pelo lendário jornalista Flávio Nery, hoje aposentado merecidamente e vivendo no Conjunto 31 de Março, foi lançado o jornal Pop News, em uma Caçapava em que todos se conheciam pelo nome, família e apelido.
A estação seguinte da viagem teve passagem de um ano como editor do jornal interno da Engesa – Engenheiros Especializados, em meio a carros de combate e armamentos. Depois, um “estágio” especialíssimo com o também lendário jornalista Stipp Júnior, correspondente do Estadão na região e criador do Diário de Taubaté.
Como se vê, modorra e falta de emoções não faziam parte da realidade daqueles anos 70 e 80. Por isso, a chegada à “capital do Vale” foi vista por mim como uma grande vitória. No dia 8 de dezembro de 1977, aos 19 anos, desembarquei no maior jornal da região, o poderoso ValeParaibano, contratado como repórter B, cobrindo política desde o início.
Daí em diante, tudo correu ainda mais velozmente. Passagens pelo jornal Agora –que foi um dos mais respeitados do interior do país–, Gazeta da Cidade e um retorno ao ValeParaibano em 1982, onde cheguei, aos 24 anos, a chefiar a redação.
Nesses anos todos, entre 1978 e 1989, em alguns momentos acumulei o emprego local com a atividade mais emocionante para um jornalista de Interior naquela época: o cargo de correspondente, o cara que trabalhava como repórter para todas as editorias e enviava os textos para a sede do jornal.
Como correspondente, passei pelo Estadão em Taubaté, pela Folha de São Paulo e pelo Estadão em São José e, finalmente, pelo Diário Popular, em 1989, pelo qual pude cobrir toda a campanha eleitoral que elegeu o primeiro presidente pelo voto direto após o regime militar de 1964.
Ufa! Você ainda está aí? Obrigado. Vou ser mais rápido. Chegou a minha fase de “empresário” de comunicação. As aspas se explicam porque sempre me senti melhor mergulhado nas tarefas de redação, criação, atendimento a clientes, do que administrando uma empresa. Mas a Textual teve vida longa, 29 anos, atendendo empresas de grande porte. Pude, junto com a minha equipe, conquistar três prêmios nacionais da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), o mais importante prêmio do setor no país, para o nosso cliente Johnson & Johnson.
Como 29 anos não são 29 dias, cansei e parei com a Textual, em 2013. E começou um momento também especial na minha vida: o retorno aos veículos de comunicação. Reaprendi –ou tentei– a produzir jornalismo em jornais e sites. Passei pelo jornal O Vale e pelo portal Meon. Foi um ótimo aprendizado.
A sequência, que eu não esperava, me levou ao Poder Público. Depois de uma passagem de um ano como assessor de imprensa da Câmara de São José dos Campos, entre 1980 e 1981 –o primeiro jornalista a ocupar o cargo recém-criado– voltei para a Câmara, a convite, onde fiquei entre os anos de 2015 e 2016. Finalmente, também a convite, passei quase três anos na competente equipe de assessoria de comunicação da Prefeitura de São José dos Campos, entre 2018 e dezembro de 2020.
E aqui estou, agora, arranjando sarna para me coçar. Um novo projeto. Um projeto próprio que vai se juntar aos que encontrei tempo para criar durante estes 45 anos de carreira em redações. Criei a Folha de Caçapava, em 1978, que circulou durante mais de 10 anos tendo à frente meu ex-sócio Luciano Azevedo; criei o Jornal de Domingo, em 1986, que teve a ousadia de, por poucos meses, é verdade, circular com tiragem de 20 mil exemplares em uma São José que deveria ser a metade da atual; e criei, com circulação de apenas duas edições, mas com o mesmo amor, em 2006, o Fato Econômico, um jornal, como o nome dizia, dedicado a negócios, economia, tecnologia e “otras cositas más”.
Enfim, chegamos a este 23 de março de 2021. É o meu último projeto, prometo. (rss…) Até porque, na maratona de 42 km desta vida, já devo estar correndo, no mínimo, o quilômetro 35. E sempre pode aparecer um padre irlandês maluco para me tirar da corrida.
O SuperBairro começou a ser implantado em 2017. Comecei a publicar textos no Facebook e o passo seguinte seria o site. Porém, o convite para a Prefeitura fez com que eu adiasse o projeto, eram tarefas incompatíveis. Agora, não tem mais jeito: o SuperBairro está aí.
Este projeto nasce em um momento em que nunca a sociedade brasileira precisou tanto de informação correta, objetiva, bem apurada e, acima de tudo, honesta. Ainda vamos falar sobre isso aqui neste espaço, mas por enquanto fica o meu compromisso de que iremos perseguir o cumprimento de todas essas metas.
Conto para isto com o meu parceiro, amigo de fé, irmão camarada Isnar Teles, jornalista dos melhores. Vamos editar juntos o SuperBairro. E conto também com um time de colunistas formado por grandes jornalistas, cada um deles com pelo menos 20 anos de experiência nas costas.
Vai ser um projeto maduro demais? Envelhecido? Jamais. Você não sabe o que um jornalista é capaz de fazer quando está motivado. A idade cronológica desaparece e dá lugar a um profissional que escolhe a sua própria idade, aquela com a qual se sente melhor.
Sangue jovem, muito jovem, também vai estar no SuperBairro. Em breve, teremos repórteres cheios de gás querendo superar os velhinhos. Vai ser uma disputa deliciosa.
SuperBairro nasce modestamente, com os pés no chão, dando um passo de cada vez, sem pretensão de fazer fortuna, mas com o compromisso de fazer história.
Bem, este texto é para uma coluna, não para um livro. Peço desculpas pelo excesso, mas prometo agilidade e concisão nas próximas semanas. Por enquanto, convido você a compartilhar comigo a emoção deste momento. Nasce o SuperBairro. Viva o SuperBairro, viva a Jornalismo sério e independente.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.