Foto / Vana Allas

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Daqui a menos de dois meses completo 49 anos. Confesso que o assunto maternidade nunca me tocou tanto. Ainda faltam cerca de 15 dias para o Dia das Mães e eu já estou aqui a matutar e imaginar-me, mãe! Nossa, que estranho!

Por escolha própria não tive filhos. Principalmente por dois motivos: primeiro, meu pai sempre repetiu que “filhos devem ser pensados como cálculo matemático, se tiver condições de criá-los oferecendo o melhor, tenha-os. Do contrário, não jogue uma criança no mundo, sem condições de concorrer com outros nesta vida”.

Segundo motivo: achei que seria muita dedicação, dores físicas e emocionais; eu priorizei outras atividades e projetos. Ah… tem um terceiro motivo que vou abrir pra vocês, leitores… na verdade, nunca quis me perpetuar. Gerar uma pessoa que poderia ter meu jeito estranho de ser. É isso e ponto final!

Assim que me decidi, com uns 20 anos, li sobre o assunto, logicamente autores que validavam a minha certeza; e vida que segue. Seguiu. Eu, por todo esse tempo, pouco me questionei sobre a escolha. Sempre pensei:– Não sei cuidar nem de mim, direito! –e mudava o rumo da prosa.

Isto não quer dizer que não goste de crianças… se tiver um nenê, pode confiar em mim. Eu e as crianças normalmente nos damos muito bem! O único momento difícil da relação é o da troca da fralda! No mais, está tudo certo e é muito prazeroso.

Minha irmã, que ouviu os mesmos conselhos do meu pai a vida toda –creio que não apenas por este motivo–, teve o meu lindo sobrinho Lucas, com um ano e quatro meses; depois dos 40.

Com a chegada do Lulu, comecei a me sentir cutucada em diversas circunstâncias, a questionar se fiz a escolha certa. Ainda mais quem tem a oportunidade de criar seus filhos na região em que moro, dará uma vida de qualidade para seus rebentos!

Uma tarde, caminhando pela avenida Nove de Julho, vi algumas famílias com suas crianças, e até duas delas com nenês, ainda no carrinho. Era o momento de eles tomarem sol. Meu pai faz isso todas as tardes com meu sobrinho. O Lucas não fala ainda uma palavra, mas os dois já são muito amigos. Brincam e brigam o tempo todo!

E uma cutucada forte que me fez refletir fundo foi quando um pastor, Lucinho Barreto, da famosa igreja da Lagoinha, que gosto muito de ouvir, disse, quando perguntaram para ele se era errado não querer ter filhos. Ele respondeu: “Olha, se é pecado eu não tenho certeza, mas eu, pessoalmente, acho uma escolha egoísta. A pessoa não vai crescer e se multiplicar. Vai viver só para ela!”

Continuo neste assunto, até porque estou no climatério, época que precede a menopausa. Produzo muito pouco óvulo e, por consequência, rara chance de engravidar sem ajuda médica. Saber disso me deixa, tem horas, feliz; noutras, quase triste.

Mas, ok! Eu vejo no crescimento do meu sobrinho, em casa todos os dias, como é gostoso ter a companhia de uma criança. O ambiente fica leve, engraçado, unido. Mas também observo que minha irmã não dorme direito há mais de um ano e vive as demais consequências da maternidade, boas e ruins. Ela diz que tem sofrido, mas no fundo é a melhor produção de sua vida!

Aí eu penso na minha mãezinha que desde minha gestação sofreu comigo, no parto sofremos também –nasci de fórceps– e sofre por mim até hoje, quando eu saio de carro e demoro para chegar.

Ah, não! Deixa quieto. Essa coisa de ser mãe não é para mim não… Ficarei na dúvida cruel se “só as mães são felizes”, vou cuidar apenas da minha vida e aproveitar para brincar com crianças que aparecerem por perto. Lógico, com fralda trocada!

 

> Vana Allas é jornalista (MTb nº 26.615), licenciada em Letras (Língua Portuguesa) e pós-graduada em Filosofia da Comunicação. É autora do livro “Vale, Violões e Violas – Uma fotografia do Vale do Paraíba”. Mora na Vila Icaraí.